Por força de um regulamento elitista e excludente...

Imagem: Liechtenstein Fussball Verband

Rheinpark Stadium - Vaduz - Liechtenstein

- A CBF é o retrato do Brasil e como todo bom retrato, as imagens são nítidas e a paisagem clara e visível... Somos um país estranho, julgamos que o bem possa ser praticado por força do simples desejo ou por imposição das leis. O futebol não foge a essa loucura institucionalizada, a prova maior são os regulamentos dos nossos campeonatos. Terminada a fase classificatória da Série C, os oito “felizardos” logo se deparam com o Brasil que imagina ser grande e empurra goela adentro via legislação essa grandeza. Segundo a CBF e seu regulamento elitista e excludente, só podem ser disputadas partidas na fase final em estádios com capacidade para 10.000 espectadores. Seria cômico se já não fosse trágico. Vejam que a preocupação da CBF não é com conforto ou segurança, mas sim com capacidade. Por outro lado, o autor ou autores do tal regulamento mostra toda sua ignorância em relação ao país em que vive e a economia da maioria esmagadora dos municípios. Como uma cidade do interior vai poder construir estádios dessa magnitude se suas prefeituras vivem de pires na mão? Como exigir de um prefeito, um estádio para tal público se faltam recursos para coisas simples como saneamento básico? Como querer que a cidade de Barras, Catalão, Patos ou qualquer outra do mesmo porte, invista milhões em um estádio se essas cidades não conseguem manter nem um posto de saúde com um mínimo de qualidade? Pois a CBF acha que é possível, e quem não fizer o que prega seu regulamento está fora, ou melhor, terá que jogar fora. Ao invés de fortalecer o pequeno clube, sua cidade e homenagear sua gente, a CBF, os pune e pune a população. Proíbe que o homem simples de Barras possa juntar seus parcos trocados e sonhar no alambrado de seu campinho. Pune a direção do clube que investiu no sonho de ser grande, tirando do clube o direito de se apresentar para sua gente e beneficia os mais fortes. É ou não é o retrato do Brasil? Se não vejamos. Nosso país tem a mais perfeita lei de proteção à criança do mundo, mas essas crianças são filhas de pais abandonados. A lei diz que a criança tem direito a educação, mas nossas escolas são paupérrimas, diz que saúde é primordial para os pequeninos, mas nossos hospitais são caricaturas e nosso serviço médico é lamentável. Mas assim como a CBF, o Governo acredita que por força de uma lei as coisas irão se concretizar. Assim, clubes como o Nacional de Patos, o CRAC de Catalão e o Barras do Piauí, chegam ao octogonal final e já são punidos, não por terem cometido erros, mas por serem filhos de cidades pequenas. Nem a FIFA exige tal disparate nas eliminatórias da Copa do Mundo. As Ilhas Fär Öer, disputam seus jogos contra Itália, Alemanha, Inglaterra ou qualquer outro em seu estádio para 7.000 espectadores na capital Tórshavn. O Liechtenstein joga suas partidas no Rheinpark com capacidade para 6.127 espectadores. A diferença é que a UEFA e a FIFA exigem segurança, conforto e facilidades para o torcedor, mas ninguém é excluído ou obrigado a jogar fora de sua casa e longe de sua gente por ser pequeno ou por não ter condições de construir um gigante de pedra. Afinal, de que adiantaria um estádio com capacidade para 50.000 espectadores num país como o Liechtenstein, se sua população é de 34.521 habitantes.