- Recebi e publico, carta a mim endereçada pelo Professor Universitário Horácio Accioly sobre o falecimento de Luis Carlos Scala. A razão de publicar a carta é por se tratar de uma justa e sincera homenagem ao jogador e ao homem Scala, escrita por quem com ele conviveu. Horacio Accioly é desses homens raros que por sorte cruzamos na vida. Honesto, inteligente, diligente, integro, trabalhador incansável, perspicaz e dono de um coração enorme, Accioly é a meu ver a prova mais cabal de cegueira não só dos que pensam fazer esporte no Rio Grande do Norte, mas também dos que aqui detêm o poder. Conhecedor profundo da área de educação física, pesquisador reconhecido nacionalmente e competente formulador de projetos, o mestre paga o preço de sua imensa humildade e da oceânica falta de visão das pseudo elites esportivas e pseudo elites governantes...
Portanto ao publicar a carta do Professor Accioly, renovo minha homenagem a Scala e reafirmo minha eterna admiração por um Professor Doutor que nunca se distanciou da sociedade, recolhendo-se ao mundo das vertigens acadêmicas.
Caro amigo Fernando Amaral.
Mais uma vez, dou “pitaco” no seu excelente blog que, diga-se de passagem, leio todos os dias. Desta feita para homenagear Scala, meu atleta, quando da minha estada, por quase dois anos, naquela equipe poderosíssima do América de Natal, no início da década de 70.
Após tudo que já foi dito a respeito do grande jogador de futebol que foi Luis Carlos Scala Loureiro, gostaria de, na esteira das lembranças do seu convívio comigo e com todos nós outros norte-rio-grandenses, aludir a alguns fatos a seu respeito, que considero pertinentes, no momento em lhe prestamos homenagens pós-morte. Antes de tudo, parafraseio Gabriel Garcia Marques que, sabiamente, nos diz: A distância não mata os homens, mesmo quando separados por planos diferentes. Morremos quando somos esquecidos.
Sendo assim, aquele futebol elegante, preciso e eficaz de Scala; seu jeito calmo, mas firme, dento e fora do campo; seu comportamento, sempre digno e honesto com os dirigentes dos clubes por onde passou; com seus clientes na Costa Azul Imóveis e com seus ouvintes, nos comentários que fazia nas emissoras de rádio onde trabalhou, jamais poderão ser esquecidos.
Lembro e me orgulho de um elogio que me fez, quando lhe dei condições de jogo, pouco tempo depois de eu ter sido contratado pelo América, como preparador físico. Após algumas sessões de trabalho fisioterápico, utilizando-me de uma câmara de ar de bicicleta, sob o olhar desconfiado daquele atleta experiente, ex-seleção brasileira, mas que carregava uma lesão crônica no músculo adutor da coxa. Quando já havia se passado quase dois meses de sua liberação por parte do Departamento Médico do clube. A musculatura já bastante atrofiada, o temor de uma recidiva, até por sua idade e o desempenho do veterano Mário Braga, seu substituto, tudo isso o impedia de voltar a compor a zaga do América, tudo isso era para ele e para mim um grande desafio. Ao final do meu trabalho, após participar de todo o treino coletivo que o traria de volta ao time, se dirigiu a mim e me disse em tom sério, mas com a sinceridade que lhe era peculiar: “Professor, o Senhor conhece”. Foi a Glória para um jovem professor de Educação Física, em início de carreira.
Não me esqueço de seu comportamento nas concentrações. Isolado dos demais, sempre lendo um livro de contabilidade, curso que concluiu na FACEX, quando ainda era na Junqueira Aires. Um exemplo para aquele elenco de jovens futebolistas. É difícil esquecer a amizade que mantinha com Lambari, seu ex-atleta, no Alecrim, quando atuou como treinador.
Jamais me esquecerei de sua célebre frase, ao rebater o comentário agressivo que lhe fizera um colega de outra emissora, frase essa que balançou as estruturas de alguns comentaristas esportivos de Natal e que, até hoje, ecoa nos meus ouvidos. De forma categórica e honesta, em alto e bom som, disse Scala ao microfone: “a crônica esportiva do Rio Grande do Norte é embrionária”. Pergunto eu, agora: não teria ele razão? Até hoje, apesar dos três cursos de comunicação social existentes no RN, da janela que você, Fernando, abre no TVU Esporte para aqueles que desejam ser jornalistas esportivos em nossa terra, em fim, após trinta anos daquela afirmativa de Scala, torno a perguntar: será que o jornalismo esportivo do RN já está engatinhando?
Muito poderia falar do Scala, mas fico por aqui, pelo menos por enquanto, corroborando com Marques. Scala jamais morrerá, para os verdadeiros futebolistas do nosso Estado.
Um abraço do amigo
Accioly
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