Se não estou equivocado, todo mundo sabia que mais dia, menos dia, o Machadão cairia...
Todo mundo sabia, pois quando chegou a notícia que a Copa do Mundo para cá também viria, a cidade vibrou, transbordou de alegria...
E porque então, nada se fez?
Nem Wilma e nem Iberê...
Wilma nada disse, saiu silenciosa e sumiu...
Desapareceu entre as rosas vermelhas, repletas de borboletas.
Iberê, ainda prometeu dar alguma migalha, mas prometer e não cumprir faz parte da lógica dos homens públicos desse país...
Eles sabem que aqui, homem algum é capaz de colocá-los contra a parede e lhes cobrar os anos de boa vida, mesa farta, conversa fiada e o gozo de uma autoridade tão autoritária que nenhuma promessa não cumprida será cobrada...
No Brasil, o que não foi feito, porque nunca será, ficará no esquecimento do povo...
Ah povo brasileiro, tu és tão igual aos que elege que nada do que dizes, fede ou sequer cheira...
Por isso, eles foram embora e deixaram tudo para Rosalba resolver...
Ela resolveu: assinou a ordem de serviço que em cheio acerta o Machadão...
E, até aqui, não moveu um dedo sequer para remendar o buraco que a queda do Machadão vai deixar...
Nem sequer pensou em cerzir...
Tem razão a Doutora Rosalba, ela é médica e politica e, sendo assim, não sabe costurar.
Agora, o “Poema de Concreto” vai ao chão e com ele, submerso no cascalho, a história do futebol norte-rio-grandense...
Quem irá lamentar?
Ninguém certamente...
Não Fernando Amaral, não seja injusto...
Encontremos soluçando sobre os escombros, sob a consternação de alguns e o escárnio de muitos, o velho arquiteto Moacyr Gomes.
Mas e daí?
Não é primeira vez que a história da cidade será transformada em nada...
Pulverizada e esmagada para acolher o modernoso, o suntuoso e o dispendioso...
Aqui, o que não foi derrubado, foi esquecido...
Não é Juvenal Lamartine?
Quem ligou para o teu infortúnio?
Ninguém.
O primeiro estádio da cidade do sol, definhou, apodreceu, e jaz agonizante sem que nada lhe acuda, sem que sequer uma flor seja depositada diante de seus portões enferrujados...
Agoniza o estádio Juvenal Lamartine, como agonizam diariamente os doentes nos corredores dos nossos hospitais...
Agoniza o Juvenal Lamartine, como agoniza a escola pública e a paz das famílias que vem às ruas serem tomadas por meliantes encharcados de crack e cachaça, a tomar um celular, um carro, uma vida, por conta dos míseros cinco reais que os “comerciantes” do vício, cobram a luz do dia ou sob o manto da noite, pela pedrinha alucinante, que se alojou nos sapatos das autoridades e de lá, tão cedo sairá...
Mas a Copa vem aí, e tudo será diferente...
Tão diferente que poucos saberão onde e quando América e Alecrim vão jogar...
Como assim, há de perguntar alguém...
E eu, com um leve cinismo, responderei: vês a tua volta alguma arquibancada, tribuna de honra decorada, um campo verdinho e gente apinhada ao pé de uma bilheteria a comprar ingresso?
Claro que não vês, meu amigo...
Não vês porque nada foi feito...
E, nada se fará.
Entre o aqui e agora, e os anos que nos separam da Copa do Mundo, existe um hiato e talvez, seja nele que América e Alecrim disputem seus jogos...
Pois assim como os políticos, os dirigentes deixaram para lá...
E, se agora reclamam, o fazem para jogar para a plateia, pois há muito se sabia que o Machadão ruiria...
Mas deixa isso para lá, como disse Josef Blatter, a Copa é amanhã e os dirigentes e governantes da cidade do Natal, sempre confiaram que seria depois de amanhã.
Um comentário:
Olá Fernando Amaral,sou leitora assídua de seus comentários e admiradora de sua habilidade e capacidade de produzir textos qualificados nesse universo de tanta pobreza intelectual.Que bela crônica!Parabéns.Vilma
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