terça-feira, dezembro 20, 2011

O mundo não é tão difícil de entender, quando subimos numa cadeira e olhamos por sobre o muro que nos cerca... O texto é longo, mas repito: esse blog é feito para quem gosta de ler.



O texto de Ranyeri Maciel Vítor Medeiros, que não conheço, é bastante esclarecedor para aqueles que consideram qualquer conhecimento sobre o futebol europeu, perda de tempo...

Talvez por isso, sempre que são surpreendidos, nossos arrogantes analistas ficam tentando arrumar esfarrapadas desculpas para minimizar a trombada.

Ontem me preparava para escrever sobre o assunto, quando em meio às dezenas de pesquisas que me obrigo antes de começar, deparei-me com o texto de Ranyeri...

Foi um belo achado, poupou trabalho.

Com um texto bem escrito, objetivo, leve e refinado, Ranyery descreve com exatidão tudo o que aconteceu na capital da Catalunha desde a chegada de Rinus Michels até os dias de hoje.

Faço apenas uma correção:

O que o mundo viu em 1974, não foi programado para acontecer na Alemanha.

O processo começa em 1965, quando Michels assume o comando técnico do Ajax de Amsterdam.

Ali, começou a montagem do viria a ser conhecido como “Futebol Total”.

De 1965 até a estreia da Holanda no mundial de 1974, Michels venceu de forma consecutiva com o Ajax, quatro campeonatos holandeses, três copas da Holanda, sendo duas delas também de forma consecutiva e a Taça dos Campeões da Europa – hoje, Liga dos Campeões.

Em 1973 já no comando do Barcelona, Michels conquistou o Campeonato da Espanha da temporada 73/74.

Aproveito para acrescentar um dado importante ao texto de Ranyeri...

O local onde o Barcelona implantou a filosofia trazida por Michels, chama-se La Masia...

La Masia é o centro de treinamento que produz os jogadores que irão vestir a camisa azul/grená...

Foi para lá que Messi foi mandado quando chegou à Espanha e foi lá que Piquet, Cesc Fábregas, Xavi, Iniesta, Pedro, Valdés e tantos outros deram seus primeiros passos.

La Masia custa milhões de euros, mas poupa outros tantos milhões.

Talvez por isso, Josep Guardiola tenha ficado tão assustado diante da falta de informação de quem lhe perguntou se o nível econômico do futebol europeu era o diferencial sobre o brasileiro e, respondeu: o custo do Barcelona é zero.

Bem, meu caro leitor, fique agora com o excelente texto de Ranyeri Maciel Vítor Medeiros.


Barcelona: uma cultura e identidade de jogo


Por Ranyeri Maciel Vítor Medeiros.


Quem nunca brigou de bobinho jogando futebol? 

O bobinho é aquele que fica dentro de um círculo tentando tomar a bola dos outros participantes.

Como em um carrossel, as pessoas vão se mexendo de um lado para o outro até que o bobinho tome a bola ou peça, como falamos aqui em Natal, ARREGO. 

Este tipo de filosofia técnica, do bobinho, pôde ser vista (de forma mais atenta) pela primeira vez, em 1974. 

Durante a copa do Mundo, o técnico da Holanda, Rinus Michels, programou um sistema onde os jogadores não tinham posições definitivas. 

Havia inversões de jogadas e posições. 

O jogador que começava a partida pela direita, poderia muito bem terminá-la atuando na esquerda.

Os adversários ficavam como verdadeiros “bobinhos” tentando encaixar a marcação. 

Uma pena a Holanda não ter sido campeã daquela copa. 

No entanto, Michels, deixou essa filosofia viva e passou o segredo para o seu pupilo Johan Cruyff.

Cruyff foi treinado por Michels na Seleção Holandesa, Ajax e Barcelona. 

Ao assumir o comando do Barcelona em 1988, Cruyff tinha como meta adotar o esquema que não rendeu o título à seleção Holandesa, mas encheu os olhos do mundo com o estilo de jogo elegante, rápido e deslumbrante. 

O Barcelona foi conquistando cada vez mais espaço no cenário mundial e, assim como seu maior rival, o Real Madrid, tornou-se um dos clubes mais vitoriosos do mundo. 

Mas ainda faltava algo para completar a cereja do bolo de um esquema tático tão envolvente e diversificado. Faltava torná-la no Barcelona uma filosofia de jogo. 

Um estilo próprio que, quando todos olhassem, saberiam qual clube estava jogando.

Em 2008, Josep Guardiola assumiu o comando do clube. 

Pep, como é carinhosamente chamado, foi treinado por Cruyff no Barcelona. Mentira! 

Não somente treinado, como também teve o Holandês como seu mentor e principal motivador e incentivador no aprendizado tático e técnico do jogo. 

Pep encontrou o clube que vinha de dois anos seguidos sendo derrotado pelo Real Madrid e algo precisava ser feito. 

A primeira coisa foi a de possuir mais jogadores vindos das canteras (categorias de base) em seu time. 

Ele não queria apenas criar um time, ele queria muitos mais do que isso. 

Queria fazer do time um exemplo para a sua cidade e criar, através do futebol, uma identidade para o povo Catalão. 

Nascido em uma das Províncias de Barcelona, logo adotou um esquema que modificaria totalmente a sua equipe. Montou um 4-3-3. 

Mas esse esquema não era nenhuma novidade. 

Claro que não! 

O que o diferenciava era a forma como os jogadores se portavam em campo. 

Com a liderança e ajuda do capitão Puyol, Pep pôde colocar dentro da cabeça dos jogadores que eles não jogavam apenas pelo clube, mas também por toda a nação Catalã. 

Uma filosofia de jogo! 

Com um time rápido, com troca de passes envolvente e versatilidade nas posições dentro de campo, logo em seu primeiro ano no clube, ele venceu todos, eu disse TODOS os campeonatos dos quais disputou. 

As equipes montavam uma marcação especial para um determinado jogador, em uma determinada área. 

Mas isso não era possível. 

A troca de posições era intensa. 

O passe era preciso demais e a finalização certeira. Começava a nascer o Carrossel Blaugrana (azul e grená cores do clube).

Com esse estilo inovador adotado por Pep, as equipes começaram a buscar antídotos para bater o Barcelona. 

Uns conseguiram de forma sofrida, como a Inter (Itália) em 2010. 

Outros não conseguiram nem ao menos entender o que se passava dentro de campo. 

O time agora tinha uma identidade. 

A maioria dos titulares eram nascidos na Catalunha ou em Províncias perto da mesma. 

A identidade com a torcida era notória. 

O Barcelona começava a incomodar pela paciência com a posse de bola. 

Para uns, um estilo chato de se ver, para a maioria, uma revolução. 

É como dizem os Argentinos: toque y me voy (toca e passa). 

Quando todos pensavam que nada mais poderia ser “inventado”, eis que surge a variação tática dentro do próprio campo. 

O time começava em seu habitual 4-3-3. 

Mas dependendo do adversário, Pep logo passava e pedia que seus jogadores invertessem de posições para um 3-4-3, 4-4-2, etc. 

É lindo assistir ao Barcelona jogar. 

Para quem é amante do futebol como eu, é de fazer dar boas gargalhadas dos bobinhos que se tornam os adversários quando o Barça possui a bola.

O maior exemplo disso ocorreu no último sábado (10/12/2011) durante o clássico contra o Real Madrid, jogo realizado em Madrid. 

O time começou no 4-3-3. 

Tomou um gol com 30 segundos. 

Muda tudo, agora é 3-4-3. 

Quando conseguiu empatar o jogo, mudou novamente, 4-4-2. 

A marcação do adversário simplesmente se perdia. 

Dos 11 titulares, 8 foram formados nas Canteras do clube. 

Pep não aperfeiçoou apenas um esquema que veio desde os tempos de Michels e passou pelo Cruyff. 

Ele tornou o clube, os jogadores, verdadeiras identidades da Catalunha. 

E o bobinho que antes era apenas uma brincadeira, agora ficou encarnado dentro de campo. 

Basta assistir aos jogos do Barcelona.



Um comentário:

MÚSICA F. C. ! A VOZ DAS ARQUIBANCADAS. disse...

Vou levar tais letras para o BLOG Música do Gol.

O texto de Ranyeri Maciel Vítor Medeiros ( + os esclarecimentos do Fernando Amaral ) torna a leitura imperativa.

Cordialmente,
José Leonardo
DO BLOG
www.musicadogol.blogspot.com