sábado, dezembro 10, 2011

Reminiscências de uma caminhada de 56 anos...



Segundo minha certidão de nascimento, o relógio marcava 0 hora e 30 minutos do dia 10 de dezembro de 1955, quando deixei o confortável e seguro invólucro onde permaneci guardado por nove meses no interior do corpo de minha mãe...

Por sorte, não restou nenhuma lembrança dos primeiros segundos, onde uma palmada me fez chorar, abriu meus pulmões e me revelou a luz...

Certamente não seriam boas lembranças.

Por azar, também não restou nenhuma lembrança do aconchego nos braços de minha mãe, da maciez de seus seios, do infinito prazer de suas mãos a me acariciar e da alegria imensa que devo ter sentido quando seus olhos marejados e cheios de ternura encontraram os meus...

Por certo, seriam doces lembranças.

Hoje, completo, 56 anos...

Olho para trás e sinto saudade da minha infância e dos anos dourados de minha adolescência...

Contos os muitos dias ensolarados, azuis e felizes...

Conto também, alguns dias tempestuosos, amedrontadores e opressivos.

Contos os muitos que conheci e os poucos que chamei de amigos, mas curiosamente, não conto nenhum por quem tenha sentido ódio.

Relembro os sonhos que o vento dissipou e os que consegui realizar...

Penso nas coisas que não fiz, por medo, por preguiça ou por ser arrogante demais...

Penso nas coisas que fiz e me sinto feliz por tê-las feito, mas devo confessar que algumas, ainda me causam arrepios, pois foram tão irresponsáveis e temerárias, que poderiam ter me impedido de aqui estar.

Mas cá estou e não me envergonho de nada...

Se não amealhei dinheiro, se não me tornei célebre e não conquistei poder, posso perfeitamente explicar...

Em alguns momentos me faltou gana, em outros, preferi manter princípios...

Foi melhor assim, meu telhado hoje, tem mais telhas que vidros e, portanto, dificilmente, uma pedra irá estilhaçá-lo.

Honrei o nome de meus antepassados, de meu pai e de minha mãe e acima de tudo, busquei manter honrado meu nome, para que meu filho e agora, minhas netas, possam caminhar sob o sol com a cabeça erguida.

Chego aos 56 anos, grato aos tantos que me estenderam as mãos...

Alguns, talvez muitos, nem saibam ou nem lembrem, mas eu me lembro de cada um.

Por falar nisso, aqui, agora e só com meus pensamentos, me ocorreu um fato interessante...

Nunca fui um conquistador, um garanhão, um colecionador de mulheres...

Nunca fiquei...

Sempre amei.

Sempre me extasiei a cada novo encontro e sempre sofri desesperadamente a cada perda...

Não tive as tantas mulheres que muitos dos meus amigos e companheiros de estrada ainda hoje se gabam...

Mas me gabo ao dizer a eles, que das poucas que tive, ainda guardo o rosto e sei o nome.

Minhas mulheres não foram raparigas de noites de festas e nem dos dias ociosos...

Foram sim, meninas doces, ternas e bonitas, que me fizeram sentir na plenitude o prazer de ser macho e homem...

Nenhuma delas passou em minha vida; todas deixaram seu cheiro, seu gosto, seus rostos, seus nomes e uma serena saudade.

Chego aos 56 anos ainda as amando...

Não com a paixão e a volúpia dos anos idos, mas com ternura e gratidão...

Sem elas, eu jamais teria descoberto o prazer e aprendido a sofrer.

Pois bem, o relógio agora, marca 0 hora e 30 minutos...

Minha mãe já não está aqui para me abraçar e nem meu pai para sair proclamando aos quatro ventos ser eu um varão.

Chequei enfim  ao planalto de minha vida e caminho agora para o declive que me levará ao ponto final de minha estada no planeta...

Como é bom poder chegar aqui sem nenhuma sacola de mágoa, sem nenhuma mochila de rancor ou mala repleta de ódio e recalque...

Como é bom olhar para trás e não sentir vergonha...

Como bom olhar para frente e saber que ao fim da estrada, poderei deitar minha cabeça no colo da morte e antes da escuridão poder suspirar e dizer baixinho: valeu a pena ter passado por aqui.


Um comentário:

MÚSICA F. C. ! A VOZ DAS ARQUIBANCADAS. disse...

Parabéns Fernando Amaral ! Não apenas ao professor e blogueiro, bem como ao estadista do futebol.

Cordialmente,

José Leonardo
DO BLOG
Musica do Gol