sábado, setembro 14, 2013

Alguns boleiros deveriam ler e refletir...

Imagem: Autor Desconhecido


Em Portugal, o Campeonato Nacional de Sêniores foi criado este ano para substituir os antigos campeonatos da II Divisão e III Divisão Nacional...

Diferente do Brasil, a Primeira Liga ou Liga Zon Sagres, representa a primeira divisão de Portugal e Segunda Liga ou Liga 2 Cabovisão, representa a segunda divisão...

Na Primeira e na Segunda Liga, estão os clubes profissionais.

O atual Campeonato Nacional de Sêniores, é o primeiro nível do futebol não profissional lusitano e é organizado da seguinte forma:

80 clubes divididos em 8 Séries de 10 clubes, disputam em turno e returno as duas vagas que cada Série tem direito...

As 16 equipes classificadas são divididas em 2 grupos de 8 equipes e as duas primeiras ascendem imediatamente para a Segunda Liga ou Liga 2 Cabovisão...

Os dois segundos classificados da segunda fase, disputam entre si em jogos de ida e volta quem irá preencher a terceira vaga da Segunda Liga.

O decesso é decidido da seguinte forma:

As 6 equipes de Série não classificadas na primeira fase, são reunidas em grupos em 8 grupos de 8 equipes e o 7º e 8º classificados caem direto para os Campeonatos Distritais, que no Brasil representariam os Estados...

Os 6º colocados de cada um dos 8 grupos, disputam uma eliminatória com jogos de ida e volta para decidir quem serão os outros quatros rebaixados.

Bom, a explicação é para situar o leitor na história que agora vou contar:

Seu clube é Sport Clube Freamunde da freguesia de Freamunde em Portugal...

O Freamunde está inserido na Série C do Campeonato Nacional de Sêniores...

Seu salário no Freamunde, clube amador, é de 700 euros por mês...

Seu país de origem é a Guiné-Bissau...

Sua idade, 22 anos...

Seu nome é Ansumane Fati...

Sua posição, atacante.

E a história de Ansumane que vou contar.

Sua carreira começou no Benfica de Bissau, mas aos 15 anos, Ansumane se transferiu para a academia do Sporting de Lisboa e lá, ficou por três meses...

Antes de chegar a Lisboa, a vida de Ansumane era incerta.

"Eu ia para a escola sem comer, ia treinar sem comer, jogávamos com bolas improvisadas ou com o que havia, mas essa é a nossa realidade, é pobreza mesmo”.

"A vida obrigou-me a ser adulto antes da hora. Mesmo na Guiné, por causa do meu pai, que era doente, tinha que ajudar e trabalhava muito com o meu irmão em ferro, carpintaria ou no que aparecesse”.

Hoje, depois de passar pelo Candal, Nogueirense e Ribeirão, Ansumane ainda luta para se firmar como jogador de futebol...

Para ele, não é só um sonho, é uma necessidade...

Na Guiné-Bissau, 39 pessoas comem graças a metade de seu salário que todo mês é enviado para sua mãe, Sona Fati, de 48 anos.

Segundo um de seus irmãos, Mussa Seide, de 32 anos, diz:

“Precisamos de muito apoio dele e é por isso que pedimos a deus para o ajudar na carreira”.

“Na família, salvo um ou outro biscate, ninguém tem um trabalho estável e Ansumane «é o único» que pode os ajudar financeiramente. Se um dia ele deixasse de receber, toda a família ia chorar”.

Sua mãe mostra a todos, orgulhosa, as inúmeras fotos de Ansumane e costuma dizer que não deseja que seu filho seja um Messi ou um Cristiano Ronaldo...

“Para nós, se ele conseguir o que conseguiu Bruma, nosso compatriota que jogava no Sporting e foi vendido para o Galatasaray da Turquia e vai ganhar um milhão de euros anuais, já seria um grande presente de Deus”.

Asunmane está longe de sua família a quatro anos e diz que a saudade o corrói por dentro...

“Eu não posso voltar ainda. Eles dependem de mim”.

“Aqui em Portugal, não conheço ninguém que não seja ligado ao futebol. Não saio, não posso gastar... não tenho namorada”.

“Vivo no clube, tenho as coisas que o clube me oferece e o dinheiro que não mando, guardo, pois se um dia nada der certo, terei alguma coisa para recomeçar minha vida, ajudar minha mãe e seguir em frente”.

“Mas, eu acredito que vou vencer, eu preciso vencer, eu não posso fracassar... jurei no túmulo de meu pai que minha família não ficaria abandonada e, meu pai, sabe que vou cumprir o que prometi”.

Bem, essa é a história da Asunmane...

Possivelmente uma história igual a de milhares de meninos e meninas pobres de todo o mundo...

Entretanto, é no caráter e na formação familiar desse menino que está o cerne da questão...

Ansumane poderia ter feito outras escolhas...

Porém, preferiu escolher o caminho que seus pais lhe ensinaram.

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