Imagem: Autor Desconhecido
Em Portugal, o Campeonato Nacional de Sêniores
foi criado este ano para substituir os antigos campeonatos da II Divisão e III
Divisão Nacional...
Diferente do Brasil, a Primeira
Liga ou Liga Zon Sagres, representa a primeira divisão de Portugal e Segunda
Liga ou Liga 2 Cabovisão, representa a segunda divisão...
Na Primeira e na Segunda Liga,
estão os clubes profissionais.
O atual Campeonato Nacional de Sêniores,
é o primeiro nível do futebol não profissional lusitano e é organizado da
seguinte forma:
80 clubes divididos em 8 Séries
de 10 clubes, disputam em turno e returno as duas vagas que cada Série tem
direito...
As 16 equipes classificadas são
divididas em 2 grupos de 8 equipes e as duas primeiras ascendem imediatamente
para a Segunda Liga ou Liga 2 Cabovisão...
Os dois segundos classificados da
segunda fase, disputam entre si em jogos de ida e volta quem irá preencher a
terceira vaga da Segunda Liga.
O decesso é decidido da seguinte
forma:
As 6 equipes de Série não
classificadas na primeira fase, são reunidas em grupos em 8 grupos de 8 equipes
e o 7º e 8º classificados caem direto para os Campeonatos Distritais, que no
Brasil representariam os Estados...
Os 6º colocados de cada um dos 8
grupos, disputam uma eliminatória com jogos de ida e volta para decidir quem
serão os outros quatros rebaixados.
Bom, a explicação é para situar o
leitor na história que agora vou contar:
Seu clube é Sport Clube Freamunde
da freguesia de Freamunde em Portugal...
O Freamunde está inserido na
Série C do Campeonato Nacional de Sêniores...
Seu salário no Freamunde, clube
amador, é de 700 euros por mês...
Seu país de origem é a
Guiné-Bissau...
Sua idade, 22 anos...
Seu nome é Ansumane Fati...
Sua posição, atacante.
E a história de Ansumane que vou
contar.
Sua carreira começou no Benfica
de Bissau, mas aos 15 anos, Ansumane se transferiu para a academia do Sporting
de Lisboa e lá, ficou por três meses...
Antes de chegar a Lisboa, a vida
de Ansumane era incerta.
"Eu ia para a escola sem comer,
ia treinar sem comer, jogávamos com bolas improvisadas ou com o que havia, mas
essa é a nossa realidade, é pobreza mesmo”.
"A vida obrigou-me a ser adulto
antes da hora. Mesmo na Guiné, por causa do meu pai, que era doente, tinha que
ajudar e trabalhava muito com o meu irmão em ferro, carpintaria ou no que
aparecesse”.
Hoje, depois de passar pelo
Candal, Nogueirense e Ribeirão, Ansumane ainda luta para se firmar como jogador
de futebol...
Para ele, não é só um sonho, é
uma necessidade...
Na Guiné-Bissau, 39 pessoas comem
graças a metade de seu salário que todo mês é enviado para sua mãe, Sona Fati,
de 48 anos.
Segundo um de seus irmãos, Mussa
Seide, de 32 anos, diz:
“Precisamos de muito apoio dele e
é por isso que pedimos a deus para o ajudar na carreira”.
“Na família, salvo um ou outro
biscate, ninguém tem um trabalho estável e Ansumane «é o único» que pode os
ajudar financeiramente. Se um dia ele deixasse de receber, toda a família ia
chorar”.
Sua mãe mostra a todos,
orgulhosa, as inúmeras fotos de Ansumane e costuma dizer que não deseja que seu
filho seja um Messi ou um Cristiano Ronaldo...
“Para nós, se ele conseguir o que
conseguiu Bruma, nosso compatriota que jogava no Sporting e foi vendido para o
Galatasaray da Turquia e vai ganhar um milhão de euros anuais, já seria um
grande presente de Deus”.
Asunmane está longe de sua
família a quatro anos e diz que a saudade o corrói por dentro...
“Eu não posso voltar ainda. Eles
dependem de mim”.
“Aqui em Portugal, não conheço
ninguém que não seja ligado ao futebol. Não saio, não posso gastar... não tenho
namorada”.
“Vivo no clube, tenho as coisas
que o clube me oferece e o dinheiro que não mando, guardo, pois se um dia nada
der certo, terei alguma coisa para recomeçar minha vida, ajudar minha mãe e
seguir em frente”.
“Mas, eu acredito que vou vencer,
eu preciso vencer, eu não posso fracassar... jurei no túmulo de meu pai que
minha família não ficaria abandonada e, meu pai, sabe que vou cumprir o que
prometi”.
Bem, essa é a história da
Asunmane...
Possivelmente uma história igual
a de milhares de meninos e meninas pobres de todo o mundo...
Entretanto, é no caráter e na
formação familiar desse menino que está o cerne da questão...
Ansumane poderia ter feito outras
escolhas...
Porém, preferiu escolher o
caminho que seus pais lhe ensinaram.
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