Por Flávio Rezende *
O último jogo do Flamengo em Natal ressuscitou um debate ao qual também quero expressar opinião. Eu e um mundaréu de gente rubro negra sofremos críticas por termos torcido pelo time nacional do Flamengo, diante de uma agremiação futebolística local, no caso o América. Recebi até e-mail com acusação de burrice e li algumas coisas em jornais locais, todos defendendo a necessidade de apoio ao time nativo, em todo e qualquer confronto com times alienígenas aos limites territoriais da terra natal.
Para mim, o time de futebol, tem mais a ver com amor, paixão, que propriamente com patriotismo, nacionalismo, futebolismo nativo ou mesmo bairrismo. Quando chegamos à idade dos 14 anos, começamos a nos interessar pelo sexo oposto. Surgem às primeiras paqueras e, de repente, uma força avassaladora nos abraça, revelando através de hormônios em ebulição, pensamentos em erupção e desejos em revolução, a maravilhosa constatação que estamos apaixonados por alguém. Neste momento, revelamos ao mundo dos nossos pais, amigos e parentes, a nossa cara-metade. Alguns podem dizer que aquele namoro não é legal pelo fato da moça ou moço ser da Paraíba, ou do Paquistão. Algum racista pode querer botar areia dizendo que é uma pessoa de cor diferente da sua, que pertence a uma outra religião, mas quem ama ou já amou, sabe que nada nesse mundo, nenhum argumento destes, muda a força do amor. É uma energia que vem de dentro, inexplicável, anti-sociológica, sem lógica, apenas acontece.
Para mim o time de futebol de sua preferência é um amor, um grande amor, que em muitos casos, nasce sob a influência dos pais, amigos, bons resultados do time na ocasião que o ser está começando a gostar de futebol, mas em qualquer situação que seja, é sim uma paixão, um amor que surge e se eterniza dentro de você.
E por ser amor, é universal. Não adianta querer que um flamenguista, por exemplo, que ama seu time de paixão, queira torcer por um time local. Não funciona. Contra a força de um grande amor, esse argumento não encontra eco. Um torcedor pode e deve até torcer pelo time de sua cidade, desde que o adversário não seja seu time de coração. Sem problemas. Eu mesmo já torci pelo América várias vezes, chegando ao ponto de quase ter meu filho Gabriel americano. Hoje, por causa dos 5x2 que o ABC impôs ao time rubro tempos atrás e a seqüência de boas vitórias do alvinegro na série C, Gabriel que estava na fase probatória, apaixonou-se perdidamente pelo ABC, Flamengo e São Paulo, tendo agora três amores que não larga hora nenhuma do dia. Coleciona figurinhas, pede bandeira, ouve o CD produzido pelo amigo Tertuliano Pinheiro o tempo todo, entra em campo, é um caso de amor grande por estas três agremiações.
Fomos ao Machadão vestidos de preto e vermelho, torcemos pelo time do Flamengo e, assim farei quantas vezes o mengão pisar em solo potiguar. Com todo respeito aos americanos, todos meus amigos e conterrâneos, mas amor é amor e não tem argumento no mundo que faça esta nação rubra negra agir diferente. Desculpe-me leitor, se pensa diferente, mas se assim for, acredito que ainda não amou um time de futebol. Se amou ou ama alguém, é igual e você se rende incondicionalmente, se entregando a uma energia saudável e avassaladora.
É escritor e jornalista em Natal/RN
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