sexta-feira, julho 23, 2010

Recebi do leitor Alexandre Azevedo...


Alexandre Azevedo, psicólogo.


Caro Fernando Amaral,


Apesar de no momento estar fora do futebol, fiquei preocupado com toda essa questão envolvendo um atleta do flamengo, onde existem profissionais de psicologia do mais alto gabarito. Fica a questão ventilada por muitos sobre a competência dos profissionais de psicologia, nesse caso em questão, ou mesmo na formação de atletas.


Fiquei preocupado se não haveria um posicionamento desses profissionais do Clube de Regatas Flamengo, diante desse trágico acontecimento.


Para meu alivio, encontrei esse posicionamento numa carta aberta publicada no site, do psicólogo Paulo Ribeiro, do CR Flamengo (http://www.pauloribeiro.com.br).


Espero que vocês da imprensa e o público em geral, compreendam as dificuldades e as complexidades do trabalho de um psicólogo num clube de futebol.


Segue abaixo a carta na integra.



Psicologia do Esporte: carta aberta por Paulo Ribeiro*


Um momento importante no futebol de nosso país.



Não teríamos circunstancia mais importante para uma mudança de paradigma total na relação clube/ atleta / comissões técnicas/ dirigentes.


Já faz tempo que no Flamengo falamos desse assunto.


Ano passado tentamos mobilizar as divisões de base do nosso clube na tentativa de rever alguns comportamentos que não cabiam mais por parte de alguns atletas.


Reunimos as comissões técnicas e a coordenação da base e qual foi nossa surpresa?


Todos ouviram nossas ponderações e trataram logo de se defender dizendo que estávamos duvidando do trabalho de cada um deles, que estávamos os colocando em xeque e também sua autoridade.


Ora bolas amigos, o fizemos foi colocar no espelho, um grupo de pessoas que não estavam comprometidas com algo maior, com algo para além da simples conquista de um campeonato.


Nosso intuito era rever nossa metodologia, nossas intervenções, nossos procedimentos e nossos objetivos para com um garoto de 12 ou 13 anos por exemplo.


Hoje em algumas escolas públicas, ouço relatos de professores acuados, ameaçados e destratados por alunos, por fazer valer sua autoridade em sala de aula.


Conheço professores que ouviram a seguinte pérola: “Cuidado professor que te furo todo com uma faca hein”.


Ou ainda: “Te esperamos lá na passarela da escola e você vai ver”...


O que é isso meus amigos, onde estamos?


O pior é que essa é uma realidade cada vez mais presente no dia a dia desses ilustres profissionais.


Da mesma forma, recebemos hoje atletas que não suportam ser chamados à atenção e que, não admitem ser corrigidos em suas posturas e atitudes e por ai vai.


Daí tentarmos ano passado, sem sucesso, criar outra mentalidade na cabeça dos que com certeza tem na mão, a caneta e o poder para mudar uma situação hoje, insuportável.


Deixo bem claro aqui que a Psicologia do Esporte esta comprometida com o bem estar global do atleta.


As palestras ministradas, os atendimentos individuais celebrados, as reuniões com as comissões técnicas e as dinâmicas de grupo visam mobilizar tais atletas para um lugar de organização de pensamentos e ideias, socialização, respeito ao próximo, cuidados com a imagem, com as atitudes e tudo mais que se refere à verdadeira importância de estar num clube de ponta como o Flamengo, ou o Vasco, São Paulo, Corinthians, Fluminense, etc...


Mostrando isso aos atletas estaremos proporcionando a eles, momentos de reflexão, de tomada de postura e de otimização de seu desempenho esportivo, através da mudança nos pensamentos e nas suas crenças.


Conseguimos efetivamente com que uma maioria de atletas aproveite esses ensinamentos para suas vidas, haja vista a historia de atletas que alcançaram a fama e o sucesso com calma, tranquilidade e responsabilidade, sobretudo.


Mas outros nos apontam para a evolução de algumas crenças para certezas.


Certezas de que não tem limites, de que tudo podem e que nada lhes acontece.


Esses atletas certamente não são o retrato de uma maioria vencedora e digna de palmas por sua trajetória.


A diferença entre um e outro esta exatamente na forma como foram concedidas algumas regalias próprias de quem se tornou craque, de quem se tornou referencia de quem se tornou modelo de alguma coisa.


O problema então reside nos limites que as autoridades dos clubes impõem ou não para concessão de tal merecimento.


Portanto com isso quero aqui deixar claro que em nenhum momento estamos nos furtando a dar à cara a tapa de nossa participação em todo esse processo, mas quero apontar para os limites de nossa atuação, que certamente esbarram nas vaidades e descrenças de treinadores, preparadores físicos, dirigentes e médicos no que diz respeito ao trabalho do psicólogo.


Não queremos tomar o lugar de ninguém e sim queremos ser um elo a mais nessa engrenagem difícil, cansativa e complicada que se tornou administrar a relação clube / atleta.


Não basta somente lidar com a melhoria do desempenho de um jogador.


Nosso trabalho está cada vez mais inserido e exigido dentro do complexo, chamado comissão técnica.


Aprendam isso de uma vez por todas.


Não sobrevivemos sem informação.


Se por exemplo um treinador de goleiros guarda pra si todo fato relevante do seu dia a dia com seu goleiro, de nada servirá a intervenção de um profissional da psicologia do esporte.


Por essas e por outras convido vocês há refletir um pouco sobre o escrito acima para juntos mudarmos esse paradigma já tão viciado em nosso meio.


Um forte abraço,


Paulo Ribeiro.


*Paulo Ribeiro é:


Psicólogo da Equipe Profissional e Coordenador do Serviço de Psicologia do Clube de Regatas do Flamengo.

Membro fundador da Associação Brasileira de Stress.

Membro Fundador do Ceaperj (Centro de Estudos Aplicados à Psicologia do Esporte do Rio de Janeiro).

Especialista em psicologia clínica, psicologia médica e psicossomática.

Supervisor do serviço de psicologia do Clube de Regatas do Flamengo.


Do blog:


O psicólogo Paulo Ribeiro é cuidadoso em sua “carta aberta”; é compreensível, pois afinal, ele é empregado do clube e, não pode ir tão afundo como gostaríamos, mas mesmo assim, há um momento em que apesar dos cuidados de Paulo, fica bem claro para o leitor, como reagem às cabeças dos treinadores e demais membros de uma comissão técnica, quando colocadas em cheque.


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