Enquanto a enfadonha briguinha provinciana do aluga, não aluga, toma conta de jornais, resenhas esportivas, programas de televisão, blogs e afins, a morte do zagueiro Jácio, ocupou poucos minutos e poucas linhas nos veículos dedicados ao futebol.
Claro que esse puxa encolhe entre dirigentes míopes economicamente e “perigosamente” infantis emocionalmente, rende mais, vende mais...
Mas o que me assustou foi que a morte do zagueiro foi tratada como um assunto trivial, corriqueiro, quase banal...
Alguns deram notas emotivas, típicas de momentos assim e informaram o fato como se Jácio tivesse falecido “confortavelmente” instalado em uma enfermaria ou quarto, depois de sofrer um grave acidente ou, ter chegado ao hospital em estado desesperador em função da hepatite C que o atormentava a cerca de 16 anos.
Na verdade, não foi bem assim...
Jácio Salomão de 73 anos sofreu um acidente em casa e quebrou o fêmur – vou repetir, quebrou o fêmur...
Na segunda-feira, dia 18, deu entrada no pronto-socorro do hospital Walfredo Gurgel e lá, foi devidamente acomodado em um dos confortáveis e equipados corredores do nosocômio, a espera de uma cirurgia...
Entrou no dia 18 e lá ficou até falecer no dia 24, às 5 horas da manhã...
Segundo os médicos que o atenderam, sua morte pode ter sido (?) provocada por problemas cardíacos...
E só, ponto final.
Mas deixe ver se eu entendi o que li no blog do Justino Neto (aliás, o único que noticiou o fato detalhadamente)...
Um cidadão de 73 anos que em função da hepatite C, fazia constantemente hemodiálise, chega a um hospital para sofrer uma cirurgia no fêmur, fica uma semana num corredor e morre de ataque cardíaco?
Não sou médico e não tenho autoridade e nem qualificação para entrar em detalhes, mas como cidadão e sujeito a passar pelo mesmo problema, pergunto:
Uma semana não é muito tempo para um alguém de 73, sofrendo de uma hepatite grave e com um fêmur quebrado, ficar num corredor a espera de um atendimento mais acurado?
Não culpo os médicos, quem vai ao Walfredo sabe que a maioria dos profissionais de saúde que lá exercem sua função, são experientes e capazes...
Mas não consigo entender como as autoridades de saúde ainda permitem tamanho absurdo.
Entretanto, como sou obrigado a ouvir quase diariamente da boca uns tantos cínicos, que com a chegada dos recursos para a Copa de 2014, tudo vai mudar, pois as melhorias fenomenais que serão implantadas para a Copa, vão permanecer como um legado para o povo de Natal, talvez só me reste mesmo, culpar o velho Jácio, por não ter sido cauteloso o bastante para esperar 2015, e aí sim, quebrar seu fêmur.
No mais, só lamento que o aluga, não aluga, tenha sido mais importante do que “gritar” contra tal descaso...
Descanse em paz Jácio e nos perdoe por tanta subserviência e omissão.
Um comentário:
É triste a constatação diária de que nossos serviços públicos de saúde são o mais repugnante resultado da omissão e descaso das nossas autoridades (eleitos e pagos por nós para trabalhar para nós) com o que é público, com o que é dever do estado e direito da sociedade.
Se o Brasil fosse um país sério, metade desses gestores públicos estava na cadeia por crimes como esse, que é cometido todo dia em todas as cidades brasileiras. É claro que a copa 2014 não vai mudar esses quadro, nem na prestação de serviços na área da saúde, nem na educação ou mesmo na segurança pública. Provavelmente, haverá melhoras pontuais, mas é difícil esperar transformações radicais com a classe política quem temos hoje.
O que me surpreende não é saber que mais uma pessoa morreu, mas perceber a leniência e comodismo que a sociedade trata disso. Isso é criminoso! A sociedade civil não poderia ou deveria tratar notícias como essa com tanta parcimônia.
Aécio Carvalho
aeciocb@uol.com.br
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