sábado, julho 23, 2011

Resposta ao leitor Leonardo César...


O leitor Leonardo César escreveu um comentário sobre o preço dos ingressos nos jogos do América e me pediu que opinasse a respeito.

Primeiro, o comentário de Leonardo César:

Meu nobre amigo Fernando gostaria de saber sua opinião sobre um assunto que esta me deixando muito chateado...
O fato da direção do América ter colocado o valor do ingresso dos seus jogos no “Nazarenão” a 40 reais.
Caro amigo, serão dois jogos que custarão 80 reais, agora me diga se um pai de família que ganha um salário mínimo pode pagar 80 reais para ver duas partidas de futebol?
Sim, vale salientar que ainda tem a passagem e o lanche.
Estão querendo empurrar goela adentro o sócio mecão!
 Porém, vem outra arbitrariedade com relação aos pobres, você só pode comprar o titulo no cartão...
Meu Deus, um pobre teria um limite desse valor?
Para com isso, faz tempo que a torcida americana deixou de ser uma torcida de elite...
Eu, por exemplo, sou um vigilante.
Fico muito triste, pois gostaria muito de apoiar nosso time na Série C, mas não vou poder tirar 80 reais do meu orçamento, pois não vou colocar na mesa dos jogadores do América e deixar faltar na minha.
Amigão um abração e desculpe o desabafo...

Bem, aqui vou eu...

Meu caro Leonardo, me colocando no seu lugar, não há como não lhe dar razão...

Entretanto, você e sua condição não contam nessas horas.

Para pessoas como você, o argumento será o clichê: “futebol profissional é caro hoje em dia”...

Caso você insista, logo outro clichê será tirado da manga: “a torcida é exigente e, não tem como montar uma boa equipe sem recursos”...

Mas, se ainda assim, você não se der por satisfeito, não se iluda, vão sacar da cartola um mantra infalível: “estamos sem jogar a longo tempo e temos folhas de pagamento a honrar”...

Argumentos que num primeiro momento soam como verdades pétreas, não fossem eles, repletos de sofisma.


Futebol, sempre foi caro, mesmo quando se trata de equipes amadoras...

Basta colocar na ponta do lápis, o custo dos uniformes, das chuteiras, das luvas dos goleiros, das bolas de boa qualidade, da laranja, da caixa de isopor que mantêm as laranjas fresquinhas, o gelo, a água e até mesmo, do tubinho de GELOL utilizado para fazer voltar correr os “craques” feridos em campo.

Lembre também, do preço do aluguel do micro ônibus para partidas jogadas fora e não esqueça que nas viagens, a turma tem que se alimentar.

Agora, caso alguém sofra uma contusão mais séria, o custo de uma única partida entre amadores, vai para o espaço, pois como não existe ambulância em partidas disputadas em competições não oficiais, alguém vai ter que bancar o taxi e levar o companheiro “estropiado” para o pronto socorro.

Portanto, futebol sempre foi caro.

Alegar que as torcidas são exigentes, é chover no molhado, pois toda torcida é exigente – até a do Íbis, se existir, é exigente.

Que dirá então, as torcidas cujos dirigentes ficam pregando a grandeza de seus times e a necessidade de vencer sempre.

Quanto a pagar a folha de pagamento, nada mais normal...

Quem trabalha precisa receber e quem contrata, em tese, tem como arcar...

Se não tem, não deveria contratar.

Pois bem, meu caro amigo, o futebol, que nasceu elitista e depois foi abraçado pelo povo, está aos poucos retornando as origens e, infelizmente, há de chegar o tempo, em que vigilantes, garçons, comerciários, motoristas, enfermeiros, pedreiros, marceneiros, pescadores e todas as pessoas cujos salários sirvam apenas para a sobrevivência, serão afastadas dos estádios...

Para piorar, assistir um jogo de futebol é sempre uma aposta: você vai esperando ver um grande espetáculo e muitas vezes, volta para casa frustrado por ter visto uma pelada para lá de meia boca.



2 comentários:

LEONARDO CESAR disse...

obg mais uma vez por sua atenção, um grande abraço!!!

Glauberto Leilson disse...

Encaremos a seguinte constatação: futebol tem que ser visto como um empreendimento similar a qualquer outro, ou seja, regido pelas leis de mercado.

Do ponto de vista do torcedor, é evidente que há aqueles que não tem condições financeiras para custear seu "Lazer".

Por outro lado, as reduzidas dimensões do estádio de Goianinha exigem que a média de preços suba para que os valores arrecadados cubram minimamente os custos.

O que está além disso é: o América já poderia ter o seu estádio, o que diminuiria os custos; o poder público, ao demolir o Machadão, poderia ter oferecido uma alternativa de local de realização de jogos aos clubes. Nesta hora, ninguém pensou no torcedor.

Concordo que o futebol pode acabar se tornando elitista, mas assim já o são muitos shows musicais. Basta que estes shows sejam exibidos em teatros, onde cabe menos gente que ao ar livre ou em estádios. Esta falta de escala na "produção" também aumenta os custos de livros, por exemplo.

O Dirigente de futebol, ao calcular o quanto acha que vale o seu "espetáculo" teve ter em mente que pode determinar um valor acima das possibilidades do mercado, mas este risco é sempre de quem banca os custos, no caso os dirigentes dos clubes.

Não defendo a tese que livros, shows, espetáculos esportivos, ingressos de cinema, CDs, DVDs, e vários outros produtos de lazer e culturais tenha que baixar seus preços sismplesmente porque há alguns que não podem pagar. Deveríamos lutar para uma maior divisão da renda e que mais pessoas pudessem pagar. Ou será que não sabemos o que ocorreu com as gravadoras de CDs frente a desleal concorrência da pirataria?

A outra possibilidade é a de reservar uma parcela de ingressos para serem vendidos a preços mais baratos, tal como acontece com passagens de avião onde alguns assentos tem preços normais e outros reduzidos.


Do lado de quem promove as partidas de futebol cabe qualificar o seu espetáculo e reduzir seus custos, otimizando o lucro. Podemos argumentar que os dirigentes do América não agiram empresarialmente, ao não planejarem-se para a queda de arrecadação com a derrubada do Machadão, mas querer que o preço do ingresso mude seria resolver a coisa pelo lado avesso.

Um forte abraço.