sábado, outubro 12, 2013

Uma pausa para falar de crianças...

Imagem: Zydowska Organizacja Bojowa



Eu poderia ter lançado mão de uma foto de um bebê fofinho, sorridente, cercado de gatinhos bebês e fofinhos como ele...

Receberia centenas de comentários do tipo: owwwwww.

Tenho a minha disposição, fotos de minhas netas as poderia usar...

Fariam muito sucesso, tenho certeza.

Assim como poderia também, ter postado a foto de uma criança negra, de preferência famélica, coberta por moscas em algum rincão esquecido da África e vomitar minha hipócrita indignação diante de seu abandono...

Receberia muitos comentários do tipo: malditos capitalistas.

Crianças iraquianas e afegãs ensanguentadas não faltam, assim como não faltam moleques a correr pelas vielas imundas das milhões de favelas mundo afora.

No entanto, escolhi a foto que vocês veem...

Não sei o nome dela...

Mas sei onde ela estava, quando estava e porque estava.

Ela deve ter no máximo uns dez anos...

Ela está numa rua de Varsóvia, mais precisamente, no Gueto de Varsóvia.

O ano, é 1943...

Ela está nesta rua, por um só motivo: é judia.

Esta foto está comigo faz tempo e, toda vez que com ela me deparo, me comovo.

Me comovo pelo sorriso sincero, bonito, limpo e de uma certa forma feliz...

Como ela conseguia ser feliz em meio a tanta dor, sempre me pergunto.

A cruz que se vê em seu braço, significa que ela prestava serviço a resistência, como enfermeira...

Enfermeira aos 10 anos.

Enfermeira a cuidar como podia e como sabia de feridas que provavelmente poucos de nós tenha visto ou irá ver em toda a vida.

Enfermeira a confortar com sua nenhuma maturidade homens e mulheres, cuja morte se divertia ao vê-los lutar pela vida que em breve cessaria.

A roupa que veste, são trapos, mas há dignidade nesses trapos.

O cinto que mantém fechado seu casaco, não é um cinto e sim, um pedaço de corda.

O lacinho em seus cabelos, certamente foram feitos por uma mãe que mesmo sabendo não existir amanhã para si e para os seus, permaneceu mãe...

Pois bem, é com ela e seu sorriso que presto minha homenagem a todas as crianças...

Crianças que em última instância acabam se tornando vítimas das ideologias, das religiões, das segregações raciais e étnicas...

Crianças que perecem sem entender porque são odiadas.

Não sei se ela sobreviveu aos horrores dos três meses de luta, onde os seus iguais, preferiram a morte em combate ao extermínio um campo de concentração... 

Toda vez que olho para ela, torço desesperadamente para que sim.

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