Imagem: Zydowska Organizacja Bojowa
Eu poderia ter lançado mão de uma
foto de um bebê fofinho, sorridente, cercado de gatinhos bebês e fofinhos como
ele...
Receberia centenas de comentários
do tipo: owwwwww.
Tenho a minha disposição, fotos
de minhas netas as poderia usar...
Fariam muito sucesso, tenho
certeza.
Assim como poderia também, ter
postado a foto de uma criança negra, de preferência famélica, coberta por
moscas em algum rincão esquecido da África e vomitar minha hipócrita indignação
diante de seu abandono...
Receberia muitos comentários do tipo: malditos capitalistas.
Crianças iraquianas e afegãs ensanguentadas
não faltam, assim como não faltam moleques a correr pelas vielas imundas das
milhões de favelas mundo afora.
No entanto, escolhi a foto que vocês
veem...
Não sei o nome dela...
Mas sei onde ela estava, quando
estava e porque estava.
Ela deve ter no máximo uns dez
anos...
Ela está numa rua de Varsóvia, mais
precisamente, no Gueto de Varsóvia.
O ano, é 1943...
Ela está nesta rua, por um só
motivo: é judia.
Esta foto está comigo faz tempo
e, toda vez que com ela me deparo, me comovo.
Me comovo pelo sorriso sincero,
bonito, limpo e de uma certa forma feliz...
Como ela conseguia ser feliz em
meio a tanta dor, sempre me pergunto.
A cruz que se vê em seu braço,
significa que ela prestava serviço a resistência, como enfermeira...
Enfermeira aos 10 anos.
Enfermeira a cuidar como podia e
como sabia de feridas que provavelmente poucos de nós tenha visto ou irá ver em
toda a vida.
Enfermeira a confortar com sua
nenhuma maturidade homens e mulheres, cuja morte se divertia ao vê-los lutar
pela vida que em breve cessaria.
A roupa que veste, são trapos,
mas há dignidade nesses trapos.
O cinto que mantém fechado seu
casaco, não é um cinto e sim, um pedaço de corda.
O lacinho em seus cabelos,
certamente foram feitos por uma mãe que mesmo sabendo não existir amanhã para
si e para os seus, permaneceu mãe...
Pois bem, é com ela e seu sorriso
que presto minha homenagem a todas as crianças...
Crianças que em última instância acabam
se tornando vítimas das ideologias, das religiões, das segregações raciais e étnicas...
Crianças que perecem sem entender
porque são odiadas.
Não sei se ela sobreviveu aos
horrores dos três meses de luta, onde os seus iguais, preferiram a morte em
combate ao extermínio um campo de concentração...
Toda vez que olho para ela, torço
desesperadamente para que sim.
Nenhum comentário:
Postar um comentário