Carta à Pablo
Publicado por: Rafael Morais/Para Carta Potiguar
Caro Pablo Ramon Gonçalves,
Acompanhei todos os
acontecimentos que envolveram o clássico-rei de domingo, no estádio do nosso
adversário.
O antes, o durante e o depois.
Confesso que foi uma noite dolorida
para mim, como torcedor.
Sou americano desde os meus sete
ou oito anos.
Herdei o gosto pelo vermelho e branco de meu pai.
Quando em vida,
meu velho leva-me para assistir aos jogos na geral do finado Machadão.
Eu
ficava ali, esticando-me, de ponta de pés, tentando em vão ver os lances por
trás das placas de publicidade que cercavam o campo.
Quase impossível.
Pablo, não vou mentir para você.
Como qualquer outro torcedor do América, fiquei muito “pê da vida” com aquele
pênalti que marcasses contra o meu time.
Mesmo que você não admita, você errou
e nos tirou a vitória contra o nosso maior rival.
E mais.
Na casa deles, Pablo.
Mas eu te entendo, Pablo.
Você
não teve culpa de ter sido um lance rápido, difícil para qualquer um e que
permite várias e várias interpretações.
Aliás, você não é o culpado da regra 12
do futebol ser tão confusa, a ponto de gerar tantas polêmicas pelo mundo à
fora.
Foi uma ação deliberada?
Ele aumentou o volume do corpo?
Bateu não mão ou
a mão bateu na bola?
Não sei.
Ah, Pablo.
Tem mais.
A culpa não
é sua da arbitragem no nosso país ser tratada com o amadorismo do tempo de
Charles Muller.
Eu sei que juiz de futebol no Brasil não passa de um autônomo,
que não assina contrato, nem recebe salário.
A culpa pela não
profissionalização da categoria não é sua.
Aliás, como cobrar alta
performance de um cara que precisa ter outra profissão para sobreviver?!
Pablo,
você não tem culpa de ter que acordar às seis horas da manhã para ir ao
serviço, trabalhar até meio dia, almoçar, voltar uma hora depois, sair às cinco
da tarde, ter que ir para casa atender a mulher, filho, fazer o pagamento das
suas contas, para depois, oito, nove horas da noite, botar o uniforme e sair
para correr uma horinha, para no outro dia estar trabalhando novamente.
Você não tem culpa de ser assim.
Eu sei, se você e os seus colegas pudessem, teriam dedicação maior ou até
exclusiva à arbitragem, para poder se atualizar e buscar uma complementação nas
suas formações profissionais.
Pablo, eu sei que a culpa da
arbitragem no Brasil evoluir à passos de cágado, como diria o cronista
Brasigóis, não é sua.
Aqui é assim.
O povo se ferra, sabe o porquê e ninguém
faz nada para resolver.
Você não tem culpa de ter nascido na terra do 7 a 1.
Outra coisa, Pablo.
A culpa não é
sua das Comissões de Arbitragens dos Estados e da CBF não serem comandadas por
profissionais com dedicação exclusiva e qualificados com capacitação em gestão
de pessoas.
Você não é o culpado da arbitragem brasileira ser comandada apenas
por 2 ou 3 pessoas com dedicação exclusiva para gerenciar mais de 500 árbitros.
Muito menos do fato de muitas dessas pessoas estarem ocupando seus cargos
meramente devido a favores políticos.
Não é culpa sua, Pablo.
Amigo, eu não sou um torcedor
cordeiro, daqueles alienados que cegam diante do amor por um clube.
Aliás, acho
que sou mais fã do que torcedor.
Mas enfim, isso pouco importa agora.
A
mensagem é outra.
Pablo Ramon, fiquei muito triste
com o que disseram sobre você depois do jogo.
Eu tenho certeza absoluta e
irredutível que você não fez aquilo intencionalmente.
Você não é um criminoso.
Não se deixe abater por opiniões contrárias e controversas de quem se acha o
porteiro do céu mais estrelado de toda a galáxia.
Pense nisso, meu amigo.
Não
depende de como você cai, mas de como se levanta depois da queda.
Não somos
todos Pablo, como os clichês que criam por aí, mas somos todos justos com você.
Você não pode carregar todo o peso da culpa pelos problemas da arbitragem do
futebol brasileiro.
Pablo, doeu, mas eu sei que a
culpa não foi sua.
Ass.: Um torcedor americano de
cabeça fria.
Nenhum comentário:
Postar um comentário