Hoje recebi um pedido de um amigo para prestar uma homenagem ao João Hélio Fernandes. Nesse pedido meu amigo solicitava que durante três dias eu e todos que recebêssemos seu e-mail, colocássemos uma flor ou uma rosa em seu perfil, no Orkut ou no MSN. Ao final este amigo afirmava: “essa violência tem que acabar”.
É um pedido difícil de recusar, principalmente em se tratando do meu amigo Diniz Grilo, artista plástico, poeta, homem de sentimentos nobres, coração puro, alma sensível e, acima de tudo, amante da vida e da beleza.
Escrever essas linhas não está sendo tarefa fácil. Sei que vou correr muitos riscos. Talvez até magoe meu amigo e deixe nele, e na maioria dos que lerem esse texto, a idéia de que sou um monstro, sem coração, ou desprovido de qualquer sentimento humano.
Mas não sou... Podem apostar nisso. Porém não vou colocar nenhuma rosa ou flor no meu perfil do Orkut ou MSN. Não mesmo. Não queria escrever sobre o João, pois sei que nada vai mudar, assim como não mudou quando o Tim Lopes foi reduzido a pedaços e depois queimado; assim como não mudou quando facínoras queimaram pessoas dentro de um ônibus no Rio de Janeiro. Nada vai mudar, pois estamos corrompidos pelo vírus da hipocrisia, pela tutela dos que inventaram o “politicamente correto” e pela falta de exação das autoridades desse país de faz de conta.
Não queria escrever sobre o João, porque sei que o meu silêncio e minha crença inicial em movimentos como o Viva Rio e outros abobalhados pacifistas, permitiram que aqui chegássemos. Demos ao crime aquilo que o crime quer. Mas não é isso que fazemos todos os dias? Que reação tivemos diante da morte de um grupo de pessoas em um carrinho de lanche, aqui em Natal, depois de serem atropeladas pelo filho de um figurão da cidade? Nenhuma. Silenciamos, todos nós. O filho do figurão continua a flanar por aí e quem morreu, morreu. E daí? O congresso desse arremedo de nação, está repleto de malandros, ladrões e todo tipo de cafajestes. Nosso frasista-mor deu um show de cinismo, mentiu com a cara mais lavada do mundo e o que fizemos? O reconduzimos ao poder, com maioria esmagadora de votos.
Todos os dias lemos que governadores, deputados e seus asseclas, amealham milhões em fortuna pessoal, apenas servindo a pátria. O que fazemos? Nada... Ou melhor. Criamos piadas sobre o fato.
É isso que fazemos, é isso que somos... Farsantes, hipócritas, fariseus da pior espécie. Essa revolta em torno do trucidamento do João Hélio, só me revolta. É tudo mentira, balela, conversa fiada de um povo medíocre e sem futuro. Ninguém está se importando; todos estão pensando em suas vidinhas vazias e estúpidas. Todos querem um aumentinho de salário, um carguinho em qualquer escalão ou um empreguinho onde o salário seja ótimo e o esforço nenhum.
Sinceramente não dá mais para suportar. Chega de ver imbecis defendendo o indefensável; chega de ver gente morrer nas ruas sem nenhuma razão plausível; chega de ver perfumadas senhoras, repletas de doutorados, ou ilibados senhores de terno a vomitar teses e mais teses sobre como combater a maldade com a bondade, como desarmar milícias criminosas, com flores e bons conselhos... Para mim chega... Cansei!
Não dá mais para sentar em um bar e ver idiotas com terceiro grau a defender o Iran, sem saber que lá, mulheres são apedrejadas até a morte por adultério (tem um vídeo no site da anistia internacional, é só ir lá). Deviam ver, é bem instrutivo. Defendem com a cara mais lavada o Iraque, mas não sabem que uma criança pode ter seus braços esmagados por um carro na frente de todos, caso seja pega roubando. Isso sem a presença de nenhum juiz ou tribunal. Tudo é feito na rua sob, as vistas da polícia. Aplaudem terroristas que cortam a faca a cabeça de um engenheiro americano e ainda justificam o fato, sem o menor rubor nas faces. Mas, se falamos em punição severa para os sádicos locais, logo saltam e dizem. Não! Pena de morte no Brasil, nunca! O que devemos é ampliar nossos programas sociais, devemos criar escolas e distribuir melhor nossa renda (a dos outros, eles querem dizer). Idiotas!
Programa social no Brasil é sinônimo de curral eleitoral; é esmola que acorrenta o necessitado e o torna, ainda mais, escravo. Que escolas cara pálida? Aquelas que não reprovam ninguém; que produzem um monte de analfabetos com diplomas? (alguém já se deu ao trabalho de tentar ler o idioma escrito no Orkut por nossa juventude escolarizada? Aquilo é português?). Ou aquelas que, quando avaliadas, matam qualquer um de vergonha? Talvez estejam falando de Universidades, um monte delas, com todo o tipo de curso. Alguns feitos em seis meses ou, quem sabe, até por telepatia. Deixem de brincar com coisa séria. Nossas Universidades são uma piada, vivem do “me engana que eu gosto”. Deformam milhões de jovens e depois os largam no meio da rua, sem emprego e tendo novamente que estudar para prestar um concurso público (do tipo polícia rodoviária federal, mesmo que o candidato tenha diploma em ciências sociais).
Mais uma vez repito: não dá mais...
Em lugar da flor ou da rosa, talvez coloque uma metralhadora, talvez uma pistola ou qualquer coisa que signifique enfrentamento, reação de fato. Ao pai do João, diria apenas o seguinte: “largue tudo, compre uma cadeira e espere que, com certeza algum advogado cretino, irá conseguir na lei uma brecha e, através dela, algum juiz socialmente engajado solte aqueles monstrinhos (o infanticida inimputável, logo estará nas ruas) e faça justiça; depois se entregue e veja como os movimentos de defesa dos direitos humanos vão destruí-lo”.
Não vou colocar nenhuma flor, pois preciso respeitar a dor dos Pais do João, das famílias que perderam seus entes queridos no ônibus incendiado, na mocinha e seu namorado que foram brutalizados e assassinados pelo Champinha em São Paulo, e por todos aqueles que vivem sem a proteção do estado corrupto, em todas as partes desse imenso território onde, quem invade a conta bancária de um homem é eleito deputado; onde quem trucida, ao ser preso, estira o dedo para a imprensa, com fez o mandante da morte de Tim Lopes e onde os incendiários do índio pataxó nada sofreram, alguns até viraram servidores públicos.
Vou encerrado por aqui. Desculpem o amargor, a falta de esperança e a total descrença em tudo, mas não posso continuar me enganando, não posso achar que tudo esta muito longe de mim. Quarta-feira foi o João Hélio, na próxima semana pode ser um dos meus ou dos seus... Se você, ao terminar de ler me achar um monstro, pode ter certeza que a família do João não vai compartilhar de sua opinião.
Descanse em paz João Hélio e, se possível, nos perdoe pelo país que construímos.