domingo, agosto 16, 2009

Somos todos culpados...

Mais uma vez alguém teve que morrer para satisfazer a sanha assassina de um débil mental qualquer.


Antes de o dia amanhecer e o sol brilhar forte, a madrugada já dava sinais ameaçadores...


Passava da meia noite e vozes insistentes rasgavam estridentes, o silencio de Ponta Negra e adjacências.


Abri a janela, sentei-me a olhar o céu estrelado, acendi um cigarro e me concentrei no que diziam aqueles grunhidos disformes que minutos antes me incomodavam.


Era uma festa, uma confraternização, um encontro de gente cuja motivação era exaltar a si mesmos e as suas “organizações”.


De inicio me pareceu divertido o festival de baboseiras e “estupros” a língua pátria cometidos a cada intervenção...


Depois, percebi que havia uma continuidade, um elo e um objetivo...


Eles estavam ali para falar do orgulho que sentiam em fazer parte de uma organização e que essa organização deveria se sentir orgulhosa por ter em seu seio gente disposta a cultuar a violência.


Com o passar dos minutos, ficou claro que mesmo num português macarrônico, seus gritos de guerra toscos, mal elaborados e de rima primária, surtiam efeito sobre a platéia de iguais.


Cada orador repetia incessantemente seu mantra agressivo e cada resposta da platéia, era recebido pelo orado com um berro de “é nóis”...


Desfilaram convidados que na condição de homenageados, falavam de força, união e terror...


Não havia vírgulas, essas eram substituídas por expressões como “tá ligado”...


Baianos, cariocas, mineiros, paulistas e outros vieram a Natal falar de suas facções locais e jurar eterna amizade aos anfitriões.

Negrito

Foi então que descobri que a TGA (Torcida Garra Alvinegra), tem fortes ligações com a Galo Terror do Atlético Mineiro, Ceará Amor do Ceará, Mancha do Palmeiras e com o bando que representava o Bahia e o Botafogo...


“Tudo irmão”, “tudo f...”, “tudo pronto para tocar o terror”.


Num determinado momento, um dos oradores fez um discurso que foi uma obra prima de estupidez, passou uns dez minutos a explicar as razões de ele e seus companheiros, fundadores de uma das facções, serem conhecidos por apelidos e não por seus nomes...


A parada é seguinte, apelido tem peso, dá força, dá moral, nome é nome, tá ligado, eu, cicrano, fulano e beltrano, é respeitado por causa dos apelido, valeu... é isso aí meu irmão é nóis”


Foi ovacionado, aplaudido e festejado como se tivesse acabado de pronunciar algo definitivo e insofismável.


Mas como a festa era um encontro de “guerreiros” e não havia com quem guerrear, acabaram por se engalfinhar entre si, provocando o locutor a vomitar muitos palavrões, na tentativa de apaziguar os “irmão” que se estranharam...


Foram caralhos e porras a granel e quando os ânimos foram contidos o locutor festejou gritando o seguinte: “nóis é tudo irmão, nóis é tudo TGA e que se foda os play boys”...


Não entendi o que uma coisa poderia ter com outra, mas isso deve ser culpa minha, que mandou terminar o primeiro grau.


Por volta das duas horas da manhã, já cansado, resolvi que era hora de dar descarga nos ouvidos e ir dormir, minha cota diária de tolerância e permissividade a sandice, há muito tinha sido ultrapassada.


Mas, ao acordar me deparei com a notícia da morte de um dos participantes da festa, na Avenida Engenheiro Roberto Freira, morto a tiros por desconhecidos...


Não me surpreendi, porém, imaginei óbvio: terminado o culto de louvação a si próprios, os líderes pegaram seus carros (líder, guia, chefe, guru e essa gente, nunca anda a pé) e foram embora, mas a patuléia, a ralé, a massa de manobra e os inocentes uteis ou inúteis, sempre precisam fazer a pé o caminho de volta...


Eram dez a caminhar pela avenida deserta e um foi escolhido pelos assassinos.


Moral dessa história imoral: o corpo sem vida deixou no chão da avenida o sangue vermelho, que mais tarde se juntaria ao branco das lágrimas de uma mãe e ao negro da dor que hora a consome...


É nóis!

4 comentários:

Anônimo disse...

Fernando, vou postar anônimo por medo mesmo.

tenta visitar comunidades do abc e da gang no orkut e em blogs e flogs p/ maiores informações...

houve mta briga nessa festa, pelo menos 2 mortos e o mais impressionante:
Parece que a torcida do américa nao tem nada a ver c/ os assassinatos. Foram mortes por rixas de "comandos", bairros, facções dentro da própria torcida.
Não sei se vc escutou do seu apartamento, mas teve tiro dentro da festa!!!

Agora como fica, não podemos mais ir ao frasqueirão por medo de briga dentro da torcida do Abc? Sei que o torcedor comum não tem nada a ver c/ a gang, mas a violência respinga em nós também. E se uma bala "se perde" e nos encontra?

Anônimo disse...

Mais informações.

Dentre as torcidas "aliadas" da gang nesta festa, algumas não se batem, não se entendem, são rivais mesmo. E estavam dentro da mesma efsta de confraternização. Irônico, não? Houve algumas brigas por causa disso.

Uma torcida organizada se divide em comandos, que, via de regra, são organziados por bairros. Acontece que os comandos tb sao rivais, ora por rixa antiga entre bairros, ora por disputa territorial de suas gangues locais e até disputa de tráfico de droga. Comandos tb brigaram na festa.

O rapaz que encontraram morto em frente ao frasqueirão foi morto DURANTE a festa. um abcdista matou outro quase dentro dentro da efsta. Se desentenderam (já que já tinham rixa antiga em seus bairros) E NUMA DISCUSSÃO FORA DA FESTA UM ATIROU 3 VEZES CONTRA O OUTRO.

O outro assassinato, na Roberto Freire parece ter sido motivado pelas desavenças ocorridas dentro da festa. Um grupo saiu no carro procurando seus desafetos e qdo os acharam, atiraram. Testemunhas dizem que as pessoas do carro gritaram "É a máfia" (em alusão à TO americana), mas outras testeunhas juram que o autor dos disparos é um membro da gang que deve ter gritado isso pra desviar as investigações e jogar a culpa na torcida rival.

Marcelo Régis disse...

Absurdo mesmo! Enquanto a nossa sociedade não punir esse tipo de crime (dentro e fora dos estádios) com rigor e agilidade, infelimente isso vai continuar rotineiro.

Marcelo Régis disse...

Absurdo mesmo! Enquanto a nossa sociedade não punir esse tipo de crime (dentro e fora dos estádios) com rigor e agilidade, infelimente isso vai continuar rotineiro.
Fernando, parabéns pela coragem de escrever sobre um tema tão terrível como esse!