Do blog:
Um texto que mais que lido, deve
ser ponte para uma longa e honesta reflexão.
*Por Vladir Lemos
A sedução do esporte profissional é
incontestável.
Quando digo esporte profissional
falo no esporte de alto rendimento.
O esporte praticado por atletas
de ponta.
Gente com calibre para sonhar em conquistar o mundo.
A serviço dessa sedução não estão
só os triunfos, existem também o mar de cifras que costuma acompanhar marcas e
títulos, a fama, que não é sinônimo de fortuna mas que, boa parte das vezes,
leva até ela.
Toda essa engrenagem tem papel
fundamental para que os jovens se interessem por esse universo encantador.
Mas esse fascínio não educa, não
disciplina.
E também não faz ninguém sentir
de maneira plena seus benefícios físicos e mentais.
Não se enganem, ninguém jamais
descobrirá do que o esporte é capaz sentado em frente a um televisor.
Trata-se de uma benção que ele
reserva apenas aos praticantes.
Essa questão sempre me vem à
cabeça quando vejo imagens como as registradas antes do jogo entre Flamengo e
São Paulo, em Brasília, onde foi possível ver um torcedor, mesmo caído no chão,
ser espancado por vários agressores que vestiam outras camisas.
Isso sem falar nas incontáveis
cenas de selvageria e má educação que podem ser vistas pelos estádios desse
nosso país a cada rodada.
Uma certa barbárie que se deixou
sentir também nas reações à fotografia em que o atacante corintiano, Emerson,
aparecia beijando, de leve, um amigo.
Que nenhum pai se engane, porque
ao apresentar a seu filho o amor pelo futebol ao mesmo tempo lhe abre as portas
para um universo cruel.
Um universo de dicotomia.
Um universo puramente sentimental
mas que costuma fazer pouco de sentimentos finos.
O futebol é bruto.
É praticado por homens e não por
freiras como nos fez questão de lembrar no último final de semana o técnico
Osvaldo de Oliveira, do Botafogo, talvez o mais educado dos nossos treinadores.
E é por tudo isso que não
deveríamos perdoar dívidas bilionárias de clubes de futebol.
Tampouco devemos acreditar que
eles, com suas administrações terríveis serão capazes de, a partir de agora,
abrir espaço de maneira exemplar para esportes olímpicos.
E é exatamente disso que tentarão
nos convencer. Estejam certos.
O plano levará o nome de
Proforte.
Lindo, não é?
Precisamos é gastar bilhões para
que as pessoas tenham acesso a quadras.
Para que não falte a alegria da
presença de uma bola nem mesmo (e principalmente) na mais distante das
periferias.
E porque se deixar seduzir é
parte do jogo, não precisamos de estádios para alguns.
Precisamos como sociedade, como
país sede da próxima Copa e da próxima olímpiada, tirar alguma vitória dessa nossa
condição.
E ela seria mais provável se
tivéssemos mais olhos para o esporte que educa do que para esse que só fascina
e seduz.
*Vladir Lemos, começou a carreira
no início da década de noventa como repórter da TV Tribuna, na cidade de
Santos. É autor de livros e documentários. Trabalhou como repórter e
apresentador do programa "Grandes Momentos do Esporte, da TV Cultura, de
São Paulo, onde atualmente apresenta o programa "Cartão Verde".
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