Imagem: SE Palmeiras
A despedida
do Parque Antártica
Há 10 anos, o
Palmeiras goleou o Grêmio na despedida do estádio em que jogou por mais de 90
anos, deixou o Palestra Itália para dar lugar a reforma que ergueu o novíssimo
Allianz Parque e catapultou o clube ao novo século
Pedro
Henrique Brandão/Universidade do Esporte
Com o início
dos anos 2010, uma boa nova chegou ao palmeirense: o estádio Palestra Itália
seria reformado e se transformaria numa das arenas mais modernas do mundo.
Para isso,
porém, o velho Parque Antártica de tantas alegrias teria de ir ao chão num
ambicioso projeto arquitetônico que usaria o mesmo espaço do antigo estádio, reaproveitaria
a arquibancada existente atrás do gol e faria surgir uma imponente arena para
40 mil torcedores.
Mesmo que a
promessa fosse de um passaporte para o futuro, 11 entre 10 desconfiados
palestrinos estavam com o porco atrás da orelha.
Como assim, demolir
nossa casa?
Colocar
abaixo o lugar onde conquistamos a América?
Onde vamos
jogar?
É bom lembrar
que há pouco tempo, o Palmeiras havia retomado o hábito de mandar seus jogos em
casa e vivera a breve felicidade de sua história recente, por lá.
O Paulistão
de 2008 havia sido conquistado no Jardim Suspenso, com direito a gás de
pimenta, cala boca aos tricolores e goleada na Ponte Preta.
A
identificação era evidente, era como se o Palmeiras nunca tivesse saído do
Parque Antártica.
O
investimento feito nos idos anos 1920 havia valido a pena.
O Palestra
mandava seus jogos por ali desde 1917 e até 2010 conquistou um histórico
invejável:
1569 jogos
1063 vitórias
318 empates
188 derrotas
3698 gols-pró
Foi no Parque
Antártica, inclusive, que foi disputado o primeiro dérbi da história quando o
Palestra venceu o Corinthians por 3 a 0 no campo que virou casa própria três
anos depois.
Adquirir o
Parque Antártica, antigo clube da cervejaria, foi rotulado como uma loucura
para a época, mas foi sobretudo fruto de um grande desejo palmeirense como
disse ao jornal Fanfulla, Menotti Falchi, presidente alviverde em fevereiro de
1920:
“Clubes
menores possuem um campo. Temos de achar uma casa. Não é qualquer terreno que
nos agrada, pois a grandeza da comunidade italiana e de nossos torcedores não
concordaria. Um estádio moderno é o desejo de todo palestrino”
Por isso,
naquele 22 de maio de 2010, um sábado, o palmeirense rumou a caminho da rua
Turiassu.
O jogo contra
o Grêmio estava marcado para as 18h30min, porém, a venda de ingressos pela
internet ainda não era tão comum e chegar cedo em ocasiões como aquela poderia
fazer a diferença entre conseguir ou não um ingresso.
Exatos 18.365
torcedores conseguiram comprar seus ingressos para assistir à última vez em que
a bola rolou oficialmente no Parque e lotaram a casa.
Antes de a
bola rolar, porém, a torcida protestou muito contra a diretoria pelo momento
conturbado nos bastidores, afinal, ainda era maio e o Palmeiras já havia
demitido dois treinadores e os prometidos reforços não chegavam ou quando
vinham não eram nem de longe o que o torcedor esperava.
Quem entrou
viu um Palmeiras com ânimo para driblar o momento ruim que o time vivia depois
da ressaca do triste 2009.
Mesmo em
crise e com um treinador interino no comando, o Palmeiras arrancou um placar
animador contra o Grêmio: 4 a 2.
O Tricolor
Gaúcho também não estava bem das pernas.
Aquela era a
terceira rodada do Brasileirão 2010 e ao fim da partida, o Grêmio somava apenas
um ponto.
Dirigido por
Jorge Parraga, interino que era auxiliar de Antônio Carlos Zago, que por sua
vez assumira o comando alviverde após a demissão de Muricy Ramalho, esse
caótico Palmeiras entrou para sua última partida oficial no Parque Antártica
com Marcos; Vitor, Léo, Danilo e Pablo Armero; Edinho, Márcio Araújo, Marcos
Assunção e Cleiton Xavier; Ewerthon e Vinicius. Entraram no decorrer da partida
Paulo Henrique, Maurício Ramos e Souza.
Àquela
altura, o palmeirense reclamava dos nomes duvidosos que surgiam aos montes
depois da implosão do projeto Luiz Gonzaga Beluzzo, mas nem imaginava o
calvário que ainda enfrentaria nos anos seguintes.
Os elencos do
título da Copa do Brasil 2012 e do quase rebaixamento em 2014 provam que o
fundo do poço sempre poderia ser revogado.
Contrariando
tudo que a imprensa poderia prever sobre aquele confronto, o primeiro tempo foi
animado e logo aos 16 minutos o Palmeiras tirou o zero do placar com Ewerton.
Mais 15
minutos e Marcos Assunção começava a provar a importância que teria para o
elenco em sua passagem pelo Alviverde, o volante lançou na área e Vinícius
anotou o segundo tento palestrino.
No último
minuto do primeiro tempo, Jonas descontou para o Grêmio.
A primeira
etapa poderia acabar assim, mas Douglas e Marcos Assunção trocaram gentilezas
nos acréscimos e expulsos foram curtir mais cedo a noite do sábadão paulistano.
Com menos
homens em campo, o ritmo poderia cair na etapa final, mas os times repetiram
exatamente o mesmo desempenho do primeiro tempo.
Porém, dessa
vez, o Grêmio foi quem tomou a frente e empatou o jogo logo aos 3 minutos com
Hugo.
Pressionado e
motivado pelo Parque Antártica, o Palmeiras foi o time da virada pela última
vez no Jardim Suspenso.
Aos 16
minutos, Mauricio Ramos subiu mais que a zaga gremista e colocou o Verdão na
frente.
Empurrado
pela voz do velho Palestra Itália, o Palmeiras se manteve no ataque e fechou a
fatura com Cleiton Xavier.
Ao apito
final, muitos torcedores ficaram um pouco mais dentro do estádio numa despedida
comovente.
Outros foram
se dispersando assim que o jogo acabou e proporcionaram pela última vez a
bonita cena do fosso do Jardim Suspenso cheio de gente como se fosse a torcida
que segurasse o time nos ombros.
Outro jogo de
despedida foi marcado para o dia 9 de julho, mas o adversário — o Boca maldita
— venceu e estragou o que era para ser festa.
Portanto,
para qualquer bom palestrino que se preze, o que valeu foi a goleada no Grêmio
naquele 22 de maio de 2010.
Os portões do
número 1840 da rua Turiassu ficaram fechados por longos 4 anos e 5 meses até a
inauguração do novíssimo Allianz Parque no dia 19 de novembro de 2014 e como na
compra do Parque Antártica, a construção do moderno estádio foi taxada de
loucura, mas isso é história para daqui a cem anos.
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