É claro que você irá encontrar quem discorde e provavelmente você não irá concordar com tudo, mas o debate em alto nível e baseado em argumentos lúcidos e racionais, sempre foi salutar.
Porém antes gostaria que me permitisse um pequeno preâmbulo...
Nosso povo sofre de duas deformações culturais significativas e profundamente prejudiciais; a primeira é o imediatismo e a segunda é a crença na falsa premissa de que o econômico é uma questão de desejo pessoal.
Ambas estão incrustadas no todo de nossas vidas e não poderia ser diferente no futebol.
Quando se cuida das coisas imediatas se deixa de lado o fundamental, se perde a noção de causa e efeito e passa-se a punir o sujeito que furtou um pão para comer, sem nenhuma preocupação em melhorar as condições de vida do sujeito.
O Brasil durante anos a fio lutou contra a seca no nordeste, combateu a seca e investiu milhões nessa idéia absurda.
Não se pode combater e nem acabar com a seca, pois a seca não é obra feita e sim uma condição imposta pela natureza.
Duvido que você tenha ouvido qualquer canadense, norueguês, finlandês, sueco ou russo dizer que lutariam para acabar com as geleiras ou as combateriam até o fim.
Duvido que também tenha ouvido algo parecido dos israelenses em relação ao deserto em que vivem.
O que esses povos fizeram foi compreender a natureza, conviver com ela e criar condições para minimizar seus efeitos.
Esse é apenas um dos muitos exemplos que poderia lhe dar, mas não temos espaço para tanto.
Assim como o imediatismo e falta de noção sobre causa e efeito são danosos, o conceito de que o econômico é mutável segundo nossa vontade, é trágico.
Você já deve ter ouvido algum amigo seu letrado e instruído sair com o uma pérola como essa: “O ensino básico devia ser gratuito para todos”.
O absurdo é quem a pronuncia, não sabe que nada é gratuito e que tudo que alguém recebe sem pagar, está sendo pago por outro alguém...
Mas na nossa pátria, muitos raciocinam pelo senso comum, onde todos pensam saber tudo e ninguém sabe nada.
Dito isso, vamos às questões que você formulou:
Toda contratação deve ser baseada em critérios lógicos e racionais, toda contratação deve estar balizada no quem é o contratante e o que deseja alcançar com o contratado.
Um treinador de futebol para conseguir realizar algo útil e frutífero, precisa de tempo, caso contrário irá se transformar em “apagador de incêndios”.
Tenho uma tese que defendo com unhas e dentes e parte da seguinte premissa...
Hoje no Brasil temos técnicos e não treinadores!
Treinador como bem diz a palavra, é aquele que treina e quem treina, corrige, aperfeiçoa, ensina e conduz o treinado na direção da eficiência, da eficácia e da suficiência.
Treinador precisa de tempo para perceber se um determinado jogador pode ser utilizado em mais de uma função, se um determinado jogador tem consciência da importância de seu posicionamento em campo com e sem a bola.
Treinador diz como quer que um escanteio seja batido e mostra a seus comandados as muitas variantes que podem ser utilizadas para cada tipo de cobrança.
Enfim, treinador trabalha em beneficio do clube e dos resultados econômicos e esportivos futuros.
Já o técnico, é aquele que chega, e como um bruxo, começa a bolar mil esquemas, pois seu interesse é o resultado e quem quer resultado, não tem tempo para observar e compreender.
Técnico, já traz no bolso uma lista de nomes e pouco se importa se o clube pode ou não pagar a esses profissionais.
Pois o técnico precisa de “carne para moer” e se as coisas não dão certo, troca-se o patinho pela alcatra e a maminha pela picanha na insasiavel busca do filet mignom...
Quando tudo vira músculo, manda-se o técnico embora e começasse tudo outra vez...
Você já reparou que por onde Vanderlei Luxemburgo passa, a quebradeira é total depois que ele vai embora?
No Brasil, poucos são como Murici Ramalho (discipulo de Telê Santana).
Você já reparou que o São Paulo contrata pouco, promove muito das categorias de base e que com isso ganha mais do que gasta?
Murici tem relação estreita com as bases e sabe exatamente quem é quem nas equipes inferiores.
Sou contra a mudança intempestiva de treinadores, pois elas são caras e produzem um efeito terrível...
Criam o treinador empresário ou o treinador que recebe percentual de cada jogador por ele indicado.
Abrem as portas para que a relação entre treinador, empresário e jogador se torne promiscua e acabem por contaminar clubes e dirigentes.
O futebol inglês é hoje gerido por profissionais altamente qualificados em suas áreas de atuação.
Mesmo os ex-jogadores que ocupam cargos nos clubes, passaram por treinamento e por cursos especializados.
Ninguém está ali por ter sido apenas ídolo da torcida ou por ter jogado 10 anos na equipe.
O futebol inglês só ficou rico, depois que seus clubes foram adquiridos por mega empresários. Gente que não está ali por amor, mais em busca de retorno para seus investimentos.