Sem Senna, o Brasil ficou mais triste
Por Pedro Henrique Brandão Lopes/Universidade do Esporte
Há exatos 26 anos, o Brasil perdeu Ayrton Senna.
Naquele 1º de maio de 1994, a curva Tamburello tirou a vida de Senna e
levou junto a alegria que o brasileiro sentia ao ouvir o tema da vitória e ver
a bandeira verde e amarela tremulando no alto do pódio.
Já se passou mais de um quarto de século desde que Ayrton Senna perdeu o
controle de sua Williams e bateu forte no muro da curva Tamburello, durante o
GP de San Marino, em Ímola, no dia do trabalho de 1994.
Era manhã no Brasil, como de costume as famílias se reuniam para assistir
aquilo que havia se tornado o programa dominical favorito dos brasileiros desde
que Senna despontou como jovem talento da F1 em 1986.
Mesmo no início da carreira, quando correu por equipes modestas, o
brasileiro conseguiu bons resultados.
A idolatria aconteceu de vez, quando o primeiro título mundial veio em
1988.
Depois, mais dois mundiais em 1990 e 1991, e dois vices em 1989 e 1993.
Títulos que dão a dimensão da grandiosidade do piloto que dominou a F1
até o trágico acidente.
Na pista, Senna só não era unanimidade porque competia com ótimos
pilotos, como o grande rival Alain Prost, com quem travava uma ferrenha disputa
nas pistas e dentro da própria equipe, a McLaren.
Prost foi o único a quebrar a sequência de títulos de Senna, sendo
campeão nos dois vices do brasileiro (89/93).
Os rivais protagonizaram finais de temporada eletrizantes em dois anos
seguidos.
No circuito de Suzuka, Prost tinha a vantagem na pontuação, o que lhe
bastava para vencer o campeonato se Senna não pontuasse.
O francês não pensou duas vezes e na primeira curva após a largada bateu
propositalmente no brasileiro.
Com o abandono de prova dos dois, Prost comemorou o título de 1989.
No ano seguinte, a classificação na última corrida do ano mostrava Ayrton
na liderança e Alain Prost na segunda colocação.
No mesmo circuito de Suzuka, ao sinal verde, Senna não hesitou em
devolver o jogo sujo do ano anterior, bateu no francês e foi campeão com o
abandono do arquirrival.
Essa era a receita da idolatria de Senna: ele nunca tentou ser perfeito,
pelo contrário, quando preciso respondeu a altura o indecoroso adversário.
Mesmo com a alta rivalidade entre o brasileiro e o francês, a relação
entre os adversários era respeitosa a ponto de Prost vir ao Brasil para o
funeral de Ayrton, além de carregar o caixão do brasileiro.
Anos depois da morte de Senna, Prost declarou:
“Quando ele morreu, senti que uma parte de mim também tinha morrido”.
Muita gente não gosta de Pelé, por conta da ligação com o Santos ou com a
política, de Roberto Carlos, por dizerem que ele não canta bem, mas nunca vi
alguém que não goste de Ayrton Senna.
E essa dimensão como ídolo máximo da nação, Senna construiu em 161
corridas, durante uma década na F1, com 65 pole positions, 41 vitórias, 3
títulos mundiais, além de atuações que são imensuráveis como a mágica primeira
volta em Donington Park em 1993, ou a vitória em Interlagos no GP de 1991
quando a caixa de câmbio quebrou e Senna venceu a corrida apenas com a 6ª
marcha.
As corridas na chuva também marcaram uma época, lembro do meu pai
torcendo para chover durante as corridas, para que Senna deixasse todos para
trás.
Ayrton Senna é uma experiência única que toca o coletivo principalmente
por fazer sentido individual a cada um que viu ou viveu os tempos de Senna nas
pistas.
Mas e quem não viu, quem não era sequer nascido quando a curva Tamburello
acabou com tudo?
Justamente por tudo que fez em vida e que não cabe nos frios números que
mensuram sua carreira, é que Senna transcendeu a própria existência e tornou-se
um símbolo brasileiro.
Foi Senna quem mais incentivou o tal orgulho de ser brasileiro quando
empunhava, ainda de dentro do cockpit, uma bandeira verde e amarela ao cruzar a
linha de chegada.
Ayrton fazia questão de dizer onde nasceu, onde começou no kart e de
propagar o Brasil no exterior como um país grande e com um povo rico em vontade
de trabalhar.
Não era ufanismo, era amor pelo chão onde nasceu.
Amor pela pátria mãe, sentimento de difícil compreensão em tempos de
entreguistas e pessoas que distorcem o significado de ser patriota.
Por esse amor pelo país onde nasceu, Ayrton comentou com sua irmã
Viviane, que gostaria de realizar alguma ação para diminuir a desigualdade
social no Brasil.
Segundo Viviane Senna, a conversa aconteceu em março de 1994 e os irmãos
combinaram de voltar a falar sobre o projeto ao final da temporada.
O acidente impediu que Senna conseguisse desenvolver sua ideia, mas não
fez Viviane desistir do sonho do irmão.
Assim, em novembro de 1994 nasceu o Instituto Ayrton Senna, que
desenvolve e fomenta ações sociais voltadas à educação de jovens de baixa
renda.
Mais uma pole position com o alto do pódio para Ayrton Senna da Silva.
A fatídica corrida aconteceu na manhã de domingo, a cena que ninguém
queria ver com Senna, logo na terceira volta.
A notícia que ninguém queria ouvir, veio por volta das 2h da tarde
daquele triste domingo de feriado.
Morreu Ayrton Senna do Brasil.
O tema da vitória nunca mais tocaria pela alegria, só por saudades.
A passagem de bastão na Fórmula 1, se deu da forma mais trágica possível.
Na corrida que sequer deveria ter acontecido por conta do terrível
acidente com Rubens Barrichello e a morte de Roland Ratzenberger, nos treinos
livres, morreu Ayrton Senna, um dos mais talentosos pilotos de todos os tempos.
E foi Michael Schumacher, mesmo depois de uma confusão sobre a bandeira
vermelha e a nítida impressão de que Senna não estava bem, que venceu a corrida
e festejou naquele fim de semana fúnebre de Ímola.
26 anos depois da trágica morte de Ayrton Senna, o Brasil está mais
triste porque perdeu a alegria das manhãs mágicas dos domingos.
Nem a data aponta motivos para comemorar, já que depois de anos de
recessão econômica e em meio a uma pandemia que mata na casa das 400 pessoas
por dia no país, a pior crise sanitária do século, o Brasil soma 12,850 milhões
de desempregados neste dia do trabalho de 2020.
Senna nunca se preocupou em fazer cena.
Fez história, foi ídolo e num dia do trabalho morreu trabalhando, fazendo
o que mais amava e perseguia.
Estará para sempre na história do Brasil como ídolo inconteste de uma
nação que enxergou nele uma parte do Brasil que dava certo além de uma
frestinha de um Brasil que poderia dar certo.
Infelizmente, Senna se foi há 26 anos e o Brasil parece se afundar a cada
dia mais num poço sem fundo.
Imagem: Autor Desconhecido
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