terça-feira, setembro 04, 2007

Qualquer semelhança é mera coincidência...

Primeiro foi um furinho, ninguém ficou muito preocupado, o capitão declarou que o barco continuaria navegando sem problemas. Depois o mar se tornou revolto e a turma da manutenção alertou que o furinho estava cedendo e que seria necessário um urgente reparo.

Mais uma vez o capitão repetiu o mesmo discurso, falou que tudo seria resolvido e que todos precisavam ter calma, pois não seria um furinho que afundaria seu barco.

Seu imediato corroborou com seu chefe e declarou aos tripulantes... “Conheço o capitão e seus oficiais, são homens competentes e vitoriosos em suas travessias oceânicas, nada vai nos acontecer, afinal, estamos apenas começando a viagem”.

Porém, a cada dia o tempo piorava, a chuva se tornava tempestade e o mar agora açoitava o convés com ondas poderosas. O furinho foi se alargando e a água que gotejava virou torneira aberta e muitos compartimentos começaram a alagar. O pessoal da manutenção lutou com o material que dispunha, mas numa manhã seu chefe entristecido e exausto teve um ataque cardíaco e morreu.

Avisado, o capitão pediu calma, disse que aquilo fora uma tragédia, que sentia muito, mas que teriam que continuar... Em seguida indicou um novo chefe de manutenção, um jovem e destemido marujo assumiu o posto e bradou... “Estou aqui para manter esse barco à tona, não desisto nunca e vou com meu capitão e seus oficias até o fim”.

Os dias se passavam e o imediato que sempre apoiava o capitão, percebeu que seu chefe precisava ser blindado das criticas da tripulação e começou a criticar o novo chefe da manutenção. No almoço discursava em voz alta que o novo chefe não tinha o perfil necessário para o cargo, dizia que o jovem chefe não tinha experiência e que estava perdido e sem saber como comandar seus subordinados...

Em outras ocasiões, o imediato chegou a bater boca com o oficial responsável pela meteorologia, pois insistia em dizer que os trovões eram os responsáveis pelo furinho, pois seu ribombar causava ondas sonoras e que essas ondas ao atingir o casco o abriam ainda mais. O pobre oficial responsável pelos boletins meteorológicos lutava consigo mesmo para não perder a paciência e mandá-lo as favas.

Nesse ambiente de comédia bufa o barco navegava e o furinho virou um grande rasgo, agora a água penetrava com força e tudo levava a crer que o barco afundaria. Foi quando o capitão tentou uma manobra, escolheu entre a tripulação alguns marinheiros dos quais não gostava e decidiu colocá-los em um bote salva-vidas e lançá-los ao mar.

Reuniu seu grupo de confiança e explicou que era inevitável tão atitude: “Precisamos diminuir o peso, pois ainda acredito que chegaremos ao nosso destino”. Todos concordaram (o capitão não era home para ser contrariado) e assim foi feito. Homens foram lançados ao mar e deixados a sua própria sorte.

Por um momento o vento sul soprou e o tempo pareceu dar trégua aos extenuados marujos da manutenção, seu chefe chegou a ensaiar uma fala mais otimista... Porém na manhã seguinte o capitão foi acordado por seu imediato, que aos gritos dizia... “Eu avisei, eu avisei, venho falando isso há tempos. Viajem como essa é traumática para quem não se preparou para enfrentar os exércitos de Netuno, isso é uma guerra e ninguém gosta de nós”.

O capitão sonolento perguntou... “Mas o que aconteceu agora”? E seu imediato quase babando exclamou... “Meu querido, amado, idolatrado e genial capitão, o furou, furou geral, não dá mais para segurar, vamos para fundo e ninguém vai lembrar que o senhor meu esplendoroso capitão, foi quem com genialidade tirou esse barco do lago, levou-o para o rio e o colocou no mar.

As Cassandras e víboras vão cuspir no seu lindo trabalho e expelir seu veneno e sua inveja contra o senhor e seus valorosos oficiais”. Desesperado o capitão levantou e disse... ”Chega! Quando chegar ao porto vou entregar essa porcaria de barco, mas antes vamos lançar mais homens ao mar e demitir o chefe da manutenção”.

O imediato o olhou, baixou a cabeça e quase em lágrimas falou... “Capitão, o chefe da manutenção já jogou a toalha e não será preciso lançar mais ninguém ao mar, pois os marinheiros mais experientes já estão descendo os botes e abandonando o navio”.

Tristonho o capitão pegou o microfone e através do sistema de auto falantes, afirmou com voz embargada que estava magoado, pois ele tanto tinha feito para chegar até ali e agora era abandoando. Reconheceu seus erros e lamentou ter escolhido a rota errada... Agradeceu ao chefe de manutenção que pedira demissão e desligou.

A partir desse instante se fez silencio entre os que ficaram. Um novo chefe assumiu e constatou que era impossível consertar o furo, mas que tentaria fazer alguns remendos para tentar chegar ao caís...

Em terra, os sócios do estaleiro dono do barco convocaram uma reunião para decidir quem assumiria o comando da nau danificada. Muitos nomes foram indicados para assumir o posto, mas ninguém aceitou.

Enquanto isso, a humilhada tripulação luta para tentar ancorar em algum porto, seu capitão trancado na cabine com seu imediato e seus oficiais, procura encontrar uma desculpa honrosa para a fracassada tentativa de fazer um barco construído para navegar em lagos e rios, ter ousado enfrentar o oceano.

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