sábado, abril 18, 2009

O TVU Esporte ainda não foi esquecido...

Imagem: Arquivo pessoal



Recebi por e-mail, li, me emocionei e senti que valeu a pena cada dia dedicado ao TV U Esporte...


Não sento e não converso com Rafael Duarte, a mais ou menos uns 3 anos, nesse período o vi umas poucas vezes, mas sempre um de nós tinha pressa demais.


É mais ou menos o que acontece com todos que passaram pela TV Universitária, mais precisamente pelo TV U Esporte, porém, sei que quase todos, têm o mesmo sentimento em relação ao tempo que passaram na grande escola que é a TV Universitária.


Quanto a mim, sei que a grande maioria, sabe que procurei dar o meu melhor e, sei também, que assim como aqueles meninos e meninas, vão morar para sempre em meu coração, os muitos telespectadores do TV U Esporte, terão ainda por longo tempo, saudades de uma turma que se dedicou de corpo e alma e que, terá sempre um lugar na história do jornalismo esportivo do Rio Grande do Norte...


Dedico esse texto ao Professor Marcio Capriglione que “pariu” a idéia, a Lupercio Luiz, que nela acreditou e todos os estagiários que nunca deixaram de cumprir com seu dever, fosse onde fosse...


Obrigado Rafael, mas tome cuidado, pois velhos corações, nem sempre agüentam ler o que li.





TVU ESPORTES: A ÚLTIMA CRÔNICA DE UM REPÓRTER APAIXONADO

Por Rafael Duarte: Jornalista e cronista.


Outro dia entrei numa loja da Cidade Alta para comprar um sapato. Olha daqui, escolhe dali, pedi ao funcionário da casa, enfim, o modelo que mais me agradou. Pedido feito, o cara abriu um sorriso e se mandou para pegar no depósito. Dois minutos depois, volta com três modelos diferentes. Calço com o cara me olhando como se já me conhecesse de algum lugar. Decidi levar dois. E o cara me olhando. Na hora de pagar, constrangido, o funcionário resolveu abrir o jogo:


- Você é jornalista?
- Sou.
- Você fazia um programa de esportes na televisão...
- Fazia. O TVU Esportes. Mas saí em 2005, quando me formei. Era um estágio, tive que ir embora.
- Era muito bom. Faz tempo que não vejo o programa, mas acompanhava toda segunda-feira.


Despedi-me do rapaz depois de lhe dar a mesma notícia triste que sou obrigado a confirmar às pessoas que, depois de cinco anos, ainda me abordam na rua para lembrar do saudoso TVU Esportes, programa comandado pelos dois maiores professores de jornalismo que tive na UFRN: Lupércio Luiz e Fernando Amaral. Sem precisar sentar a bunda nas cadeiras da academia, a dupla ensinou muito mais que jornalismo aos estagiários que passaram pelo programa. E não foram poucos ao longo de mais de dez anos de programa.


Prova do sucesso é que de resposta, quando digo que o programa foi extinto da grade da TVU em 2008 sem qualquer satisfação aos milhares de trabalhadores, desempregados, estudantes e aposentados que aguardavam o ponteiro do relógio bater na casa das 19h para acompanhar a mesa redonda religiosamente às segundas-feiras, recebo sempre um sentimento de frustração, decepção, tristeza.


A mediocridade da atual direção da TV Universitária é digna de piedade. Talvez a extinção do TVU Esportes da forma autoritária e desrespeitosa pela atual superintendência explique a importância que a UFRN, ainda mais separada da cidade agora que o reitor decidiu cercar toda a área da universidade, dá ao telespectador comum. Para a academia, o esporte não tem relação alguma com a cultura brasileira. Para essa turma de doutores, o jornalismo esportivo ainda é coisa de palpiteiro.


Entre os programas criados pela Universitária nos últimos anos nenhum deu mais liberdade aos estudantes de jornalismo que o TVU Esportes. Lembro do dia em que propus a Fernando e Lupércio um quadro que fez muito sucesso durante 1 ano e pouco. Era a “Crônica da Semana”, no qual escrevia e lia um texto sobre um fato pitoresco do nosso tão combalido futebol potiguar.


A lista de causos absurdos era imensa, o que deu muito pano para manga naqueles tempos. Recebia sugestões, o pessoal comentava na rua. Isso sem falar nas reportagens produzidas e criadas sem censuras. Uma vez, antes do programa ir ao ar, Carlos Henrique, um colega estagiário com quem trabalhei e que, apesar de bancário, ainda hoje se dedica à pesquisa sobre futebol, disse a Fernando que desde pequeno tinha o sonho de trabalhar num programa de esportes na televisão. Um sonho, portanto, realizado.


Um tempo depois que me formei e deixei a UFRN para seguir carreira no Diário de Natal, Lupércio deixou o programa e assumiu a secretaria de esportes em Mossoró. Aí a coisa começou a desandar. Fernando Amaral, que deveria assumir, por justiça, a cabeça da mesa, viu o espaço ser preenchido por um professor que, se Nelson Rodrigues fosse vivo, chamaria de idiota da objetividade. Um cara que ignora a fantasia do torcedor que ouve os jogos com o ouvido grudado num radinho de pilha caindo aos pedaços, para dar vazão aos replays e vídeo - tapes. O programa virou uma sucessão enfadonha de análises numéricas e teóricas e, a partir dali, acabou perdendo a espontaneidade que sempre cativou o torcedor.


Faz tempo que não sou mais estagiário. Me formei jornalista e, talvez por isso, sinto uma saudade absurda dos colegas, dos amigos, da equipe, dos programas, das crônicas, das matérias, das gafes (sim, foram muitas), do contato com o torcedor, das análises que meu pai fazia cada vez que me via na televisão, dos desaforos que ouvia na rua quando criticava ABC ou o América... por isso, prefiro achar que o jogo foi interrompido por conta de uma chuva forte inesperada, mas daqui a pouco o juiz vai mandar o time voltar a campo para seguir o jogo.


No dia em que decidi comprar os sapatos saí da loja carregando, além da compra, uma ruma de lembranças do programa que elevava, há mais de 10 anos, a audiência da TV Universitária. O vendedor nem desconfia, mas foi ali que lembrei também que o campeonato potiguar 2009 marca o primeiro ano do desaparecimento do TVU Esporte da telinha potiguar. De uns tempos para cá apareceram várias mesas-redondas em canais de TV aberta e fechada do RN. Embora não acompanhe nenhuma delas, acredito que todas tenham um pouquinho do pioneirismo do TVU Esporte. Enquanto a direção da TVU não muda sua mentalidade tacanha, os fãs do bom e velho TV Esportes matam a saudade com as lembranças. No meu caso, que acompanhei de perto parte da trajetória do programa, só preciso dar a sorte de comprar um par de sapatos na loja certa.


6 comentários:

Anônimo disse...

Era fã do TVU Esports, há cerca de 10 anos atrás...

Foi lá onde passei a admirar as análises de Fernando Amaral, Lupércio e cia.

Talvez aí a razão de ser hoje um leitor assíduo do Fernando Amaral FC, blog que é fonte de inspiração para O Abecedista.

Recordar é mais do que viver, é reviver.

Sds Alvinegras.

Abecedista.

Carlos Henrique disse...

Grande Rafael! Esse sonho realmente eu realizei, mesmo que por pouco tempo, mas período bastante valioso que nenhum dinheiro ou emprego fará subtrair de minha mente. Lembro-me com alegria daquela reportagem que fizemos juntos no campo da BANT. Apesar da pelada entre pessoas acima dos 40 anos foi uma experiência muito bacana que tivemos que terminou com uma reportagem bastante elogiada pela irreverência por quem a assistiu.

Infelizmente a atual direção da TVU não entende nem um pouco de grade de programação, de audiência e de oportunidade de aprendizado para os futuros comunicadores. Pois retirar do ar o programa que dava a maior audiência do canal só pode ter partido de uma mente fechada, bobagem maior que qualquer gafe cometida ao vivo por um repórter em plena passagem. Privou os telespectadores de ficar por dentro do esporte regional, notadamente o amador, coisa que a própria UFRN tanto preconiza em suas hostes.

Enfim, a vida passa, as direções imbecis também, mas as boas lembranças do programa, o aprendizado (só fez aguçar ainda mais meu já grande interesse pela história do futebol, fazendo com que eu criasse meu blog sobre o assunto), a ótima convivência com os colegas e a marca TVU Esportes não passarão. E isso não tem superintendente que dê jeito!

Parabéns pelo seu texto e obrigado pela lembrança, brilhante jornalista Rafael!

Carlos Henrique

Filipe Mamede disse...

Fiz parte da última turma de repórteres do TVU Esporte em 2008, ano em que o programa deixou de entrar no ar. Para mim, mais do que uma oportunidade de aprendizado, foi uma oportunidade de se fazer grandes amizades. Fosse com os cinegrafistas, motoristas e outros operadores, todos figuraças que sempre estiverem envolvidos 100% com a causa TVU Esporte. O que dizer de Fernando Amaral, um anti-professor, eis tudo. Dedicado ao extremo, um comunicador nato que não faria feio em nenhum Band Sport ou ESPN da vida. O que era o TVU Esporte senão uma versão particular desses programas. Tive a oportunidade de ousar, de errar também, mas de dar o melhor na hora de fazer as reportagens. Foi nesse programa onde eu aprendi um pouco do que significa ser reporter. Onde aprendi ser justo com as informações, onde tentei passar alguma emoção, que é uma coisa que as pessoas necessitam. Em suma, o TVU ESPORTE vai ficar para sempre na minha memória, na minha geografica sentimental e profissional. Foi um programa que fez escola, sem dúvida.

Filipe Mamede, jornalista, ex-estagiário do TVU ESPORTE.

Rafael Duarte disse...

Pois é, gente. É como dizia um tio do Fernando que não lembro o nome agora: "Deus limitou a inteligência e fez a burrice oceância!". Enquanto isso, vamos vivendo de saudades. Aquele abraço e saudações rubro-negras!!!!

Andrea Ramalho disse...

O texto do Rafael é incrível. Ele me fez resgatar o tempo em que fiz parte daquela equipe. Na verdade, como também saí no período em que o programa foi extinto, ainda me considero parte dela. Ainda me custa acreditar que a superintendência é tão descompromissada com o público da TV Universitária, que tenha um pensamento tão limitado ao não enxergar a importância de um programa de esportes para uma emissora, ainda mais com 10 anos de vida, líder de audiência da TVU, uma escola, uma referência para tantos outros programas que surgiram nos últimos anos.
Pra mim, muito mais do que essa decepção, fica a lembrança da dedicação dos profissionais, do "jogo de cintura" para fazer as coberturas sem carro, sem cinegrafista, sem autorização... Mas com extrema boa vontade de divulgar o esporte potiguar.
Lembrar de Fernando é mais complicado, porque muito mais do que um excelente profissional, ele tornou-se um grande amigo. Cheio de boas idéias, de um pensamento positivo inigualável, acreditou mais em mim do que eu mesma... E disto não esqueço jamais, como também não esquecerei dos queridos amigos que ganhei naqueles poucos meses de estágio e como também o público não esquecerá o nosso TVU Esportes.

P.S. Você não tinha uma foto melhor, Fernando? Tenho ótimas em casa. Depois passo pra você. Beijo grande!

Anônimo disse...

Pois é, estou eu aqui a espera não de um milagre, mais que essa chuva torrecial passe e o juiz renicie a partida.

Parabéns pelo belíssimo texto.

Arimater