quarta-feira, abril 22, 2009

Por pouco Marte não investiu no futebol do Brasil...

Estamos chegando ao final dos estaduais, ou melhor, estamos chegando ao final dos campeonatos estaduais nos estados que tem clubes disputando a Série A e a Série B do Campeonato Brasileiro, nos outros, a agonia ainda deve se estender por muito mais tempo...


Imaginemos que algum marciano resolvesse transferir parte de seus investimentos para o planeta terra, mais precisamente para o emergente Brasil, país cujo governo através de programas sociais nunca antes por aqui pensados, tem alavancado a economia e retirado da marginalidade milhões de brasileiros...


Imagino é claro, que o empreendedor do planeta vermelho (por favor, é a cor do planeta e não da ideologia dos governantes locais), encantado com as notícias sobre a paixão frenética e alucinada dos habitantes dessa abençoada nação tropical pelo esporte, cujo berço, organização e divulgação mundo a fora, se deu na chuvosa, fria e fleumática ilha da Avalon, tenha tomado tal decisão partindo da premissa capitalista de que onde há paixão, fé cega e idolatria desmedida (é provável que tenha chagado as mãos do plutocrata marciano, relatórios surrupiados por pastores abduzidos dos escritórios de Edir Macedo, R.R Soares, Bispa Sônia Hernandes e seu marido, apóstolo Estavam Hernandes, sobre os lucros maravilhosos do somatório desses “distúrbios” tão inerentes aos terráqueos), a grana rola fácil e o questionamento é nenhum.


Mas, por questões de ordem estratégica e seguindo rígidos preceitos impostos pelo Conselho de Acionistas, o nosso empresário extraterrestre, viu-se obrigado a deixar de lado o impulso (o impulso é um característica de todo ser vivo, terráqueo ou não) e, contratou uma consultoria especializada para realizar um amplo levantamento do mercado da bola no Brasil...


Ansioso, o marciano e seus executivos aguardaram por meses o relatório final, queriam entrar de cabeça no negócio, sabiam que homens como Eurico Miranda, Pio Marinheiro, Peninha, Milton Neves, Ricardo Teixeira, Edgar Soares e tantos outros, que antes, eram meros desconhecidos, haviam se tornado celebridades graças ao futebol.


Corria entre os marcianos boatos de alguns, até fortuna pessoal haviam conquistado, portanto, esse era o negócio e o país era o Brasil!


Isso era um ótimo sinal!


No dia aprazado, o relatório da empresa contratada chegou...


Nervoso, o marciano convocou a diretoria e o conselho de acionistas para a leitura do relatório.


Com pompa e circunstância, os consultores terráqueos foram recebidos no fabuloso auditório especialmente preparado para o evento.


Após as palavras rituais e a praxe cumprida, o chefe dos auditores começou com voz solene a ler o tão esperado relatório.


Primeiro, citou os índices de audiência das grandes emissoras de televisão, tanto nas suas transmissões esportivas, como nos programas dedicados a discussão do futebol no Brasil.


Segundo o consultor chefe, “são horas e horas de profundos debates, analises minuciosas e enxurradas de estatísticas e informações históricas”.


Tal afirmação provou sorrisos entre os marcianos.


Posteriormente, o consultor explicou o funcionamento de jornais e revistas e mostrou a grande cobertura que a mídia imprensa dá ao futebol e os a legião de leitores que avidamente lêem cada notícia.


Ainda usando um tom solene, o consultor exibiu a grande quantidade de blogs que se dedicam ao assunto e deixou todos os presentes boquiabertos, quando citou que os blogs não eram monopólio só dos profissionais, mas que também, havia uma ampla participação de torcedores escrevendo...


Mais impressionados ainda ficaram os marcianos, ao verem os bilhões de comentários postados nos blogs e a quantidade de sensatas e lúcidas opiniões deixadas pelos leitores...


Houve um momento em que um pequeno mal estar se espalhou no sisudo ambiente, foi quando o consultor descreveu o nível de exigência do torcedor brasileiro ao cobrar da imprensa posições de imparcialidade (normalmente contra o adversário), nível de escolaridade e formação dos jornalistas, mesmo que as criticas e cobranças sejam feitas num português quase indígena, onde a concordância nunca concorde e a pontuação é desastrosa.


Porém, os marcianos ficaram mais aliviados ou ouvirem do consultor, que isso significava o desejo do torcedor em melhorar seu próprio nível cultural, pois assim como os atuais jornalistas esportivos, os professores de português no Brasil, também são sofríveis.


Quando o consultor falou dos programas que as emissoras de rádio levam ao ar tratando de futebol, os marcianos adoraram (dizem que marciano não vive sem um rádio ao pé do ouvido).


Ficaram encantados com o espaço que é dado aos dirigentes, à cobertura diária dos treinos também deixou a todos felizes, pois em Marte, é comum o interesse pelo joanete de seus atacantes, pelas unhas encravadas de seus zagueiros e etc.


Mas, ao ouvirem parte de uma resenha, eles esboçaram alguns sorrisos, pois as brilhantes perguntas feitas pelos repórteres e as mesmas respostas dadas pelos jogadores, agradou em cheio...


Nesse momento, um executivo marciano pediu a palavra e disse:


- Perceberam o nível intelectual?


- Viram que as respostas dos jogadores, são absolutamente as mesmas em qualquer lugar do país?


- Isso com certeza têm uma única razão, confundir os adversários!


Foi aplaudido de pé.


Quando ouviram os comentários então, adoraram, pois nunca haviam visto tantos técnicos trabalhando como comentaristas.


Após o frisson desses momentos, a leitura entrou na parte mais enfadonha, pois tratou dos estádios (os marcianos consideram um problema menor), da organização, de como os ingressos são vendidos, do transporte, segurança e outros problemas que para os marcianos, podem ser resolvidos rapidamente com dinheiro e parcerias com os competentes e sérios organismos governamentais.


Com o dia chegando ao fim, e os marcianos ansiosos para aproveitarem o brilho que permanece no céu do planeta por cerca de duas horas, após o por do sol (esse brilho é em conseqüência da poeira marciana se estender por muitos quilômetros na atmosfera), o consultor chega à fase final do relatório e aí, a tensão cresce...


- Bem, gostaria que os senhores prestassem bastante atenção, pois é aqui que vamos falar de freqüência de público no xodó de setores expressivos da imprensa e do público em geral: os Campeonatos Estaduais.


- Mas antes é preciso dizer, que esses torneios têm como objetivo, permitir que clubes considerados grandes em seus estados e que, jamais irão ganhar nada em termos nacionais, ganhem alguma coisa e com isso, mantenham viva a paixão, a fé cega e a idolatria desmedida.


- Por outro lado, temos que levar em consideração que nenhum brasileiro, ou pelo menos a maior parte dos brasileiros, não tem nenhuma noção de custo benefício e que em nome de um sentimento paternalista, obrigam os clubes maiores a participar desses campeonatos estaduais, fazendo-os jogar em campos que parecem várzea, contra clubes de mentira (palavras do consultor) cujo prazo de validade é de três meses, após esse prazo, esses clubes “carruagem da Cinderela”, se transformam em abóboras e apodrecem.


O auditório gelou, mas um marciano ainda comentou como o colega ao lado; “se encherem os estádios está ótimo”...


Após pigarrear, o consultor começou:


A média de público no Campeonato Paulista antes dos jogos decisivos foi de 5.722 pagantes por jogo no ano de 2009.


E arrematou: “o Campeonato Paulista é considerado o mais rico do país”.


O Campeonato Carioca levou aos estádios antes dos jogos decisivos em 2009, 6.566 pagantes por jogo.


No Campeonato do Rio Grande do Norte (Estado adorado pelos marcianos, italianos, portugueses, espanhóis e afins) a final de um dos turnos, entre o clube de maior torcida do estado e um clube do interior, vendeu 6.609 ingressos e...


Nesse momento, o Presidente do Conselho de Acionistas levantou-se e disse: “senhor, agradeço seu empenho, o cumprimento pelo excelente trabalho e parabenizo-o pelo relatório, mas nada mais precisa ser dito, pois é fácil concluir que torcedor no Brasil, adora opinar, cornetar e bravatear, mas comparecer, torcer, vibrar e participar do espetáculo, não é o forte deles. Pelo que ouvi do senhor, eles amam os resultados e a fanfarronice sobre o adversário, mas amor pelo clube, só uns poucos, portanto, não nos interessa”.


Diante da platéia, completou: “Sei que em outros países do planeta terra, as coisas são diferentes, mas não quero ferir os brasileiros, pois tenho simpatia pelo país, pelos grandes jogadores que lá são formados e por seu sucesso nas maiores competições terráqueas”...


Dito isso, descartou o consentimento do conselho em relação aos investimentos no futebol do planeta terra, olhou para o amuado presidente da empresa e disparou: “quanto ao senhor, aconselho-o a investir nosso dinheiro nas corridas de spinfis em Vênus, pois lá, qualquer corridinha, reúne 150.000 venusianos.

2 comentários:

Marcelo Régis disse...

Excelente!

José Américo disse...

Fernando, apenas discordo de sua opinião quanto à ausência de emulação do nosso torcedor. Acredito, pelo contrário, que o torcedor brasileiro é o mais fiel do mundo, diante do que lhe é oferecido para ir apoiar seu time: péssimos estádios, times horrendos, profissionalismo mínimo de atletas e dirigentes e uma imprensa que na maioria das vezes mais atrapalha do que ajuda, além de adorar levantar a bola desses mesmos cartolas e atletas medíocres.

Nós, os torcedores "comuns", somos heróis. Diante desse cenário, o público nunca deveria ser mais do que uma dezena dos "abnegados", que dizem amar o clube como nenhum outro torcedor e colocar todo o seu "rico" dinheiro para sustentá-lo.