terça-feira, abril 07, 2009

Os 85 anos do não ao racismo e ao preconceito...


Escudo: Coleção Particular do Fernando Amaral FC



Hoje, não vou falar das grandes vitórias e dos títulos conquistados, pois se superamos a imensa maioria, por outros fomos superados...


Vencemos muitos jogos, e outros tantos perdemos...


Colecionamos muitos troféus, mas também, vimos escapar de “nossas mãos” outros tantos, quando pareciam tão perto...


Essa é a essência do esporte.


Mas hoje, nada disso importa...


Hoje vou falar do motivo maior de carregar no meu peito o orgulho ser um apaixonado pelo Clube de Regatas Vasco da Gama.


Foi num dia 07 de abril de 1924, que o Dr. José Augusto Prestes, então presidente do Vasco, tomou a mais importante decisão da história do futebol mundial.


Escreveu a “RESPOSTA HISTÓRICA” ao Presidente da AMEA (Associação Metropolitana de Esportes Atléticos), liga recém fundada por Flamengo, Fluminense, Bangu e América, Sr Arnaldo Guinle, que condicionava a aceitação do Clube de Regatas Vasco da Gama na nova liga, a eliminação de seus quadros de 12 atletas considerados pela liga, homens de “profissão duvidosa”.


Na verdade, essa exigência estava calcada no racismo e no preconceito, pois coincidentemente, esses 12 atletas, eram negros, mulatos, nordestinos ou pobres.


Diante do absurdo, o Dr. José Augusto Prestes, em poucos parágrafos, disse não a AMEA e preferiu permanecer na LMDT (Liga Metropolitana de Desportos Terrestres), onde havia enfrentado os "cinco grandes" de então, e conquistara o Campeonato Carioca de 1923.


O Clube de Regatas Vasco da Gama venceu o esvaziado Campeonato Carioca de 1924, promovido pela LMDT, com 16 vitórias em 16 jogos.


Em 1925, envergonhados e sem como sustentar a estúpida exigência, os “cinco” grandes, aceitaram incondicionalmente o Vasco, seus negros, seus mulatos, seus nordestinos e seus pobres.


A “RESPOSTA HISTÓRICA” foi um marco na luta contra a discriminação racial e social, foi um ato de extrema relevância numa época, em que o mundo se submetia a todo tipo de teoria que consagrasse a superioridade dos brancos sobre outras raças.


Foi um não da colônia portuguesa e de seu clube de futebol, aos que se sentiam incomodados e enojados com a presença dos pobres e dos nordestinos praticando um esporte que julgavam monopólio seu.


Poderia me agarrar como muitos, as vitórias e troféus, mas, preferi seguir meu pai que afirmava: “Vitórias e derrotas vem e vão, mas a dignidade, a honra e o auto-respeito, são eternos”.


Portanto, só me curvarei aos adversários, quando me apresentarem algo que não possamos conquistar, pois, “A RESPOSTA HISTÓRICA” de um clube diante do racismo e do preconceito, só nós, PODEMOS ORGULHOSMANTE EXIBIR.


A CARTA RESPOSTA

"Rio de Janeiro, 7 de Abril de 1924.
Ofício nr. 261
Exmo. Sr. Dr. Arnaldo Guinle
M.D. Presidente da Associação Metropolitana de Esportes Atléticos



As resoluções divulgadas hoje pela imprensa, tomadas em reunião de ontem pelos altos poderes da Associação a que V.Exa tão dignamente preside, colocam o Clube de Regatas Vasco da Gama numa tal situação de inferioridade, que absolutamente não pode ser justificada nem pela deficiência do nosso campo, nem pela simplicidade da nossa sede, nem pela condição modesta de grande número dos nossos associados.


Os privilégios concedidos aos cinco clubes fundadores da AMEA e a forma por que será exercido o direito de discussão e voto, e feitas as futuras classificações, obrigam-nos a lavrar o nosso protesto contra as citadas resoluções.


Quanto à condição de eliminarmos doze (12) dos nossos jogadores das nossas equipes, resolve por unanimidade a diretoria do Clube de Regatas Vasco da Gama não a dever aceitar, por não se conformar com o processo por que foi feita a investigação das posições sociais desses nossos consócios, investigações levadas a um tribunal onde não tiveram nem representação nem defesa.


Estamos certos que V.Exa. será o primeiro a reconhecer que seria um ato pouco digno da nossa parte sacrificar ao desejo de filiar-se à AMEA alguns dos que lutaram para que tivéssemos entre outras vitórias a do campeonato de futebol da cidade do Rio de Janeiro de 1923.

São esses doze jogadores jovens, quase todos brasileiros, no começo de sua carreira e o ato público que os pode macular nunca será praticado com a solidariedade dos que dirigem a casa que os acolheu, nem sob o pavilhão que eles, com tanta galhardia, cobriram de glórias.


Nestes termos, sentimos ter que comunicar a V.Exa. que desistimos de fazer parte da AMEA.


Queira V.Exa. aceitar os protestos de consideração e estima de quem tem a honra de se subscrever, de V.Exa. At. Vnr. Obrigado



(a) Dr. José Augusto Prestes
Presidente"

Um comentário:

Léo Lis disse...

É isto aí! O Vasco deve ser parabenizado sempre por tal atitude. Infelizmente o meu clube do coração, o Grêmio de Porto Alegre, só resolveu aceitar negros no time a partir de 1952. Foi no passado um dos clubes mais racistas do Brasil.

Parabéns aos vascaínos.