sábado, novembro 07, 2009

Uma longa história, uma doce história!

Esse texto não tem nada haver com jornalismo, informação ou qualquer outra postura profissional.


Esse texto é do torcedor Fernando Amaral, apenas e tão somente do torcedor.


Portanto, não cabe qualquer justificativa ou explicação!


Não me importa se o Vasco tem a maior ou menor torcida entre os grandes do futebol brasileiro, nunca me importei com isso – mas foi bom ver por duas vezes nessa Série B, o Maracanã com uma só torcida em jogos contra equipes sem nenhum apelo popular no Rio de Janeiro.


Não me importa se o clube da esquina ou da praça em frente à padaria tem mais conquistas ou troféus que o Vasco, só eu sei como foi bom ganhar os que o Vasco ganhou.


Mas existem coisas que só nós os vascaínos, podemos sentir, pois são coisas que não acontecem a cada novo ano – são momentos únicos, que jamais irão se repetir.


Fundado por imigrantes, caixeiros viajantes que gostavam de esporte, mas que não tinham dinheiro para praticar o ciclismo, esporte em voga na época, o Vasco conquistou seu espaço e se fez tão brasileiro quanto qualquer outro brasileiro.


Num tempo em que a ciência ainda debatia a presunçosa superioridade de brancos sobre negros e outros, o Vasco elegeu em 1904, Cândido José de Araujo, um negro, seu presidente...


Talvez por essa razão, em 1924, o Vasco tenha orgulhosamente dito não a arrogância, ao preconceito e a presunção, negando-se a aceitar a imposição dos adversários de só permitir sua participação nas competições junto a eles, se o clube botasse porta a fora, os negros, os mulatos e os operários que faziam parte de seu quadro social e de sua equipe de futebol.


O Vasco não era um ponto de encontro da elite carioca, era o Rio de Janeiro e o Rio de Janeiro, não se resumia a zona sul e sua elite bem nascida e isso, ficou bem claro na resposta dada pelo presidente José Augusto Prestes a AMEA e seus filiados, quando categoricamente, preferiu se alijado da AMEA a aceitar a imposição de “limpar” seu time de 12 atletas negros e mulatos.


Em 1927, sem recursos públicos, no maior mutirão já visto no país, o Vasco inaugurou o primeiro estádio de futebol brasileiro digno desse nome...


Durante a Segunda Guerra Mundial, o Palestra Itália, hoje Palmeiras, sofreu uma virulenta campanha xenófoba e, foi o Vasco, quem primeiro partiu em defesa do clube paulista...


O Vasco jamais admitiu que a colônia italiana e seu clube, fossem trados como “traidores”, apenas por estar à Itália em guerra contra o Brasil.


Ainda durante a guerra, o Vasco cedeu suas instalações para receber os recrutados em todo o país e, sua diretoria comprou e doou a Força Aérea Brasileira, dois aviões a serem usados nas missões de combate na Europa.


No campo esportivo, o Vasco foi o primeiro clube brasileiro a conquistar um título internacional: o Campeonato Sul-Americano de 1948...


Foi o Vasco que quando Zico se aposentou, o homenageou, reconhecendo sua imensa contribuição ao futebol carioca e brasileiro, mesmo que tenha sido o Vasco, muitas e muitas vezes, “vítima” do grande jogador do Flamengo.


Foi o Vasco, o primeiro grande clube brasileiro, a ter como presidente, um ex-jogador, cuja história profissional e pessoal, se confunde com a história do clube.


Esses são fatos e fatos, não se sujeitam a manobras retóricas e histéricas discussões...


Estar na Série B, não foi um desastre, foi um merecido castigo, pois num determinado momento de sua história, o Vasco se submeteu aos caprichos de um insano apaixonado, que julgou ser sua paixão, maior que a decência e o próprio Vasco...


Hoje, quando a partida contra o Juventude acabou, lembrei do meu velho pai que se vivo, teria 83 anos e, provavelmente, teria arrancado a unha do dedo mindinho do pé direito (sua única manifestação de nervosismo, durante um jogo) – chorei, aliás, como sempre choro ao recordar dele, de minha mãe e de meu irmão, também já falecidos.


Depois, sozinho, lembrei do maravilhoso gol do Petkovic, que ao “apagar da luzes” nos “tomou” a taça de campeão carioca de 2001 aos 43 minutos do segundo tempo...


“Vi a bola passar da barreira e vi Elton se atirar em direção a ela e depois, mais nada vi, pois meu peito se encheu de dor, minha boca ficou amarga e minha cabeça não conseguia entender o que havia acontecido – caminhei em direção ao meu quarto, sentei a beira da cama e olhando para o nada, me senti arrasado”...


Nesse momento me veio à cabeça uma frase de meu pai: “Quando sentimos nosso coração doer ao ver alguém ou alguma coisa ser atingida, é porque existem em nós, sentimentos nobres, como compaixão, misericórdia, piedade e fundamentalmente meu filho; amor”!


Ele tinha razão, o que sinto em relação ao Vasco é amor – amor por tudo o que esse clube representa em minha vida e por tudo que ainda irá representar, seja nos momentos de glória, seja nos momentos de derrota.


Voltamos e todos sabem o que essa volta representa.

3 comentários:

Mário Figueirôa disse...

o Vasco, como todos os GRANDES CLUBES que cairam, voltou no ano seguinte à elite do futebol brasileiro.
Parabéns "Seu Fernando" !!!!
Curta muito esse momento de alegria que o Vasco e o futebol brasileiro merecem !!!!

Luciano disse...

Engraçado, conheço vários nordestinos que moram no S e SE e tb vários sulista e sudestinos que moram no NE.
É impressionante, mas nao conheço nenhum lá de baixo que veio para cá e trocou de time, mas o contrário é quase uma regra.
Seria isso um sintoma da baixa alto estima de nós nordestinos?
Seria um sintoma da nossa subserviência?
Seria isso reflexo do bombardeio massivo da mídia local e nacional desses clubes de lá?
Enquanto isso os clubes daqui se esfacelam e vão se acabando, seja por incompetÊncia dos nossos dirigentes, seja por falta de amor de nossos torcedores dúbios ou seja também pelos formadores de opiniões quase todos "filhos da mídia" de lá de baixo.

Kleber disse...

Prezado Fernando,

Parabéns pela volta do Vasco a Série A, e pelo belo, sicero e apaixonado texto. Só conheço a História recente do Vasco, que é de conquistas, títulos e agora de exemplo para os os verdadeiros amantes do futebol. Pois foi o primero clube brasileiro a substituir um pária da estirpe do seu ex-Presidente, por um ídolo que chegou a ser expulso de São Januário por aquele, e hoje tem a honra ser seu atual PRESIDENTE. Via de regra o doloroso momento da derrota deve ser transformado em um momento de reflexão, de correção de erros e principalmente de planejamento, para que se possa superar as adversidades que estão por vir. A volta do Vasco para a Série A, serve de ensinamento não apenas a sua torcida, mais a todas as torcidas que tem seus times subjugados e vilipendiados por ditadores de plantão. Roberto Dinamite está fazendo bem não só ao Clube de Regatas Vasco da Gama, mais a todos os clubes do nosso Brasil.

Não sou Vascaino, mais como amante do futebol sei reconhecer os grandes feitos merecedores de aplausos e elogios.

Mais uma vez Parabéns para toda a nação Vascaina.

Forte abraço,

Kleber.