Quando gestava esse texto, pensei em “pinçar” alguma frase clichê de algum filósofo ou sociólogo para emoldurá-lo e ampará-lo...
Sentei, pensei, folheei alguns livros e finalmente encontrei.
Eram razoáveis, não perfeitas, mas encaixadas no lugar correto, dariam credibilidade e consistência intelectual as linhas seguintes e ao ponto final.
Porém, havia um pequeno problema, quase nada havia lido da farta obra dos escolhidos e, me senti como aquele sujeito que na década de setenta, após folhear algumas páginas do livro “Eram os Deuses Astronautas” de Erich Von Dänikem, passava horas a “despejar” lorota embalada de pseudo-intelectualidade místico-religiosa, como arma de sedução, diante de embevecidas e apalermadas moçoilas, ansiosas por “rebeldes”, “contestadores” e “místicos” de qualquer matiz (diga-se de passagem, Dänikem nunca teve culpa se seus livros e textos foram e são deturpados pelos analfabetos funcionais de ontem, de hoje e de sempre).
Então, resolvi desistir de usar as frases, pois “a fraude intelectual” é a pior das fraudes: faz o fraudador acreditar em seu gênio, pois não haverá de faltar idiotas dispostos a aplaudi-lo e transforma o idiota em caixa de ressonância da farsa pseudo-erudita.
Então, vou de Fernando Amaral mesmo...
Pois bem, nesse momento, diante dos lamentáveis fatos ocorridos nas diversas camadas do campeonato brasileiro de futebol, me vejo diante do “teorema da Tostines”...
“Tostines vende mais por que é fresquinho ou é fresquinho por que vende mais”?
No caso, seria a seguinte a formulação do teorema: “O sistema de pontos corridos, proporciona a malandragem ou a malandragem se aproveita do sistema de pontos corridos”?
Qualquer resposta dada ao “teorema da Tostines”, assim como qualquer resposta dada ao teorema que proponho, será correta, mas...
O sistema de pontos corridos foi estabelecido na Inglaterra em 1888, quando da realização do primeiro campeonato nacional profissional do planeta e, desde então, a liga inglesa mantém a formula (121 anos).
Qual a razão desse sistema?
Lógica pura e simples.
Se não vejamos: se o critério para se avaliar a desempenho é o acumulo de pontos, como seria possível, declarar vencedor um clube com um número menor de pontos?
Entenderam?
Britânica lógica, of course.
E esse sistema é hoje usado em todo o mundo?
Não!
Alguns poucos e raros países ainda cultuam os torneios nacionais e não campeonatos nacionais...
Há uma sutil diferença entre uma coisa e outra, mas ela existe...
Um campeonato reúne um determinado número de equipes que jogam entre si e cujo objetivo é através do acumulo de pontos, conquistar o titulo de melhor competidor.
Um torneio começa com um determinado número de equipes, divididas em chaves onde os participantes acumulam pontos visando alcançar a fase seguinte...
Porém, ultrapassada a fase classificatória, os pontos acumulados são “apagados” e todos os classificados passam a ter as mesmas condições – significa que o vencedor será aquele cujo desempenho é medido pela performance pontual e não geral.
Alguém dúvida que o Brasil em 50 e 82, a Hungria em 54, a Holanda em 74 e 78, a Suécia em 94 e tantas outras seleções, perderiam a disputa daquelas copas, se ao invés de um torneio, tivessem disputado um campeonato?
Em 1950, o Brasil vestiu-se de arrogância e quebrou a cara...
Em 1982, mais uma vez faltou humildade para perceber o momento de segurar o jogo e o resultado todos conhecemos...
A Hungria, cheia de empáfia, escalou Puskas machucado e jamais considerou a possibilidade de perder o jogo para a Alemanha – perdeu!
A Holanda em 74 manteve o mesmo “modus operandi”, diante de uma equipe forte, bem estruturada e que a observou durante toda a competição – perdeu!
Em 78, um “erro de calculo” de Resenbrinck, fez com que a bola tocasse a trave aos 44 minutos do segundo tempo – o resultado do “erro” foi à perda do título!
Em 1994 nos Estados Unidos, a Suécia tinha a melhor equipe, mas saiu do campeonato em função de um erro de seus zagueiros que permitiram que o pequenino Romário estivesse livre, leve e solto onde jamais poderia estar.
Em todos os países afetados por esses fatos, o grito era um só: “INJUSTIÇA”!
Não foi!
A Copa do Mundo é um torneio e como tal, o que está em jogo é o "momento" de cada um e não, sua regularidade.
Vocês já perceberam que não necessariamente, um técnico vencedor numa Copa do Mundo, obtém o mesmo sucesso num campeonato de pontos corridos?
Façam um levantamento e depois me contem.
Portanto, a velha Inglaterra foi perfeita ao criar o tal sistema para chegar aos vencedores de seus campeonatos – tão perfeita que mesmo países que jamais tiveram pelos ingleses nenhuma simpatia, adotaram.
A MSL (Major Soccer League) americana, não é um campeonato, é um torneio, assim como todos os outros esportes no país...
Recordem que nos Estados Unidos não existe acesso e nem decesso – lá o esporte é elitista e estanque.
O México seque os padrões americanos, mas existe acesso e decesso.
E, sobre a “malandragem” hoje tão em voga por aqui?
Sim, o sistema de pontos corridos proporciona a utilização da malandragem, assim como a malandragem se aproveita do sistema...
Mas é o sistema o culpado?
Não mesmo...
São os malandros...
Culpar o sistema seria o mesmo que culpar os carros pelos acidentes, ou os revolveres pelas mortes...
Motoristas burlam as regras e aí, matam e morrem...
Pessoas apertam gatilhos e aí, matam...
Malandros existem em todos os lugares, falam todas as línguas, mas em alguns países são trados com condescendência e até atraem admiração.
No Brasil, somos assim, somos frouxos e se o malandro e a malandragem nos beneficia, aplaudimos entusiasticamente.
Agora mesmo, Natal vive o drama de Amity, a pequena cidade onde se desenrola o filme Tubarão (1975)...
Alertado pelo xerife local (Roy Scheider), sobre a presença de um enorme e voraz tubarão nas águas das praias que banham a cidade, o prefeito nega-se a interditar o banho, temendo a fuga dos turistas e a conseqüente perda de divisas – o resultado disso foi um delicioso (para o tubarão é claro) período de refeição a base de turistas, que só terminou com a morte do gigantesco animal.
Aqui, temendo prejuízos e perda de dinheiro para os organizadores e cofres da municipalidade, as autoridades (o vice-prefeito por coincidência é um dos donos da festa) fizeram ouvidos moucos para o alerta das autoridades médicas e mantiveram o Carnatal, mesmo com o vírus H1N1, grassando pela cidade...
Em Brasília, o governador Arruda, é flagrado numa mutreta por câmeras de vídeo e candidamente, diz que o dinheiro era para comprar panetones...
O Presidente da República vê os vídeos e cinicamente diz: “as imagens não falam por si só”...
Entenderam?
O futebol é o espelho da sociedade e, se a sociedade é passiva, frouxa e conivente com a malandragem, ela irá prosperar até consumir tudo a sua volta...
Encerro com duas opções: uma, de um tempo onde os homens tinham noção de honra e a outra, uma paródia, onde o autor mostra o cinismo que tomou conta de todos nós.
“Mas não basta para ser livre ser forte, aguerrido e bravo; povo que não tem virtude acaba por ser escravo”.
(Trecho do hino do Rio Grande do Sul – letra de Francisco Pinto da Fontoura)
“Caiam mil homens a minha esquerda e dez mil a minha direita, não serei atingindo, pois terei em minha mão uma AK47 e sobre meu corpo um colete a prova de balas”
(Oração do malandro para São Bezerra da Silva – paródia de Alexandre Erhardt)
Escolham, mas, por favor, não culpem sistemas, culpem pessoas.
Um comentário:
Analogicamente falando, não culpem o Estatuto do ABC FC pelo fiasco do Clube na temporada 2009.
A respostas está naqueles que agem, nas pessoas, absolutamente nelas.
Sds Alvinegras.
Abecedista.
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