sábado, março 13, 2010

Adriano Magrão, Mathias Sindelar, Ladislav Petráš e Afonsinho...

Adriano Magrão “pipocou”...


Falou demais e contou à imprensa o que ele e um grupo de jogadores do América, havia “combinado” em relação ao treinador Francisco Diá...


Diante da justa revolta dos torcedores rubros, “pipocou” e desdisse o que havia dito, mas como era de ser esperar, a emenda saiu pior que o soneto e então, Adriano veio com aquela conversa mole de tudo não passou de um mal entendido...


Para piorar, assumiu o estereótipo de que jogador de futebol só serve para chutar bolas, correr, dar uns driblezinhos e ficar de boca fechada, pois quando resolve falar, acaba tropeçando nas palavras...


Mas talvez, Adriano Magrão tenha razão: falar significa ter o que dizer, significa ter embasamento, significa ter coragem para encarar o “refluxo da maré”, e mais, significa ter uma causa, uma razão e um por que!


Quem disse que boleiro não derruba ”treineiro”?


Mas o que esperar de uma classe desunida, despreparada, iletrada e incapaz de compreender seu papel social e sua relevância para milhões de jovens?


Se o time não aceitou o “esquema tático” proposto por Diá, ou se não conseguiu “engolir” Diá e sua maneira de ser e de trabalhar, teria sido muito mais honesto e digno, que chamassem a direção do clube e dissessem: “vamos para os dois jogos com o Corintians e com o São José, para fazer o nosso melhor, mas depois disso, ou os senhores mandam Diá embora ou, vamos nós”!


Certamente seriam mais respeitados, certamente seriam compreendidos e certamente, mostrariam algum caráter...


Porém, faço questão de lembrar que o futebol teve sim, homens capazes de falar e de enfrentar as conseqüências de suas palavras ou atos...


Presto aqui, minha homenagem a alguns:


Mathias Sindelar, na verdade, Matĕj Šindelař...


Nascido na Moravia, região da então Tchecoslováquia, Sindelar foi com seus pais para a Áustria com 2 anos de idade e lá, acabou por se tornar o maior jogador de futebol de seu tempo e, ainda hoje, considerado o maior esportista austríaco do século XX.


Magro e elástico, Sindelar era conhecido com “Der Papierene” ou, “Homem de Papel”...


Sua carreira começou no Hertha Wien e depois, no Wiener Amateure, time que se tornaria o Austria Wien...


Jogador brilhante fez parte da seleção austríaca que ficaria conhecida como “Wunderteam” ou “Time Maravilha”, treinada por Hugo Meisl.


Em 12 de março de 1938, a Whermacht (Força de Defesa da Alemanha Nacional-Socialista) atravessa a fronteira da Áustria, aproveitando o fracasso do governo do Chanceler Kurt Schuschnnig e ocupa o país...


Era o tão sonhado Anschluß (Anexação) do Governo Nacional-Socialista da Alemanha e de seu líder, o Chanceler Adolf Hitler.


A partir de 1938, a Áustria desaparece e passa a ser chamada de Ostmark, tornando-se mais um estado alemão...


As equipes de futebol da Áustria passam a disputar o campeonato alemão e, seus jogadores principais, passam a servir a seleção da Alemanha...


Menos um...


Mathias Sindelar.


Sindelar negou-se sistematicamente a servir ao Reich Nacional-Socialista, alegou a idade avançada em primeiro lugar, e depois, as “muitas contusões”...


Porém, num amistoso entre a seleção da Alemanha e o Áustria Wien – dizem alguns que o resultado deveria ser um empate – Mathias Sindelar marcou um gol e deu o passe para que Sesta marcasse o segundo...


Sindelar comemorou a vitória com raiva, com desprezo pelos Nacional-Socialistas e com tristeza pelo fim da Áustria...


Deixou o futebol, mas não deixou de desprezar a Alemanha e seus governantes.


Em 1939, Mathias Sindelar e sua noiva Camilla Castagnola, foram encontrados mortos em seu apartamento, e segundo as investigações, a morte por asfixia foi provocada por monóxido de carbono – algo bastante comum a época – mas devido Sindelar, estar sendo investigado pela Gestapo, correram rumores de um provável assassinato.


Sindelar está enterrado no Cemitério Central de Viena, ao lado de Beethoven, Brahms, Schubert, Johann Strauss e Johann Strauss Jr...


Ladislav Petráš, ponta direita da Tchecoslováquia ficou famoso ao desafiar os comunistas que governavam seu país...


Na Copa do Mundo de 1970, ao marcar o primeiro gol do jogo entre a Tchecoslováquia e o Brasil, Petráš que era católico, correu por todo o campo, caiu de joelhos em frente à tribuna de honra, onde o presidente da federação tcheca e alguns membros do governo tcheco estavam, fez o sinal da cruz e ficou por alguns segundos de mãos postas e olhar fixo no céu...


Seu ato foi visto como uma provocação por parte da cúpula do partido comunista da Tchecoslováquia, pois o regime pregava o materialismo e mantinha as religiões sob total controle da Státni bezpečnost (Polícia Secreta da então Tchecoslováquia)...


Ao voltar para casa após a Copa, Petráš foi perseguido, perdeu alguns privilégios que os atletas de países comunistas tinham e, vez por outra, era chamado à sede da Státni bezpečnost, para prestar esclarecimentos...


Petráš só continuou a jogar por ter tido o apoio e a proteção de vários companheiros de seu clube, o Inter Bratislava e da seleção da Tchecoslováquia...


Petráš acabou conquistando o título de Campeão da Eurocopa de 1976, quando a Tchecoslováquia venceu a Alemanha nos pênaltis por 5x3, depois de um empate em 2x2 no tempo normal e na prorrogação.


Afonso Celso Garcia Reis, paulista de nascimento, ficou famoso no Rio de Janeiro como Afonsinho...


Meia de alta qualidade técnica, Afonsinho falava...


Falava contra o regime militar, falava contra a lei do passe e falava contra os dirigentes e empresários, a quem chamava de “escravocratas”...


Sem ter como puni-lo, o regime militar pressionou os dirigentes, que é claro, sem pestanejar, aceitaram a pressão e o proibiram de jogar por ele usar cabelos compridos e barba grande...


Parece brincadeira, mas é fato, vivi esse tempo...


Sem poder jogar, Afonsinho partiu para a briga e iniciou uma grande batalha jurídica e política, na luta pelo direito de ser o dono de seu próprio passe...


Venceu, voltou a jogar, mas nunca foi convocado para a seleção brasileira, mesmo que naquele tempo, tivesse amplas condições de ser titular absoluto da equipe...


Nem o regime e nem os dirigentes o perdoaram por ser inteligente, saber falar, assumir suas posições e ter ganho a liberdade de poder escolher onde jogar.


Afonsinho hoje é médico, e faz um belo trabalho de assistência a pessoas carentes nas favelas do Rio de Janeiro...


Viu Adriano Magrão, esses sujeitos (tem outros), não tiveram medo de uma torcida e de um grupo de dirigentes – Sindelar e Petráš, enfrentaram regimes brutais, policias secretas eficientes, competentes e mortais – Afonsinho, enfrentou o regime militar, sua policia e dirigentes e empresários, num tempo em que confrontar era risco de vida.


A diferença é que eles tinham uma causa, sabiam falar e, jamais participaram de grupelhos – eram homens de principio.



2 comentários:

Anônimo disse...

Fernando,
Mais uma vez você vem dar uma aula de história em seu blog. Uma história onde se destacam Homens com H maiúsculo e não vermes tipo Adriano Magrão e outros que estão no plantel do América. Que a torcida exija uma posição da diretoria em relação aos mesmos, em não sendo tomada façamos boicote ao time enquanto esses inespresíveis seres vestirem a camisa rubra. Eles têm que saber que a instituição América com toda a sua torcida merecem respeito!!!!

Henrique Jordon disse...

Um tópico como há muito ñ via.
Parabéns pela forma objetiva que abordou o assunto.
Vc citou nomes que além d terem personalidade, tinham ideais.
Já vivemos um mundo sem ideais há algum tempo, mas agora tb temos um mundo em q as pessoas ñ tem personalidade...
Não irá demorar e não seremos nem humanos mais.
Magrão! Vc nunca será ídolo do América ou de qualquer outro time por esses simples motivos: não tem personalidade, não tem ideal, e por último,mas não menos importante, não joga a bola que nos faria esquecer das suas falhas.