Brasileiros ganham bem jogando
com pedreiros e eletricistas na Europa
Rafael Reis
“Ganho aqui mais do que se
estivesse em qualquer Estadual do Brasil, talvez com exceção do Paulista. ”
O meia Caio Garcia, 28, não joga
em nenhum grande centro do futebol mundial.
Também não disputa a primeira,
nem a segunda e nem mesmo a terceira divisão.
Seu ganha pão é ao lado de
pedreiros, eletricistas, biomédicos e até cobradores de imposto na quarta
divisão da Suíça.
Assim como seus rivais, o FC
Fribourg é uma equipe semiprofissional.
Paga salário para Caio e mais
dois franceses.
O resto dos jogadores recebe
apenas uma ajuda de custo e completa a renda com profissões distantes do mundo
da bola.
“No começo, foi um pouco estranho. Eu reclamava que eles não corriam
nos treinos. Mas você tem que se adaptar a isso. Não dá para cobrar tanto. Às
vezes, o cara já chega aqui cansado do trabalho. ”
Revelado pelo ABC, Caio passou
pelo futebol espanhol, jogou na primeira divisão do Uruguai e até atuou nas
fases preliminares da Liga Europa.
O meia foi parar na praticamente
amadora quarta divisão suíça depois de uma desilusão.
“Levei calote no Uruguai. Jogava em um estádio para 30 mil pessoas,
dava entrevista na TV, mas não recebia. Então, de que adiantava? ”,
questiona.
“Foi quando apareceu meu empresário com essa proposta. Ele foi honesto:
disse que era a pior divisão em que eu poderia jogar, mas que o país era de
primeiro mundo. Vim pela garantia que a Suíça me dá. Aqui, tenho certeza que
vou receber, posso pensar em um futuro para mim e para minha família. ”
O caso de Caio não é o único.
Em busca de estabilidade e
segurança raras em clubes pequenos do Brasil, pelo menos dez brasileiros jogam
hoje ao lado de amadores na quarta divisão da Suíça.
Um deles é o meia Gustavo
Campello, 26, que defende o Wangen bem Olten.
Ex-Grêmio e Juventude, ele
encontrou abrigo por lá depois de ficar um ano sem jogar devido a um problema
de saúde na família e ver frustrada sua transferência para o Siena, da Itália.
“Quase todo mundo aqui trabalha, além de jogar futebol. Por isso, a
gente treina só três ou quatro vezes por semana. Não é aquela estrutura”,
afirma.
Mas Gustavo não tem um mínimo de
arrependimento por ter feito essa escolha.
Mesmo jogando em um nível
praticamente amador, acredita que está muito melhor do que se estivesse em
casa.
“Mesmo nessas condições, é viável. No Brasil, é muito difícil para quem
está nas divisões de baixo. Ou você não recebe, ou o salário é muito baixo.
Ganho aqui mais ou menos uns 3 mil francos (o equivalente a R$ 12 mil) ”,
completa.
Nenhum comentário:
Postar um comentário