Imagem: Trivela
Há 55 anos, uma vitória dos
operários da bola: o Campeonato Inglês abolia o teto salarial de £20
Por: Leandro Stein
Muito se discute sobre os limites
financeiros da Premier League.
Especialmente depois do último
acordo de televisão, o dinheiro passou a jorrar nos clubes.
E os impactos são diversos, desde
a força de mercado em relação a outras ligas até a inflação no valor de muitos
jogadores.
Salários cada vez mais altos, que
refletem uma transformação ocorrida há exatos 55 anos.
Em 18 de janeiro de 1961, a
Football Association aboliu o teto salarial que vigorava no futebol inglês.
Nenhum jogador do país recebia mais do que (pasme) £20 semanais.
Obviamente, o custo de vida no
Reino Unido era bastante diferente há 55 anos.
Aquelas £20 equivaleriam nos dias
atuais a quase £500.
Um prato do tradicional “fish and chips” custava seis
pennies (os centavos britânicos), enquanto o ingresso para a final da Copa da
Inglaterra valia £2,5.
Transformação maior, contudo,
aconteceu no próprio futebol.
Hoje, os salários atingem a casa
das centenas de milhares de libras.
Wayne Rooney, por exemplo, recebe
do Manchester United £250 mil semanais.
Em 1961, os jogadores ameaçaram
até mesmo uma greve contra o teto salarial, apoiados pela Associação de
Futebolistas Profissionais.
Ex-jogador de Brentford e Fulham,
Jimmy Hill se tornou o presidente da entidade em 1957, encabeçando o movimento.
A justificativa da Football
Association e da Football League para manter o teto era de que os futebolistas
já ganhavam 25% a mais do que o operário médio da indústria britânica.
Em uma das reuniões, que contaram
até mesmo com a presença do Ministro do Trabalho, foram respondidos pelo
zagueiro Tommy Banks, do Bolton:
“Qualquer um pode fazer o serviço de um mineiro, mas poucos mineiros
podem jogar futebol diante de 30 mil torcedores todas as semanas”.
A Football Association e a
Football League ainda tentaram propor um novo limite de £30 semanais, rechaçado
de maneira unânime por 250 membros da PFA presentes no encontro.
Porém, diante da iminência da
greve, acabaram derrubaram o teto três dias antes da promessa de paralisação.
E o impacto foi imediato, com os
aumentos salariais dos jogadores.
Johnny Haynes, atacante da
seleção inglesa e do Fulham, se tornou o primeiro atleta a superar a barreira
das £100 semanais.
“A liga estava em um túnel do tempo feudal. Aquele dia foi um divisor
de águas, mas mesmo assim tentaram derrubar o acordo. Eles passaram gerações
olhando os jogadores sob os seus narizes e naquele momento, mesmo no encontro
com o ministro, presumiram nos tratar como seres inferiores. Mas era a cargo de
nós que a cultura do futebol se enraizou”, comentou Hill, em entrevista ao
Guardian.
“Nunca mudei minhas crenças. A batalha que lutamos foi para um jogador
ser livre para negociar, por isso valeu a pena, sem restrições. A estupidez,
hoje, está nos salários que muitos clubes assumem e não podem pagar. Isso é
loucura”.
Atualmente, outras discussões
envolvem o salário dos jogadores, especialmente quando comparado a outras
profissões.
Consequências do livre mercado e
do potencial comercial do esporte.
Há mesmo quem proponha a volta do
teto salarial – embora isso tenda a uma debandada para outros países vizinhos.
Não dá para negar, entretanto, o
tamanho da vitória ocorrida em janeiro de 1961.
Em um esporte que já mobilizava
multidões, o direito básico dos jogadores como trabalhadores era receber de
maneira digna pelos lucros que geravam aos clubes e à liga.
Informação: os salários na
Inglaterra são pagos semanalmente e não mensalmente.
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