Imagem: AP/Carlo Fumagalli
Holanda 1988:
A laranja campeã da Europa
A pandemia da
Covid-19 adiou a tradicional Eurocopa, que aconteceria neste ano.
O continente
europeu ficará sem sua principal competição de Seleções, por isso, vale
relembrar uma das melhores equipes que já ganharam o torneio: a Holanda
de 1988
Por Lucas
Costa/Universidade do Esporte
A Holanda é
uma das seleções mais tradicionais e fortes do futebol mundial, já possuiu
esquadrões lendários e inesquecíveis na história, da Laranja Mecânica de Cruyff
à de Robben, Sneijder e Van Persie.
Todas elas
encantaram os amantes do esporte bretão, com um futebol vistoso, bem jogado;
porém, na hora da consagração - ser campeão e levantar taças -, as duas têm
algo em comum, bateram na trave.
É
indiscutível o legado que a Holanda dos anos 1970 deixou para o futebol.
O jogo
envolvente de toque de bola, a movimentação dos jogadores que não possuíam
posição fixa no gramado, mas que no fim, não conseguiu ser campeã, amargurando
derrotas em duas finais consecutivas de Copa do Mundo - 1974/78.
Já a de
Robben e cia, perdeu para a Espanha, na decisão de 2010 na África do Sul e caiu
nas semifinais de 2014 nos pênaltis contra a Argentina de Messi.
Coube a outro
esquadrão Holandês quebrar esse estigma de time que "joga bonito, mas
perde", de seleção do "quase".
Após o
Mundial de 1978, a Holanda não conseguiu a classificação para a Copa 82 e nem
de 86, quando perdeu a vaga na repescagem para a Bélgica por conta de um gol
marcado fora de casa pelos belgas.
Ainda ficou
de fora também da Euro de 84, pois na qualificação para a competição, ficou
empatada com a Espanha em pontos, mas foi eliminada nos critérios de desempate
pelo número de gols marcados.
O time que
revolucionou o futebol na década passada já não existia mais.
A situação
dos holandeses era bastante complicada, então se perguntaram o que fazer para
mudar isso?!
A decisão foi
trazer de volta para o jogo o técnico do Carrossel Holandês, Rinus Michels,
comandante da brilhante seleção de 74.
Se o time de
1988 não era revolucionário como o de outrora, Michels ainda assim pôde contar
com craques indiscutíveis como a dupla de zaga formada por Ronald Koeman e
Frank Rijkaard.
No ataque com
o polivalente, habilidoso, melhor jogador do mundo de 87 e capitão da equipe, o
lendário Ruud Gullit e jogando ao seu lado "somente" um dos mais
letais atacantes da história, Marco Van Basten.
Além de
outros bons jogadores compondo o time como o goleiro Van Breukelen, os laterais
Berry van Aerle e Adri van Tiggelen, os meias Jan Wouters, Arnold Mühren
Gerald, Vanenburg e o atacante Erwin Koeman.
Uma
curiosidade é que logo quando assumiu a seleção, Michels não via com bons olhos
Van basten, achava o atacante muito preciosista na hora de marcar os gols, e
pouco adepto a ajudar o time na marcação.
Sendo um dos
pensadores do Futebol Total, Michels exigia comprometimento de todo o time na
questão coletiva.
Por isso nas
eliminatórias para a Euro de 88 optou por usar ao lado de Gullit outro jogador,
John Bosman.
Mas isso
mudou na Eurocopa, para a felicidade dos holandeses.
Marco mostrou
porque ele é um dos maiores jogadores de todos os tempos.
A competição
foi realizada com dois grupos.
A Laranja
caiu num grupo que contava com URSS, Inglaterra e Irlanda.
O primeiro
jogo foi contra a URSS, que tinha em seu elenco o ótimo goleiro Dasayev.
Sem conseguir
furar o bloqueio adversário, o time de Gullit e Marco foi derrotado por 1 a 0.
A segunda
rodada botou o time frente à Inglaterra, onde Marco Van Basten
"gastou" todo seu futebol, marcou três gols na partida que deu a
vitória holandesa por 3 a 1 contra os ingleses.
Na última
rodada, venceu a Irlanda pelo placar mínimo de 1 a 0, o suficiente para
garantir a classificação para as semis.
Rinus Michels
encararia um adversário conhecido, no mesmo território que o enfrentara antes.
Holanda e
Alemanha reprisaram ali o encontro da final da Copa do Mundo de 74, que estava
guardado na memória do técnico da Laranja.
Era a chance
da vingança.
Um jogo
extremamente pegado, duro, mas isso não significa que foi um jogo ruim, pelo
contrário, foi emocionante.
Houve dois
pênaltis no jogo, um para cada lado, os dois no segundo tempo e ambos
convertidos.
O primeiro
para os alemães, anotado por Matthäus no lado direito do gol, o goleiro Hans
Van Breukelen ainda tocou na bola, mas não conseguiu impedi-la de entrar.
Atrás do
placar e com o tempo sendo seu inimigo, a Holanda foi para cima e aos 34
minutos da etapa final conseguiu um pênalti.
O empate
viria pelos pés do zagueiro artilheiro Ronald Koeman, num chute ao lado
esquerdo do gol, que deslocou o goleiro alemão.
Euforia na
arquibancada da torcida holandesa.
Cada vez mais
próximo ao final do jogo, o jogo estava empatado e a dois minutos do fim do
tempo regulamentar, brilhou a estrela do camisa 12 holandês.
Marco Van
Basten marcou o segundo gol, desempatou o placar, vingou a derrota de 74 e
colocou a Holanda na final da Euro.
A festa
dentro de campo era grande, a felicidade do gramado contagiou as arquibancadas
do lado holandês.
Em
comemoração, Ronald Koeman provocou de forma inusitada numa cena que está
marcada na rivalidade Alemanha x Holanda.
Depois de
trocar a camisa com meia Olaf Thon, o zagueiro passou a camiseta do adversário
em suas partes íntimas provocando a torcida rival na casa deles.
A final
reservou um confronto já visto na primeira fase: URSS X Holanda, agora valendo
o título.
Os soviéticos
derrubaram os italianos para chegar à final.
Era mais uma
revanche para a Holanda, que sem dificuldades ganhou por 2 a 0 e sagrou-se
campeã na terra onde havia perdido um Copa do Mundo, 14 anos antes.
Os gols da
partida foram marcados pelo camisa 10 e homem que levantou a taça, Ruud Gullit;
cabeceou forte, sozinho, dentro da grande área para abrir o placar.
O segundo gol
está marcado como um dos gols mais bonitos de todos os tempos, e não podia ter
sido feito por outro jogador além de Van Basten, simplesmente antológico.
Marco Van
Basten acabou como artilheiro da competição com cinco gols marcados.
A URSS ainda
teve um pênalti a favor, mas a cobrança foi defendida por Van Breukelen, que já
havia pegado um pênalti em finais daquele ano, na decisão Copa dos Campeões de
87/88, quando seu time PSV foi campeão.
Assim, na
Alemanha, com direito a vingança contra os donos da casa, a Holanda conquistou
seu primeiro e, até o momento, único título internacional, quebrou a maldição
de títulos para se tornar campeã europeia ao vencer bons adversários, e
contrariou os céticos que diziam que é impossível ser campeão jogando bonito.
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