sexta-feira, novembro 10, 2006

No Brasil ainda existem os que sabem assumir seus erros, pena que estão no lugar errado...


"Estava jogando uma pelada no Rio de Janeiro e me ofereceram esta oportunidade. Minha família passava necessidades. Se eu não tivesse feito talvez estivesse por aí roubando".
Essa é a defesa apresentada por Carlos Alberto, volante do Figueirense após a Folha de São Paulo ter descoberto que ele havia falsificado sua certidão de nascimento. Como me postar diante disso? Como não sentir pena dele? Como não sentir asco diante dessa dura realidade?
Tentarei responder a cada uma dessas perguntas, que desde ontem me martelam a cabeça. Carlos Alberto cometeu um ilícito, disso ninguém tem dúvida, ele próprio reconhece e por mais dramática que seja sua história, ele deve ser punido ele e quem lhe ofereceu a tal “oportunidade”. Mesmo que eu saiba que dificilmente ele os entregará. É um homem simples e os homens simples costumam ser gratos aos seus verdadeiros ou falsos benfeitores. Pedir sua punição pode parecer cruel, talvez diante das circunstâncias, seja mesmo, mas deixá-lo impune, seria compactuar com o erro, seria como dizer, tudo bem, o fim justificou o meio... Agora sei como é difícil lidar com a tênue linha entre o legal e o moral, entre a justiça e a permissividade travestida de bondade. Sim, ele deve ser punido, mesmo que meu coração se comova com sua história, mesmo que me doa pedir sua punição. Mas quero divagar um pouco, quero falar sobre o meu asco, meu nojo e minha revolta. Carlos Alberto é o retrato de milhões de brasileiros desamparados e vítimas, de um estado corrupto, perdulário, ineficiente e regulamentador. Carlos Alberto é um jovem negro, nascido em uma favela e que cometeu um erro, deve pagar por ele, mas Carlos Alberto, ainda tem algo que me faz admirá-lo. Dignidade! Diante do “flagrante”, a pricípio se esquivou, o que podemos considerar normal, mas depois veio a público e assumiu seu erro, não negou, não imputou a outros sua culpa, não alegou desconhecimento do fato, nem usou de metáforas familiares, para explicar que um pai, nem sempre sabe o que seu filho faz na cozinha. Carlos Alberto por ser um jovem sem muita instrução, não aprendeu a mentir descaradamente, não soube usar a televisão, com a desenvoltura de certos senhores engravatados e de nobre pedigree, ele apenas sentou-se diante das câmeras e falou, falou e chorou, chorou um choro sincero não tenho dúvidas e se foi sabendo que será jogado aos cães. Sua carreira pode findar e ao findar, terá voltar para a favela, de onde nunca deveria ter ousado sair, para ensinar a milhões de brasileiros, que um homem pode cometer desatinos, mas que um homem, jamais deve mentir. Esse tape, deveria ser passado obrigatoriamente na abertura dos trabalhos das casas legislativas de todo o país. Mesmo que provocasse risos na grande maioria dos presentes.

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