Uma janela precisa mostrar mais que um beco, precisa mostrar um horizonte amplo...


Certa vez ainda muito jovem, ouvi um amigo de meu avô dizer cheio de orgulho, que seus mais de 30 anos de janela, lhe conferiam uma larga experiência. Aquela frase dita com tanta segurança me causou forte impressão, passei a admirar aquele homem, pois via nele alguém em quem confiar. Imaginava que suas opiniões seriam sempre válidas e suas observações infalíveis. Um dia, ainda acometido pelo entusiasmo contei a meu avô meu sentimento em relação a seu amigo. O velho João Gilberto franziu a testa, me olhou fixamente e disse: “Meu neto, acautele-se, pois tudo vai depender do lugar para onde essa janela estiver voltada. Se for larga e descortinar uma paisagem repleta de personagens, cores, luzes, sombras e etc... Você terá aprendido muito, mas se estreita for e mostrar apenas um beco repleto de gatos e ratos, você se tornará um profundo conhecedor do comportamento dos gatos e dos ratos. Mas terá dificuldades, para entender qualquer outro animal”. Hoje compreendi o que quis dizer meu avô, pode até parecer burrice minha, ter demorado tanto tempo, mas sou assim, meio ingênuo, meio desligado. Ouvindo a transmissão do jogo, América e Avaí, acompanhei atentamente, quando o comentarista pedia quase aos berros a entrada do meio campista Leandro Sena, pois na opinião dele (comentarista), o jogador, deveria substituir Renan na lateral, já que era canhoto e cobriria bem o meio campo. Ao ver se dirigir para assinar a súmula o atleta Du, o comentarista, disse em tom de revolta: “É isso mesmo, cada técnico faz o que quer, coloca quem quer na hora que quer”. Não satisfeito, após um erro do atacante Max, que entrara no lugar de Thiago Cavalcanti, exclamou: “Esse Max merece uma dúzia de bolos”. Minutos depois o Max ainda com as mãos inchadas pelos bolos aplicados sem dó nem piedade, participou da jogada que redundaria no terceiro gol do América. Por ironia, o autor do gol foi Du, que na ótica do comentarista, deveria ter permanecido no banco... “É isso mesmo, cada técnico faz o que quer, coloca quem quer na hora que quer”. Ao desligar o rádio, lembrei de vovô e concluí: “Alguém que passou a vida a observar os gatos e os ratos do beco, nunca poderia entender a ousadia da raposa”.