terça-feira, dezembro 16, 2008

Na maioria das vezes, silenciar é sinal de inteligencia...

Imagem: FFA (Queenslands Roar FC (de branco) x Newcastle Jets FC)




O motivo dessa postagem me foi dado por um torcedor que fez o seguinte comentário no blog de Marcos Lopes sobre a contratação do meia atacante Marcio Luiz Andurens de 27 anos, conhecido no mundo da bola como Marcinho (Marcinho esteve em 2007 no Oswaldo Cruz disputando a Série A2 do Campeonato Paulista, jogou com meu filho Alexandre e, segundo me disse Alexandre, a torcida do América não irá se decepcionar com ele)...


O comentário foi o seguinte (grafia do torcedor):

“Vije Maria, tem um aí que já bateu até na Austrália... Meu Deus!


É lamentável que ainda hoje, pessoas expressem opiniões com base no senso comum, pois os meios necessários para o conhecimento estão à disposição de todos.


O comentário acima está impregnado de desinformação, pré-conceito e egocentrismo, além de uma inexplicável tentativa de inferiorizar o atleta.


Mas vamos aos fatos...


Concordo com o torcedor que o futebol australiano esteja na periferia do futebol mundial e que por sua vez, o futebol da província de Queensland esteja ainda num patamar inferior.


Mas qual a razão disso?


O esporte principal na Austrália é o rúgbi, esporte que, aliás, deu origem ao futebol como conhecemos (o futebol surgiu de uma cisão entre os praticantes do rúgbi em 1846, pois até então, o jogo era jogado com as mãos e os pés) e no rúgbi meu caro e desinformado torcedor, a Austrália está entre os grandes do mundo.


Apenas a título de informação, o famoso Charles Miller, pai do futebol brasileiro, foi um craque no cricket, consagrado tenista e temível jogador de rúgbi (talvez por isso tenha inscrito seu nome na história, pois o fato de conhecer mais, o fez mais capaz).


Miller fundou o São Paulo Athletic Club, primeiro time de rúgbi do país.


Charles Miller dizia que amava o futebol, mas considerava o rúgbi mais completo, pois no rúgbi não há lugar para o jogador individualista; “reter a bola é prejuízo, não passá-la é suicídio”.


Voltemos à Austrália, os Wallabies como são conhecidos os jogadores de rúgbi da seleção nacional(homenagem ao marsupial Wallaby que é encontrado no país), são bi-campeões mundiais invictos e uma vez vice-campeões mundiais com apenas uma derrota.


Nos jogos do campeonato local de rúgbi, é comum público acima de 50 ou 60 mil pessoas em média (coisa pouco vista no futebol do Brasil como um todo e nunca vista por aqui em particular).


Seus estádios são confortáveis e multiuso, pois servem tanto ao rúgbi, como ao cricket e ao futebol...


O AMMI Stadium de Adelaide tem capacidade para 51.515 espectadores, o ANZ Stadium ou Telstra Stadium de Sydney, comporta 83.500 torcedores, o Melbourne Cricket Ground, recebe 100 mil pessoas e o Sydney Football Stadium tem capacidade 41.159 torcedores.


Considerado na Inglaterra como o primo aristocrático do futebol, o rúgbi acabou perdendo espaço para o futebol como esporte de maior apelo popular, mas no País de Gales, na Austrália e na Nova Zelândia, é claramente o esporte que mais atrai multidões.


Na vizinha Argentina apenas para ilustrar, o rúgbi é praticado a mais de 100 anos e Ernesto Che Guevara foi praticante e entusiasta do esporte.


A Copa do Mundo de Rúgbi só perde em número de telespectadores para a Copa do Mundo de Futebol e para a Eurocopa, ficando a frente das Olimpíadas.


E como é o futebol na Austrália?


A Football Federation Australian, foi fundada em 1961, filiou-se a FIFA em 1963 e em 2005, deixou a Confederação de Futebol da Oceania para ingressar na Confederação Asiática de Futebol.


A mudança buscou dar ao futebol do país maior visibilidade e, portanto, melhor possibilidade de atrair grandes patrocinadores, já que o nível das disputas entre as nações da Oceania, são em geral de baixo nível técnico e atraem pouco interesse da mídia mundial (devido à maioria dos países que compõem o continente serem formados de minúsculas ilhas).


Mas, ao assinar sua ficha de inscrição na Confederação Asiática, os australianos tinham também em mente tornar o caminho para a Copa do Mundo menos áspero, pois as eliminatórias asiáticas garantem quatro vagas diretas e, ainda, permitem que o quinto colocado dispute um play off com o melhor qualificado da Confederação da Oceania.


No campo interno, os australianos vêm se organizando ao longo tempo.


Livres de uma visão megalomaníaca, conscientes da fragilidade do futebol em seu país, eles buscaram estruturar o esporte de forma consistente e empresarial.


Hoje na Austrália existe apenas uma divisão; a Hyundai Australian League, composta por oito equipes profissionais (na temporada 2009, mais duas equipes irão participar) e organizadas como empresas.


As demais equipes que disputavam a antiga National Soccer League e que não estavam preparadas ou, não aceitaram as mudanças, voltaram a disputar as ligas regionais e continuam semi profissionais ou amadoras.


Sem criar barreiras, os australianos convidaram o Wellington Phoenix da Nova Zelândia, para fazer parte da Hyundai A-League, e com isso, abriram as portas do rico mercado do país vizinho.


O Queensland Roar FC onde jogou Marcinho está localizado na cidade de Brisbane e foi fundado em 2005 com o objetivo de substituir o Brisbane Lions que preferiu continuar amador.


Seu treinador é Frank Farina, ex-jogador e treinador da seleção do país, com passagem pelo futebol belga, francês, italiano e inglês.


O clube tem 24 patrocinadores e entre eles, podemos encontrar o canal de TV Fox Sports, a Hyundai, a companhia aérea Qantas, a destilaria Ballantines (whisky), a cervejaria Carlsberg, o aeroporto de Brisbane e o Governo do Estado de Queensland.


A equipe joga suas partidas no Suncorp Stadium com capacidade para 52.500 espectadores e seus jogos costumam atrair um bom público.



Bem, espero que com essas informações, o “espantado” torcedor americano, tenha agora, certeza absoluta que o Marcinho não estava em nenhuma várzea...


Porém, se algum dia ele ler ou ouvir de algum australiano algo como:


“There is one that you played in Rio Grande do Norte... My God, I do not believe it”!


Espero que não se sinta ofendido e nem subestimado, talvez o australiano seja como ele, não conheça nada além fronteiras.


Football Federation Australia

Hyundai A-League


01 Adelaide United FC (Adelaide)
02 Melbourne Victory FC (Melbourne)
03 Queensland Roar FC (Brisbane)
04 Central Coast Mariners FC (Gosford)
05 Sydney FC (Sydney)
06 Wellington Phoenix FC (Wellington – Nova Zelândia)
07 Perth Glory FC (Perth)
08 Newcastle Jets FC (Newcastle)
09 North Queensland Fury FC (Townsville)
10 Gold Coast United FC (Robina)


Abaixo a lista das Federações Estaduais que comandam o futebol semi profissional e amador no país.



Football Federation Victoria (Estado de Vitória)
Capital Football (Capital do Território Australiano)
Football Federation Northern Territory (Território do Norte)
Football Queensland (Estado de Queensland)
Football Federation of South Australia (Sul da Austrália)
Football West (Território do Oeste)
Football Federation Tasmania (Estado da Tasmânia)
Football New South Gales: (Center Group, Northern Group e South Group)

Infelizmente, dado a grande quantidade de divisões e clubes que compõem cada uma das federações acima, não será possível mostrar a pirâmide organizacional de cada uma.

2 comentários:

Anônimo disse...

Kkkkkkkkkkkkk... Ótimo seu comentário! Realmente vc está acima da média dos outros comentaristas. Espero que no Rugbi, o América saia da lama... pq no futebol a merda já dura dois anos. Kkkkkkkkkkkkk

Unknown disse...

PARABENS PELO BLOG. MUITO INFORMATIVO, MUITO BOM!!!