quarta-feira, fevereiro 03, 2010

O bom senso, poderia ter evitado tudo o que aconteceu...

Havia mesmo razão para que a decisão de demitir Paulo Moroni fosse tomada de forma tão açodada?


A pergunta tem uma única razão: qualquer decisão implica que havia escolhas, então, se escolhas havia, por que não esperar?


Por que não aguardar algumas horas, reunir os interessados e levar ao presidente suas razões?


Não foi elegante da parte do grupo que comanda o futebol do América, tornar pública a decisão, sem antes sentar com seu presidente.


Poderiam até mesmo, sabedores que eram das preferências pessoais de José Maria Figueiredo, ter preparado o terreno com mais sabedoria – nada seria mais civilizado e maduro – bastava solicitar uma reunião de emergência com Figueiredo e nela, ponderar sobre a necessidade de mudar o treinador...


Argumentos racionais, que até poderiam estar amparados na tal antipatia da torcida por Moroni e na própria falta de convicção que alguns dirigentes tinham sobre a capacidade de Moroni ser aquilo que esperavam...


Por fim, como um ato de gentileza e de “malandragem”, poderiam ter solicitado a José Maria Figueiredo sua opinião sobre um possível substituto, mas já de antemão, combinados a sacar outros nomes e usá-los para minar o desejo de José Maria de ter Ferdinando Teixeira outra vez no comando da equipe.


Seria com certeza uma reunião dura e difícil, mas teriam eles – o grupo que comanda o futebol do América – dado a José Maria Figueiredo uma saída honrosa e sustentada pelo consenso.


Mas, infelizmente, as reações foram emocionais e emocionadas, e como tal, acabaram abrindo uma ferida que mesmo que seja suturada, custará a cicatrizar.


Se Alex Padang renunciar a renuncia, voltará triunfante e vencedor, mas exporá o presidente do América e o deixará diante de todos numa posição de total fragilidade.


Se José Maria Figueiredo fincar pé e contratar Ferdinando Teixeira, perderá um de seus mais atuantes colaboradores e, certamente, perderá outros apoios...


Em fim, talvez a solução devesse partir do próprio Ferdinando, que poderia vir a público e dizer que agradecia a lembrança, mas que em virtude de seu nome “rachar” o América, declinava o convite...


Mas, seja lá como for uma coisa é certa, faltou maturidade e acima de tudo, faltou conhecimento sobre certas regras não escritas de como evitar um confronto desnecessário.


Em 1881, Frederico Francisco de la Figanière, um diplomata monárquico português da segunda metade do século XIX, publicou seu opúsculo – Quatro regras de diplomacia – hoje démodé, diante das radicais mudanças sofridas pela diplomacia mundial, mas que lido com atenção e trazido para a vida cotidiana, evitaria inúmeros desgastes e transtornos.


01 - Servir a pátria, mais do que aos governos, conhecer profundamente os interesses permanentes da nação e do povo aos quais serve; ter absolutamente claros quais são os grandes princípios de atuação do país a serviço do qual se encontra.


02 - Ter domínio total de cada assunto e, dedicar-se com afinco ao estudo dos assuntos de que esteja encarregado, aprofundar os temas em pesquisas paralelas.


03 - Adotar uma perspectiva histórica e estrutural de cada tema e, situá-lo no contexto próprio, manter independência de julgamento em relação às idéias recebidas e às “verdades reveladas”.


04 - Empregar as armas da crítica ao considerar posições que devam ser adotadas por sua delegação; praticar um ceticismo sadio sobre prós e contras de determinadas posições; analisar as posições “adversárias”, procurando colocá-las igualmente no contexto de quem as defende.


05 - Dar preferência à substância sobre a forma, ao conteúdo sobre a roupagem, aos interesses econômicos concretos sobre disposições jurídico-abstratas.


06 - Afastar ideologias ou interesses político-partidários das considerações relativas à política externa do país.


07 - Antecipar ações e reações em um processo negociador, prever caminhos de conciliação e soluções de compromisso, nunca tentar derrotar completamente ou humilhar a parte adversa.


08 - Ser eficiente na representação, ser conciso e preciso na informação, ser objetivo na negociação.


09 - Valorize a carreira diplomática sem ser carreirista, seja membro da corporação sem ser corporativista, não torne absolutas as regras hierárquicas, que não podem obstaculizar a defesa de posições bem fundamentadas.


10 - Não faça da diplomacia o foco exclusivo de suas atividades intelectuais e profissionais, pratique alguma outra atividade enriquecedora do espírito ou do físico, não coloque a carreira absolutamente à frente de sua família e dos amigos.


Bem, sei que é desnecessário, mas para que o leitor entenda onde quero chegar, é preciso mudar uma ou outra coisa, ajustando para o assunto em questão.

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