quarta-feira, maio 05, 2010

Descanse em paz!


Hoje vou pedir desculpas aos meus leitores, aos meus amigos e aos que por aqui passam sem o compromisso de voltar...


Essas linhas não são sobre futebol e nem tão pouco sobre nenhum assunto de interesse geral...


Hoje escrevo para mim mesmo.


Há quatros anos, conversava com meu filho Alexandre e com um amigo dele, o Fernando, que, aliás, acabei “adotando” com um filho – engraçado, alguns amigos de meu filho, acabaram se tornado, “filhos” também –, falávamos sobre cães...


Num determinado momento, comecei a divagar sobre o Basset Hound, um cão de pequeno, orelhudo e de olhar melancólico...


Depois de alguns momentos afirmei que gostaria muito de ter um, pois acreditava como ainda acredito que nos daríamos bem.


Encerrei a conversa dizendo: “seria bom ter um companheiro melancólico para sentar comigo na varanda nas madrugadas chuvosas”.


Os dois riram e fomos cada um para seu canto.


Dias depois, Fernando me chamou e disse ter um amigo que tinha um Basset Hound para doar, pois a família não tinha tempo para cuidar do animal como devia.


Pensei: “um melancólico e rejeitado, esse é o cara certo”!


Sem pestanejar disse: “vá busca-lo, traga-o para cá, eu o quero”!


Fernando e Alexandre saíram em disparada e momentos depois, chegavam com o “sujeitinho”...


Tinha cerca de uns seis meses, creio eu...


Pequenino, marrom, comprido e cheio de vida e energia, mas...


Não era um Basset Hound!


Era um Dachshund – aquele cãozinho que ficou famoso nos comerciais dos amortecedores COFAP e que as pessoas costumam chamar de “salsicha”!


Olhei para os dois com cara de reprovação e eles, perceberam minha decepção, mas insistiram dizendo:


- “Ele não é bonitinho”?


Era sim!


Pensei com meus botões: “duas rejeições numa vida só é um golpe duro até para um cãozinho”.


E ele ficou.


Seu nome?


Bill...


Isso, já veio “batizado”.


Pois bem, o “carinha” era mesmo um cãozinho.


Cheio de energia conseguia mesmo sem ser grande, preencher todos os espaços.


Usou o terreno da casa onde moro como ninguém, fez desse terreno seu território e nele reinou.


Foi meu “amigo” e meu “confidente”...


Adorava ser acariciado e deitava para ser empurrado com pés pelo chão, mas odiava ser carregado no colo, abraçado e apertado – rosnava e deixava claro que para ele, carinho era uma coisa e “frescura” outra.


Bill não era meu, eu era dele!


Quando levava sua comida, não podia me afastar, caso o fizesse ele imediatamente parava de comer e só voltava ao “prato” quando eu voltasse a me postar a seu lado; fosse em pé ou sentado.


Gostava de dormir com a cabeça recostada nos meus pés e ficava irritado quando ao mexer os pés, o acordava.


Poderia contar muitas coisas sobre esse nobre camarada, poderia falar horas e horas das nossas corridas pelo jardim, dos chutes que ele me obrigava a dar numa bolinha que recebeu de presente do Vítor, filho de Marisa e Cleto.


Poderia tentar descrever a hilária cena por ele protagonizada, quando Alexandre ia treinar boxe na varanda e ele, pegava uma pedrinha e ficava com as patas tentando reproduzir o que Alexandre fazia com saco de areia.


Poderia contar que foi o único cão que vi correr atrás de um limão, antes de mordê-lo e "chupá-lo" sem a menor careta ou repulsa...


Poderia falar de como ele adorava acerola, manga, goiaba, pitanga e qualquer fruta que estivesse ao seu alcance.


Poderia falar de como ele ficava deprimido quando a chuva caia, pois ficava impedido de ir para o portão, ladrar, rosnar e brincar com as crianças da vizinhança, que do lado de fora lhe faziam gracinhas e carinho.


Mas infelizmente, hoje, só posso falar da minha dor, da minha tristeza e da minha amargura.


Meu amigo ficou doente repentinamente, nada físico, nada que pudesse ser detectado ao olhar...


Levei-o ao veterinário e por mais de vinte dias, ficou internado...


Tudo foi feito, ele foi vasculhado de ponta a ponta, de fora para dentro e de dentro para fora, nenhum esforço ou dinheiro foi poupado...


Nada foi possível fazer.


Bill mudou...


Ficou agressivo, feroz e intratável...


Atacava a todos...


Mas uma coisa me chocou...


Quando eu me aproximava dele, ele ficava confuso...


Abanava a cauda, mas agredia, rosnava e tentava morder.


Tentei com proteção especial segurá-lo...


Impossível!


Ao mesmo tempo, que mordia e agredia, abanava a cauda...


O tempo passou e ele foi ficando pior.


Ontem, fui conversar com o Dr. Arnaldo e ficamos um bom tempo fazendo rodeios, sabíamos onde iríamos chegar, mas tentamos fugir.


Bill havia conquistado o coração do veterinário, assim como conquistou o coração de todos na clínica.


No fim, o Dr. Arnaldo me disse: “não há cura, não posso fazer mais nada e me sinto frustrado e impotente”...


Senti emoção em suas palavras...


Depois de algum silencio, ele falou: “a decisão é sua”.


Pedi para ver o Bill e quando cheguei ao canil, os dois rapazes que cuidaram dele estavam calados.


Bill estava deitado acuado num canto...


Seu olhar estava perdido e ele só rosnava.


Chorei, mas não o fiz só; os rapazes do canil tinham lágrimas nos olhos.


Voltei para o consultório e fiz o que tinha que ser feito...


Assinei a ordem para que Bill fosse sacrificado.


Ao sair da clínica, me deparei com um final de dia lindo e me senti só, perdido, confuso e sem rumo...


Caminhei por toda a Avenida Engenheiro Roberto Freire até minha casa na Vila de Ponta Negra...


Ao chegar, o jardim era o mesmo, mas jamais será como antes...


Eu era o mesmo, mas jamais serei igual, pois ontem, assinei a sentença de morte de um amigo e isso nunca mais conseguirei esquecer.


Bill, não era um cão, não para mim!


Bill era um companheiro e um amigo...


Desculpem o desabafo...


Ontem “brinquei” de ser Deus e confesso, não sirvo para tão alto posto!



6 comentários:

MÚSICA F. C. ! A VOZ DAS ARQUIBANCADAS. disse...

A solidariedade do BLOG Música do Gol ao professor Amaral.

O divulgador de Desconto disse...

Chorei ao ler seu texo. Profundo! Assim quebra Fernando. Tenho pressão alta. Textos assim comovem qualquer leitor. Parabéns pelo blog. Cada dia melhor.

Alexandre Erhardt disse...

Chorei mais uma vez... Te amo meu pai!

Cleber Cesar disse...

Fernando,

Venho acompanhando o blog a um tempo, é bem verdade que não o leio todo dia pois me falta tempo, mas sempre que o vejo, umas 3 a 4x na semana, eu vejo tudo o qyue perdi, hoje na tvu conversando com vc sobre como o fla ia ganhar do timinho vc me contou sebre esse post e vim correndo ler, é incrível que a única e infeliz certeza é da morte e concordo com vc, animal de estimação não é apenas um animal mas um amigo e confidente, concordo que esse "poder" de decidir quem vive e quem morre é ingrato, fico compadecido de sua dor e torço para que dias melhores venham.

Cleber Cesar
Estagiário da TVu, torcedor do FLAMENGO, diretor do NatalAção.Com e admirador de seu trabalho

Mário Figueirôa disse...

Meu amigo irmão Fefeu, depois de tudo que foi dito por você só posso fazer uma prece "ao Seu Bill" e pedir a Deus que ele descanse em paz.

Marcelo Régis disse...

Meus sentimentos! Lamento!

Infelizmente ja tive que passar por situação parecida.

Esse texto mostra o grande ser humano que é, um grande abraço!