sábado, setembro 18, 2010

Baseado num relato bem humorado, que ouvi no campus...


Numa ensolarada república do hemisfério sul, os jornais, as rádios e as televisões, abriram seus noticiários com uma horrenda tragédia...


Um edifício de quatro andares havia sido destruído pelo fogo e nele, havia cadáveres.


Consternadas as pessoas lamentavam o acontecido, pois acostumadas com o zelo dos governos com a segurança e o bem estar da população, não conseguiam compreender como algo tão brutal acontecera.


Rápido e eficiente nas investigações, o governo local e as autoridades policiais, foram breves em divulgar o relatório das investigações.


Segundo o relatório, o incêndio havia sido causado por um curto circuito no piso inferior do edifício e as chamas se propagaram com rapidez, devido a caixas plásticas deixadas ali pelos responsáveis pela troca de toda a fiação da rede elétrica do prédio.


A policia identificou a empresa encarregada do serviço e em apenas 12 horas, prendeu seus proprietários e os empregados que trabalhavam no local...


Para alivio geral, todos eram estrangeiros, pois em virtude do grande número de obras realizadas por todo o país, nenhuma empresa nacional havia participado da concorrência.


Em tom patriótico, mas repleto de indignação, o comissário encarregado da investigação escreveu:


“Fico feliz por constatar, que não havia nenhum compatriota a serviço desses irresponsáveis".


"Nossa gente é zelosa, profissional e, além disso, nosso sistema educacional e familiar, não forma pessoas que sejam capazes de utilizar material de segunda e gambiarras para com isso aumentarem seus lucros”.


“Nossos engenheiros e operários, nunca fariam tal coisa e jamais deixariam para trás de forma tão displicente, suas ferramentas”.


“Por outro lado, o que me consola é saber que nossa justiça, não se sujeitará a artifícios legais e nem cederá ao peso da força econômica de quem quer que seja”...


“Esses gananciosos e desleixados, vão para a cadeia”.


Em seguida, o comissário relata quem estava no prédio e os identifica...


No primeiro andar, moravam 10 famílias de sem teto que nosso governo através de sua firme politica social, retirou das ruas e, com recursos do “Programa Teto, Pão e Dignidade”, abrigou, sob os aplausos dos moradores, no prédio hora sinistrado.


Infelizmente, todos morreram.


No segundo andar, viviam retirantes de regiões pobres, que mantidos com recursos do “Programa Familia Feliz”, passaram a fazer parte de uma nova classe média.


Infelizmente, também morreram todos.


No terceiro andar, residiam os heróis da nação – homens e mulheres que desejosos de ver um mundo internacionalizado e sob uma única bandeira, deram o melhor de sua juventude na luta para extirpar do nosso convívio os reacionários, os manipuladores, os avarentos e seus lacaios fardados, que impuseram pela força, um regime, cujo único propósito era impedir que os ventos do leste soprassem o ar puro da liberdade em nossas faces bronzeadas.


Esses, aqui viviam beneficiados pelos justos processos indenizatórios que moveram contra as prisões arbitrárias, os maltratos nas celas e porões imundos do regime facínora e que, lhes garantiu receber a título de reparação uma significativa quantia em dinheiro...


Lamentavelmente, já não estão entre nós.


Porém, no quarto andar, local onde residiam estudantes, professores, trabalhadores autônomos, empresários, comerciantes e etc.


Não houve nenhuma morte.


Entretanto, o comissário ainda teve que responder a um bilhete pessoal do presidente da republica, que o questionava irritado, sobre a morte de gente humilde do povo e de heróis nacionais...


“Senhor comissário, como é possível que famílias humildes, pertencentes a movimentos sociais leais ao governo e, homens e mulheres, ícones de nossa luta contra a tirania, tenham morrido se moravam no primeiro, segundo e terceiro andar, enquanto que todos os moradores do quarto andar escaparam”?


“Como isso se explica”?


O comissário foi lacônico!


“Senhor Presidente, no momento do incêndio, nenhum dos moradores do quarto andar estava em casa: todos estavam ou na escola ou no trabalho”!


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