quinta-feira, outubro 07, 2010

Meus leitores são poucos, mas são o máximo!


Caro Fernando,


Gostaria de saber sua opinião sobre a possível realização da Copa do NE no primeiro semestre, você acha benéfico para o futebol local ou não?


É claro que também, esse assunto de certa forma, passa por outra polêmica que seria o tal do calendário Brasileiro versus calendário mundial. Qual a sua opinião sobre isso? O Brasil deveria se adequar? Ou já está adequado, mas não percebeu?


Inclusive, existe um livro que se chama "A Bola não entra por acaso" escrito por Ferran Soriano que retrata em detalhes as estratégias usadas pelo Barcelona de 2003, que estava em baixa, para ressurgir e ser destaque mundial.


E mostra que para ressurgir o futebol economicamente, antes de uma liga forte, é preciso ter uma administração forte.


Poderia ser até uma sugestão de post.


Obrigado!


Mario de França.


Meu caro Mario,


Antes de qualquer coisa, permita-me parabenizá-lo pelo texto bem escrito e pelo nível de seus questionamentos, além, é claro da sugestão do livro do empresário Ferran Soriano i Compte, atual Presidente da Spanair Linha Aéreas e ex-vice-presidente financeiro do FC Barcelona...


Não li o livro, mas alguns trechos e, confesso, gostei do que li e da forma como Ferran Soriano conduziu o processo de modernização do clube catalão.


Pois bem, prometo a você que vou ler o livro na integra e depois, postarei minha opinião sobre assunto.


Mas vamos a suas questões:


O maior problema que a Liga dos Clubes do Nordeste vai enfrentar, é o prazo estabelecido pela CBF para a realização do Campeonato do Nordeste.


Como é de conhecimento geral, o retorno da competição se deu via acordo judicial e não, pelo convencimento da CBF da importância do campeonato.


Diante da iminente derrota na esfera jurídica, a CBF, a fim de evitar o desembolso de algo em torno de 32 milhões de reais, convocou a Liga e permitiu a realização do Campeonato do Nordeste, mas fixou prazo: três anos!


Isto é, 2010, 2011 e 2012...


Na verdade, não havia dada estipulada, mas como ouvi da boca do próprio Presidente da Liga, Eduardo Rocha, “ou fazíamos agora, ou, corríamos o risco de jamais fazer”.


Portanto, 2010, passou a ser o ano zero da competição em relação ao prazo pré-estabelecido pela CBF.


Terminado esse prazo, a CBF dá por encerrado o acordo e cancela a competição.


Mas, em que aposta Eduardo Rocha, para perenizar o Campeonato do Nordeste?


No seguinte tripé, creio eu...


Solidez econômica, com crescimento constante; presença maciça de público nos estádios e o retorno da atenção da grande mídia (poucas pessoas sabem que no auge da competição, os canais pagos, tiveram uma significativa procura dos jogos do Campeonato do Nordeste, nos Estados de São Paulo e Rio de Janeiro, locais onde residem milhares de nordestinos).


Esses, portanto, são os grandes desafios que Eduardo Rocha e os clubes da Liga, vão enfrentar, até 2012.


Entretanto, parafraseando Drummond, existem pedras no meio do caminho e essas pedras, são as Federações e seus presidentes – talvez, a única exceção confiável, seja a FNF de José Vanildo.


Uma Liga forte trará a médio e longo prazo, o esvaziamento das Federações estaduais e consequentemente, o poder de seus presidentes definhará...


Por que afirmo que José Vanildo é único confiável?


Pela simples razão de ele, ter apoiado desde o inicio a competição em paralelo aos campeonatos estaduais.


Vanildo, apesar de lutar pelo fortalecimento do campeonato estadual, é lúcido o bastante para reconhecer o pouco apelo popular dessa competição e sua consequente fragilidade econômica...


Pergunte a Vanildo em quantas portas ele já bateu a busca de patrocínio e apoio?


Pergunte o que ele ouviu?


Vanildo sabe que o estadual é a sanguessuga que consome os grandes clubes locais, mesmo que ele não diga isso nem para seu travesseiro.


Sei que o texto ficou longo, mas era preciso fazer um preambulo, pois a resposta objetiva seria: o Campeonato do Nordeste é ótimo para os membros da Liga, mas é péssimo para aqueles que estão de fora...


A grande questão é: há como inseri-los na competição?


Se não houver, e o Campeonato do Nordeste vigar, não vejo como equipes as equipes menores e interioranas, vão conseguir sobreviver.


Em relação ao calendário mundial, vou lhe contar uma história que responderá sua pergunta:


Conheci um haitiano que trabalhava com exportação e importação e fiquei curioso com o horário de funcionamento de sua empresa...


Ele e seus funcionários entravam no escritório às cinco horas da manhã e fechavam às portas por volta das quatro horas da tarde...


Enquanto outra equipe seguia o padrão local (equipe que fechava negócio com empresas brasileiras)...


Numa festa, não resisti e perguntei a razão daquele horário, digamos incomum...


Ele riu e disse: “vocês brasileiros tem uma enorme dificuldade de se adaptar a realidade... pensam que são o centro do mundo e isso, é péssimo”!


Diante da minha indignação em relação à frase, ele novamente sorriu e com seu forte sotaque francês disse: “Fernando, se abrir meu escritório as oito ou às nove da manhã, só em relação à Grã Bretanha, terei perdido a manhã inteira ou, você esquece que existe um fuso horário”?


E concluiu: “imagine então, em relação à Alemanha, Polônia, Romênia, Finlândia, Suécia e a URSS (na época ainda era União Soviética)”?


Sua lógica era irrefutável e nada mais pude dizer, mas ele, ainda fez questão de me aporrinhar dizendo: “eu vendo e compro coisas, dependo deles e não eles de mim... cada minuto que perco, dólares se vão e, diferente de vocês no Brasil, não tenho nenhum problema de admitir isso”.


Hoje, ele está aposentado, mora numa bela mansão na costa do mar Adriático e seus filhos (três) seguem tocando o negócio nos mesmos horários...


Acho que essa história mostra qual é minha posição sobre o assunto...


Um forte abraço e muito obrigado por frequentar as páginas do Fernando Amaral FC.



Um comentário:

Mario de França disse...

Grande mestre, obrigado pelas palavras.

Meu raciocínio segue nessa linha também. Para que alguns campeonatos possam vingar e consequêntemente a vida dos clubes, é preciso uma mudança de certa forma profunda tanto administrativa quanto culturalmente dos nossos dirigentes e também dos órgãos reguladores.

Isso ainda vai longe...

Obrigado!