segunda-feira, novembro 10, 2008

Bateu certa nostalgia...

A foto acima me foi enviada por Yasmine Lemos, filha de Rubens Lemos...
Ao ler que essa foi a sua última aparição no Estádio João Machado e que dois meses depois, Rubens “pediria a conta” e se retiraria para nunca mais, me recordei do nosso último encontro, ali mesmo no João Machado.
Rubens estava sentado nas cadeiras, solitário, porém atento ao jogo que se desenrolava no gramado.
Aproximei-me e perguntei se poderia me sentar a seu lado, Rubens me olhou de soslaio e fez um sinal aquiescência.
Sentei, mas mantive um respeitoso silencio até que ele virou-se para mim e me perguntou se eu estava bem.
Respondi que sim e lhe disse estar feliz por vê-lo...
Rubens sorriu e sem muito rodeio, foi curto e direto.
"Ouço e vejo você, gosto do seu estilo e admiro sua postura, e acho que salvo um ou outro desacordo, você terá sucesso como comentarista, mas já vou lhe avisando...
O terreno é minado, cheio armadilhas e não se assuste se usarem o fato de você ser de fora para tentar desqualificar seu trabalho.
Mas, acredito que você está no caminho certo"...
Agradeci, e Rubens voltou a ver o jogo com o mesmo interesse anterior.
Levantei, me despedi e nunca mais o vi...
Essa conversa tem muito tempo, talvez eu agora, tenha colocado uma letra a mais ali, ou uma palavra a menos acolá, mas o conteúdo é exatamente o que descrevo acima.
E porque resolvi escrever sobre isso?
Por que senti um sentimento que considero saudável, senti saudade de um homem que tinha tudo para não ter tido qualquer relação comigo.
Politicamente, Rubens e eu estávamos absolutamente afastados, ele acreditava em coisas que eu jamais consegui crer...
Rubens combateu o regime militar e pagou o duro preço, que só quem já se envolveu num combate dessa envergadura sabe o significado.
Eu, venho de uma família com tradição militar.
Rubens esteve preso, foi humilhado e sofreu duros constrangimentos, físicos, morais e psicológicos, mas Rubens que sabia minha origem, nunca me excluiu ou mesmo disse qualquer coisa que soasse agressiva, ou que gerasse qualquer mal estar...
Nas vezes que nos vimos e falamos Rubens sempre foi cortês, sempre foi amável...
Vez por outra, provocava, mas não havia recalque nem rancor e, no final, tudo sempre acabava com um sorriso, com palavras amenas e um até breve sincero.
É assim que me recordo de Rubens Lemos, e é assim que o guardo na memória.
Rubens era um orador apaixonado, inteligente, e, como um espadachim, esgrimia com as palavras com destreza e conhecimento...
Rubens era um poeta, apaixonado por sua musa (esposa) e por seus filhos...
Rubens era um jornalista que serviu ao jornalismo e nunca dele se serviu...
Talvez seja isso que faça tanta falta à crônica esportiva e talvez seja em Rubens que muitos jovens jornalistas devessem se inspirar.

2 comentários:

Anônimo disse...

Lendo e imaginando a cena.Ele era tão sincero e direto que pagou um preço altissimo.Realidade não é para todos os olhos da alma.
Lindo texto
beijo Nando e obrigada mais uma vez pelo carinho com Rubão.

Yasmine

Zélia Maria Freire disse...

Olá, Você fala de Rubens Lemos,de sua conversa com ele, de sua saudade... Senti necessidade também de dizer alguma coisa. Conheci Rubens pessoalmente e nisso se resumiu a nossa "convicência": uma só vez falei com ele, mas me considero sua "cria", ele me publicou sem ao menos me conhecer, me revelou, me promoveu, me deu espaço com destaque na Tribuna aos domingos quando dela era redator-chefe,me deu toda cobertura, sem comigo falar. Conheci sua história, aprendi a respeitá-lo, mesmo sendo mulher de militar e por conseguinte, em campos opostos, não partilhavamos da mesma trincheira. Tenho saudade sim desse homem, cuja inteligência e capacidade intelectual faz falta numa terra tão carente de gênios e Rubens Lemos era um gênio, sim. Um abraço de zélia Maria Freire