domingo, outubro 08, 2006

A lei e a ordem acima de qualquer coisa...


Alertado por um jovem e inteligente leitor (Aaron Schain, o Leco) que reside em Israel e com quem tenho o prazer de trocar correspondência, fui em busca de informações sobre um fato que apesar do lado triste tem também algo de profundamente positivo. O rebaixamento do Ferecvàrosi Torna Club fundado em 1899 em Budapest, capital da Hungria. Dono de 28 títulos da primeira divisão, 20 copas nacionais e finalista da Copa das Copas edição 74/75, os verdes de Budapest, vivem seu momento mais negro. A Federação Húngara de Futebol (Magyar Labdarúgó Svövetség) não emitiu a licença necessária para o Ferencváros disputar a Primeira Divisão do país e ainda o relegou a Segunda Divisão. Com isso o tradicionalíssimo clube de Budapest que este ano chegou a se classificar para a fase de grupos da UEFA Champions League, amarga a pior e mais humilhante derrota de sua gloriosa história, já que desde o primeiro campeonato húngaro disputado em 1901 por Budapesti TC, Magyar Úszó Egylet, Budapesti SC, MFC e o Ferencváros, o clube jamais conheceu o rebaixamento. A negativa da federação de conceder a licença se deu por motivos financeiros e morais, o clube se encontra afogado em dividas, envolto em escândalos e atividades nebulosas envolvendo seus dirigentes. Mas a punição levou em consideração as ações de seus torcedores que remonta aos anos noventa, quando começaram a promover arruaças a cada derrota do time, quebrando estações de trem, ônibus, bares e tudo o que encontravam pela frente. É hábito dos fãs do Ferencváros, ir aos estádios expressar sentimentos anti-semitas, xingar atletas negros e promover batalhas contra torcedores rivais. Costumam também recepcionar seus próprios jogadores com paus e berros quando os resultados os desagradam. Diante da perda do controle financeiro, do controle moral e do silêncio em relação aos seus seguidores, só restou a federação magiar punir exemplarmente seu mais tradicional clube, que agora disputa a segunda divisão no grupo nordeste sob estreita vigilância das autoridades locais.
O mais incrível nessa história é que a justiça húngara não aceitou nenhum recurso do Ferencváros, a imprensa local não choramingou pelos cantos nem ousou defender com argumentos emotivos e interesseiros a atitude de entidade maior do futebol húngaro. Todos compreenderam que o esporte é fator de educação e congraçamento e que nenhum clube está acima do bem ou do mal por ser tradicional, ou porter a seu lado um grande número de seguidores. Parabéns Hungria por sua federação, por seus juizes, por sua imprensa e por não se curvar a nenhum interesse que não a lei, a ordem e o respeito humano.

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