sexta-feira, outubro 20, 2006

Quando o discurso não condiz com a realidade... Parte 2

Ainda sobre a indignação e o pedido de respeito a seres humanos feitos em artigos e comentários da imprensa esportiva diante da “brincadeira” feita por membros do programa humorístico Pânico, tenho sempre dito que nada é mais perigoso que um comentário esportivo, sempre carregado de emoção, sempre carregado de patriotadas e clubismos, sempre na tentativa de agradar as grandes torcidas, seus poderosos dirigentes ou proteger seus os xodós nacionais ou locais. Mesmo quando criticam, tentam manter uma aura de proteção em torno do “amado”. Edmundo, sempre foi um mau caráter, porém o apelido “animal” tinha a intenção de elevá-lo, nunca de condená-lo. Romário foi e ainda é um péssimo profissional, um péssimo exemplo, mas a alcunha de “bad boy” visava torná-lo um “diferente”, um incompreendido. No passado, Beijoca que fez fama no Bahia era um bandido, mas o chamavam de “raçudo”, chutar goleiros no chão ou dar cotovelada em seus rostos era visto pela imprensa com raça e vontade de vencer. Serginho Chulapa agia como louco destemperado, mas para a imprensa, era “macho” “valente” e agora, faz poucos dias, o Deus supremo, mostrou toda a sua frieza, toda a sua indiferença diante da morte da filha (sempre renegada) e ninguém pediu respeito ao ser humano, que faleceu sem receber sequer uma visita ou telefonema do pai. Ninguém cobrou dele um gesto de humanidade, de reconciliação. A velha e boa hipocrisia campeia nas redações esportivas... Os mesmos que gritam por respeito a Barrichello, são os mesmos que elegem ao final de cada partida, a “baranga” e o “mortinho” do jogo que se arvoram em juízes e afirmam que esse ou aquele jogador, não deveria vestir a camisa deste ou daquele clube. Costumam adjetivar seres humanos na luta por seu pão, de perna de pau, de caneleiro, de bonde, de grosso, de franqueiro e etc. São os mesmos que abortaram tantas carreiras, apenas para agradar arquibancadas passionais e desesperadas por resultados. Não quero me alongar, mas não posso deixar citar o comportamento leviano em relação a árbitros e auxiliares, sempre colocando em dúvida a honradez desses profissionais, sempre inoculando desconfiança, quando não perdem a compostura e berram a plenos pulmões, que o árbitro é “ladrão”, “mal intencionado” e que está “propositalmente prejudicando o nosso clube”... Já tive a oportunidade de ouvir coisas bem “respeitosas” sobre árbitros, inclusive um sonoro, “esse bandeirinha é débil mental”... Portanto, deixemos de lado a crise patriótica medíocre, deixemos de lado o bom mocismo cínico e caiamos na real, a imprensa esportiva é arrogante, pretensiosa, parcial e acima de tudo, nunca prezou pelo respeito a ser humano nenhum, principalmente com os seres humanos, que não lhes cai nas graças.

Fernando Amaral.

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